EM BRASÍLIA

Após reunião com Lula, Macron afirma que 8 de janeiro foi montado e executado por “inimigos da democracia”

Os presidentes de Brasil e França e concordaram sobre defesa do Estado Democrático de Direito e sobre a Venezuela, mas podem discordar em relação ao acordo entre Mercosul e União Europeia

Macron, Lula e Janja em 28 de março de 2024 no Palácio do Planalto.Créditos: Ricardo Stuckert
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Na tarde desta quinta-feira (28), o presidente Lula (PT) se reuniu no Palácio do Planalto, em Brasília, com Emmanuel Macron, o presidente da França. Após a reunião, ambos falaram à imprensa sobre os temas abordados que envolvem, entre outros, os ataques à democracia brasileira perpetrados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seus aliados e apoiadores.

A declaração de Macron contou com tradução simultânea feita pelo governo brasileiro. O mandatário francês se disse honrado pela forma como foi recebido no Brasil e criticou as tentativas bolsonaristas de anular os resultados eleitorais, sobretudo a arruaça de 8 de janeiro de 2023.

“Toda a minha comitiva e eu, pessoalmente, nos sentimos imensamente honrados de estarmos hoje aqui ao seu lado. Aqui, neste lugar, nesta Praça dos Três Poderes, que foi atacada, praticamente destruída e bastante maltratada pelos inimigos da democracia”, declarou Macron.

Ele ainda elogiou a habilidade política de Lula que foi crucial para que a intentona golpista fosse derrotada e os prédios dos três poderes rapidamente reconstruídos.

“A maneira que Lula conseguiu reconstruir os equilíbrios da democracia e levar a cabo esse debate internacional significa muitíssimo para nós”, emendou.

Logo após a reunião com Lula, Macron conversou com Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o presidente do Senado, além de outros parlamentares. Durante a visita ao Congresso Nacional, voltou a elogiar a nossa democracia.

“A democracia brasileira é muito viva. O que aconteceu nos últimos anos, tudo o que tem sido feito, tem sido para nós uma fonte de inspiração vendo a capacidade de resistência de vocês”, afirmou.

A declaração de Macron vem num contexto em que grupos neonazistas em particular, e de extrema direita de forma geral, têm crescido na Europa. A principal pauta que fortalece o crescimento desses grupos tende a culpar a imigração oriunda do Sul Global pelas dificuldades econômicas que o continente europeu vive nos últimos anos. Além disso, como mandatário de um dos mais importantes países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Macron considera o presidente Vladimir Putin, da Rússia, como uma figura de extrema direita e o conflito na Ucrânia, com ameaças nucleares por parte dos russos, é uma preocupação real do seu governo.

Macron está no poder na França desde 2017 e atualmente exerce o seu segundo mandato presidencial. Ele é um desafeto declarado de Jair Bolsonaro (PL), uma vez que foi destratado pelo ex-presidente brasileiro e por alguns de seus ministros, como Paulo Guedes, que deu declarações ofendendo a sua esposa.

Concordâncias

Ainda no bojo do debate sobre o fortalecimento das democracias, Macron disse compartilhar das preocupações do presidente Lula em relação às eleições na Venezuela. O processo eleitoral está marcado para o próximo dia 28 de julho.

Na última semana, a oposição de direita venezuelana fez uma denúncia à imprensa internacional de que a Plataforma Unitária Democrática, sua coalisão que pretende derrotar Nicolás Maduro no pleito, está tendo dificuldades para registrar a candidatura de Corina Yoris, que fora indicada pela ex-deputada oposicionista Maria Corina Machado, a liderança do setor.

Manuel Rosales, um antigo adversário político de Hugo Chávez, acabou registrado de última hora como o candidato da Pud no último dia 25, o prazo final para o registro de candidaturas. Ao todo, 12 opositores disputarão a eleição.

“É grave que a candidata não possa ser candidata (…) Não tem explicação jurídica ou política para você proibir um adversário de ser candidato. Aqui é proibido proibir, a não ser que tenha decisão judicial. O Brasil vai tentar assistir essa eleição. Não quero nada melhor em pior: quero que as eleições sejam feitas igual a gente faz no Brasil. Quem quiser, participa. Eu disse ao Maduro que é importante para reconhecer a normalidade do processo”, declarou Lula nos dias subsequentes.

Macron concordou. Avaliou a posição de Lula em relação ao país vizinho como “ótima”.

Discordância

Algo que Macron teria discordância não diretamente com Lula, mas com a política externa brasileira, é o Acordo entre Mercosul e União Europeia. O mandatário afirma que o texto já tem duas décadas e precisa ser atualizado, sobretudo por conta da questão ambiental.

O francês afirma que é preciso reescrever o acordo pensando na bioeconomia e em processos de produção que não apenas respeitem o meio ambiente, mas apontem para uma transição ecológica, com vistas a combater a questão climática.

Macron frisou que não são apenas Brasil e França quem faz a discussão em cima do acordo. Apenas respondeu o que pensa a respeito da questão e afirmou que os termos serão debatidos entre todos os envolvidos.

O presidente francês está em viagem pela América do Sul, onde passou por Caiena, capital da Guiana Francesa, antes de vir para o Brasil. No território ultramarino de seu país, que faz fronteira com o Amapá, tratou de projetos que buscam desenvolver a região e combater o garimpo ilegal de ouro.

Após dois dias na Guiana Francesa, fez visitas a Belém do Pará, ao Rio de Janeiro e a São Paulo, antes de viajar para Brasília.