NÃO É POSSÍVEL

‘Abin paralela’ produzia relatórios pelo WhatsApp e espionou Rodrigo Maia

Estrutura tosca montada no governo de Jair Bolsonaro, que tinha como suposto ‘comandante’ seu filho Carlos, usava métodos amadores, que agora são descobertos pela PF

Créditos: Presidência da República
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O escândalo da 'Abin paralela' é, de fato, um esquema criminoso e que colocou o Estado a serviço de um grupelho de extremistas que pretendia implodir a democracia brasileira. Mas, para além disso, a ação ilegal de constituir uma espécie de agência de espionagem extraoficial para favorecer pessoalmente Jair Bolsonaro foi, sobretudo, uma verdadeira aula de tosquice, amadorismo e falta de inteligência.

As investigações levadas a cabo pela Polícia Federal no âmbito do inquérito que investiga a cooptação da estrutura da Agência Brasileira de Inteligência pelo governo anterior descobriram que a tal 'Abin paralela' produzia relatórios e os encaminhava pelo WhatsApp, uma forma precária e totalmente amadora, que poderia facilmente ser descoberta ou vazar. Para piorar tudo, os extremistas ainda tentavam apagar os vestígios dos crimes cometidos, o que decerto não teve êxito, visto que os agentes descobriram o teor das mensagens.

Num dos casos de espionagem ilegal trazidos a público, que é de março de 2020, está um episódio de arapongagem contra o então presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que foi seguidos e monitorado num jantar oferecido por Antônio Rueda, à época presidente do União Brasil, em Brasília, do qual participou ainda a então deputada Joice Hasselmann.

Quem dá a orientação, via WhatsApp, é o diretor-geral da Abin naquele período, o hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), investigado no Supremo por uma série de crimes relacionados a esse esquema. Ela fala com um agente do órgão, seu subordinado.

“Jantar no Rueda ontem entre o Próprio, Joice e Rod Maia (…) Chegou com um cidadão com pasta de documento na mão…ficou 29min e saiu”, diz a mensagem, ordenando que o servidor identificasse a placa do carro utilizado no jantar.

A descoberta, que veio horas depois, mostrava que o automóvel pertence à Polícia Federal e que estava à disposição do então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, que depois se tornaria ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro. Naquele período, tanto Rodrigo Maia quanto Joice Hasselmann eram vistos publicamente como inimigos do então presidente da República.

Para piorar tudo nas práticas rocambolescas do pessoal da ‘Abin paralela’, a tal troca de mensagens envolvendo a espionagem desses parlamentares foi impressa na sede da agência em Brasília, com o login de um policial federal identificado como Felipe Arlotta, que já vinha sendo investigado pela suspeita de fazer parte do esquema. A Controladoria-Geral da União (CGU) conseguiu recuperar os arquivos e eles agora constam no inquérito que tramita no STF.