Reportagem de Aguirre Talento, no portal Uol nesta terça-feira (16), revela que a Polícia Federal tem indícios de que o general Mauro Cesar Lourena Cid usou a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) para negociar a venda de joias e relógios que Jair Bolsonaro (PL) ganhou quando presidente da República. Os objetos foram furtados do patrimônio da União e levados aos EUA durante a fuga do ex-presidente em dezembro de 2022, às vésperas da posse de Lula.
O general é pai do tenente coronel Mauro Cid, que voltou para a prisão, e amigo de décadas de Bolsonaro, que o nomeou para comandar da Apex durante seu governo.
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Em troca de mensagens obtidas pela PF, funcionários da Apex ironizaram o balcão de negócios montado por Mauro Lourena Cid para vender os presentes de Bolsonaro na agência, que atua como uma organização de direito privado, mas é bancada por recursos do Sistema S, que se nutre da renúncia fiscal por parte do governo para promover ações sociais.
"O general atendeu plenamente as metas de aumentar as exportações brasileiras de relógios e obras de arte para os Estados Unidos", afirmou Michael Rinelli, funcionário da Apex ouvido pela PF, em conversa com uma colega identificada como Catiane.
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Na troca de mensagens, os dois ainda afirma que o general foi pressionado pela responsável por recursos humanos da Apex, Paola Buono, para devolver o aparelho celular da empresa após ser demitido do cargo, em janeiro de 2023, já no governo Lula.
"Dá para reconhecer até o telefone na foto", diz Rinelli. "Telefone da Apex?", indaga Catiane. "Eu acho que o próprio, aquele que ele não queria devolver, mas a Paola trancou ele na sala e não deixou sair enquanto ele não entregou o telefone", respondeu o funcionário da Agência.
Presentes
No início do mês, reportagem do Jornal da Band revelou que funcionários da Apex em Miami confirmaram que o militar guardava esses “presentes” dados ao ex-presidente em visitas internacionais lá.
“Todo mundo aqui em Miami sabe que o general guardava os presentes do Bolsonaro aqui. Ele até tentava esconder, mas a gente via”, diz uma servidora da Apex na mais famosa cidade da Flórida.
Mauro Cid, o pai, já é investigado pela Polícia Federal por ter tentado vender objetos valiosos concedidos ao então chefe de Estado, que na verdade pertenceriam ao acervo da Presidência da República, em lojas do ramo em território norte-americano. Ele inclusive aparece no reflexo de uma caixa de vidro fotografando uma obra de arte que foi oferecida a leiloeiros nos EUA.
Um outro funcionário, que foi demitido da agência recentemente, entregou à Band uma cópia de um e-mail enviado por ele ao RH da Apex denunciando que o general Mauro Cid seguiu frequentando o escritório do órgão em Miami por dois meses, com autorização da chefia da época e com acesso total às dependências, e que até recebeu o filho lá, o tenente-coronel Mauro Cid, que saiu do local levando malas e objetos.
“Ele veio no escritório de Miami com o Mauro Cid quando não tinha mais cargo nenhum aqui. Deixaram ele entrar e sair por três meses”, disse uma outra servidora ouvida pela emissora, que citou um prazo até maior de acesso ilegal por parte do general.
Por fim, a reportagem informa que o militar da reserva procurou o executivo de investimentos da Apex, Michael Rinelli, para que a entidade pagasse pela impressão de um material golpista que estimulava a tentativa de ruptura institucional que Bolsonaro tentou levar a cabo no Brasil àquela época. Rinelli teria advertido Cid de que sabia que os telefones e computadores usados pelo general na agência poderiam possuir conteúdos comprometedores, o que fez com que o pai do tenente-coronel fosse até lá, em março de 2023, já no governo Lula (PT), e apagasse essas informações.
PF nos EUA
A Polícia Federal enviou uma equipe aos Estados Unidos para avançar na investigação sobre a apropriação indevida que Jair Bolsonaro fez de joias e outros artigos de luxo dados como presente ao Estado brasileiro por governos de outros países em viagens oficiais.
A ideia dos investigadores da PF é obter mais detalhes sobre as transações financeiras supostamente feitas nos EUA, no âmbito do esquema, pelo ex-presidente, seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid e seu pai, o general Mauro Lourena Cid.
Em outubro de 2023, o Departamento de Justiça dos EUA, sediado em Washington, acolheu integralmente um pedido que havia sido feito pela Polícia Federal (PF) brasileira solicitando colaboração policial para apurar os supostos crimes cometidos no país da América do Norte por Jair Bolsonaro no âmbito do caso das joias. Desta forma, o FBI também passou a investigar caso.
A partir desta autorização do Departamento de Justiça dos EUA, o FBI vem investigando os crimes de lavagem de dinheiro, ocultação de valores, apropriação indevida e falso testemunho supostamente cometidos por Jair Bolsonaro e pessoas próximas ao ex-presidente, como o tenente-coronel Mauro Cid e seu pai, o general Mauro Lourena Cid — apontado como um dos integrantes do esquema que negociou a venda de artigos de luxo nos EUA.
Segundo investigações da PF, Jair Bolsonaro se apropriou ilegalmente de presentes dados por autoridades estrangeiras ao Estado brasileiro e vendeu parte deles nos EUA. Entre os artigos de luxo alvos da investigação, estão estatuetas, relógios e jóias.
O pedido de colaboração feito pela PF à Justiça dos EUA prevê quebras de sigilos bancários dos investigados; diligências em joalherias na Florida, Nova York e Pensilvânia; levantamentos de dados sobre imóveis e depoimentos de testemunhas e de suspeitos de envolvimento no esquema.
Operação Lucas:12
A escândalo do esquema de venda de artigos de luxo nos EUA veio à tona a partir da Operação Lucas 12:2, realizada pela Polícia Federal em agosto deste ano, com mandados expedidos pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF. Os alvos, todos ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, são suspeitos de terem se apossado de bens valiosíssimos do Estado brasileiro, dados por autoridades estrangeiras, que estariam sendo vendidos no exterior para que o dinheiro fosse entregue ao ex-ocupante do Palácio do Planalto.
Os federais o acusam explicitamente nos autos de fazer parte e ser o principal beneficiário de uma organização criminosa que desviava objetos valiosíssimos da Presidência da República, que eram contrabandeados para o exterior, para então serem vendidos e os valores repassados em espécie ao político de extrema direita habituado a um discurso duro anticorrupção e moralista. A ida dele para os EUA, em 30 de dezembro de 2022, ainda no cargo, teria sido para utilizar o avião presidencial no esquema, apontam os documentos do inquérito.