DIRETAS JÁ

Diretas Já: há 40 anos, o Congresso rejeitava a emenda Dante de Oliveira

A voz de Osmar Santos sempre volta a rebimbar na cabeça: “Diretas quando, São Paulo?”, e uma gigantesca massa humana insiste em responder em um brado retumbante: “Já!”

Comício das Diretas.Créditos: Arquivo Nacional/EBC
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O caso é meio parecido com a pergunta: onde você estava no 11 de setembro de 2001? Pois é, lembro bem onde estava no dia 25 de abril de 1984, quando a emenda Dante de Oliveira, que restabeleceria as eleições diretas para presidente foi, vergonhosamente, rejeitada pelo Congresso Nacional.

Naquela noite fatídica e, ao mesmo tempo, repleta de esperanças, me apresentava com minha banda em uma universidade no interior de São Paulo. Entre as canções, o presidente do Centro Acadêmico vinha e apresentava os resultados. A tensão era visível por todo canto. A votação, extremamente apertada, finalmente chegou ao fim.

Por apenas 22 votos, a emenda das diretas foi rejeitada. Aquele que foi um dos maiores movimentos cívicos da nossa história e, sem dúvidas, o maior da nossa geração, seria malogrado. No dia seguinte, o jornal Folha de S.Paulo, que tentava se redimir de ter apoiado a ditadura militar entrando de chofre na campanha das diretas, publicava o nome de todos os deputados que votaram contra a emenda. A lista incluía os 113 que se ausentaram com medo de que seus nomes fossem parar, como de fato foram, na lama da história.

Os meses que antecederam a votação foram longos, gloriosos e inesquecíveis. Era apenas um garoto de vinte e poucos anos e sentia o perfume de um país jovem, que se renovava em velocidade vertiginosa. Ainda hoje, a cada desgosto, a voz do narrador Osmar Santos volta a rebimbar na cabeça: “Diretas quando, São Paulo?”, e uma gigantesca massa humana insiste em responder em um brado retumbante: “Já!”.

Os artistas e políticos que se revezavam naqueles palanques por várias cidades do Brasil, falando e cantando para milhares, talvez milhões de pessoas, foram o mel do melhor que nos formou em todos os sentidos. Em apenas uma foto de um dos maiores comícios é fácil de se ver Chico Buarque, Ulisses Guimarães, Alceu Valença, Fernando Henrique Cardoso, Lula, Gonzaguinha e muitos outros.

Aquela noite de 25 de abril no Congresso nunca terminou, exatamente como diz o escritor Zuenir Ventura ao se referir ao ano de 1968. Aquele foi apenas o primeiro revés de uma série deles que envolveram a longa, sofrida e demorada reconstrução democrática do Brasil.

Logo a seguir, veio a eleição por meio do Colégio Eleitoral – manobra dos militares para eleger presidentes com um Congresso controlado – do moderado Tancredo Neves. Não era lá muita coisa, mas era o primeiro civil a governar o país após décadas de uma sangrenta ditadura.

Tancredo veio a morrer antes de tomar posse, em outra tragédia nacional coletiva. Em seu lugar assumiu o oligarca e ex-governador do Maranhão, José Sarney, que saltou diretamente da Arena, partido da ditadura, e da Aliança Liberal, para entrar para a história.

O restante do caminho todos conhecem.

Em meio a tantas intempéries, derrotas e gloriosas vitórias, o que nenhum de nós, jovens há mais tempos, jamais poderíamos imaginar é que voltaria à cena política – e por pelo menos quatro anos ao poder – uma nova geração ansiosa por repetir aqueles anos de chumbo.

Voltamos, pois, às ruas, agora com os filhos e netos e com quem mais vier. Desta vez menos assustados pois, como diz outro clichê que se repete por aí, a história só se repete como farsa.