FORÇAS DE SEGURANÇA

PRF que ensinou técnicas de tortura em curso é suspenso da corporação

Uma investigação interna sugeriu a demissão de Ronaldo Bandeira, mas ministro Ricardo Lewandowski, da Justiça e Segurança Pública, optou por pena mais branda

Ronaldo Bandeira no vídeo em que ensina a fazer câmera de gás com viatura / Cenas do assassinato de Genivaldo em Sergipe.Créditos: Reprodução de Vídeo/Montagem
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Ronaldo Bandeira, o policial rodoviário federal que viralizou ao ensinar técnicas de tortura em cursinho destinado a pessoas que querem ingressar nas forças de segurança, foi suspenso da Polícia Rodoviária Federal (PRF) por 90 dias pelo ministro Ricardo Lewandowski, da Justiça e Segurança Pública.

O vídeo que viralizou era de 2016 e ensinava uma técnica de tortura que acabou sendo usada por PRFs que vitimaram Genivaldo de Jesus dos Santos em maio de 2022 em Sergipe. Na ocasião, o homem foi trancado numa viatura da corporação, dentro da qual os agentes improvisaram uma "câmara de gás", enchendo-a de gás lacrimogênio. O homem morreu por asfixia.

No vídeo em questão, o policial rodoviário Ronaldo Bandeira, que dá aulas em cursos preparatórios de carreiras policiais, fala, em tom de deboche, de uma ocasião em que supostamente usou gás de pimenta contra uma pessoa durante abordagem, dentro da viatura, como ocorreu com Genivaldo.

"Ele estava na parte de trás da viatura e tentou quebrar o vidro, com chute, ficou batendo. O que o policial faz? Abre um pouquinho, pega o spray de pimenta e taca. Foda-se, é bom pra caralho, a pessoa fica mansinha", diz, aos risos, no trecho que vem sendo divulgado nas redes sociais.

E prossegue. "Daqui a pouco escuto ‘vou morrer’, ‘vou morrer’. Aí fiquei com pena, vou abrir. Tortura", dispara, afirmando, ao final, que na verdade não teria feito o que disse. "Sacanagem, fiz isso, não".

Em nota após a repercussão do caso, Ronaldo Bandeira disse à época que deu "um exemplo fictício do que não deve ser feito". Ele não divulgou, no entanto, o trecho da aula em que não recomendaria a conduta.

Após um processo administrativo contra o agente que atua em Santa Catarina, a PRF pediu sua demissão em outubro de 2023 quando encaminhou o caso para o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Mas Lewandowski discordou e decidiu aplicar uma pena mais branda ao policial.

A suspensão de 90 dias foi publicada no Diário Oficial da União na última segunda-feira (22). A punição se deve a "violação do dever de lealdade à PRF". A decisão será comunicada para a Superintendência da PRF em Santa Catarina para que a suspensão entre em vigor.