CRIME NA AMAZÔNIA

O que Macron foi fazer na Guiana Francesa antes da visita ao Brasil

Preocupado com o crescimento do garimpo ilegal de ouro e a entrada de facções criminosas brasileiras no território ultramarino da França, mandatário passou dois dias em Caiena, a capital

Emmanuel Macron, presidente da França.Créditos: CC-BY-4.0: © European Union 2022 – Source: EP
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O presidente da França, Emmanuel Macron, não veio para a América do Sul simplesmente para conhecer a sede da próxima Cop30, fazer fotos com o presidente Lula (PT) ou condecorar o cacique Raoni Metuktire. É claro que as relações entre Brasil e França são importantes para ambos os países, mas as reais preocupações do mandatário europeu envolvem o garimpo ilegal de ouro e a entrada de facções criminosas brasileiras na Guiana Francesa, um território ultramarino do seu país.

Antes de ir para Belém, capital do Pará, Macron passou dois dias em Caiena, a capital da Guiana Francesa. Se a visita passou batido na imprensa nacional, lá fora ela foi noticiada. As informações a seguir constam em apuração da RFI, a Rádio França Internacional.

Durante as duas jornadas, Macron discutiu pobreza, crime organizado e as reivindicações de maior autonomia da região, um assunto considerado delicado entre Caiena e Paris. De acordo com a matéria, Macron viria ao Brasil logo em seguida para discutir, entre outras coisas, a questão da mineração ilegal nas regiões de fronteira entre a Guiana Francesa e o Amapá.

A primeira visita de Macron ao território ultramarino francês em plena América do Sul ocorreu em outubro de 2017, apenas alguns meses após sua eleição, Ele foi recebido com protestos derivados da falta de investimento na região empobrecida. À época, estava sob pressão para cumprir promessas do governo anterior que previam um pacote de emergência de um bilhão de euros para socorrer a população. Também estava na pauta o investimento nas forças de segurança locais, uma vez que a Guiana Francesa tem índices de violência incompatíveis com o restante da França. A taxa de homicídios, por exemplo, era 10 vezes maior do que a porção principal do país, localizado no coração da Europa.

"Não sou o Papai Noel", disse Macron na ocasião em relação ao clamor pela construção de hospitais. É claro que a declaração não foi bem recebida e a resposta veio na eleição seguinte, em 2022, quando 60% dos guianeses deram seus votos a Marine Le Pen, de extrema direita.

Em 2023, a Guiana Francesa ainda luta para combater a pobreza, o alto desemprego e o subfinanciamento da educação, da saúde pública e da infraestrutura local. O ano também bateu recordes de criminalidade no território com 59 homicídios e 250 tentativas de homicídio para uma população de pouco mais de 300 mil habitantes.

A metade dessa população dessa população tem menos de 25 anos e em 2021 o Instituto Nacional de Estatística e Estudos Econômicos da França mostrou que 37% dos guianenses entre 21 e 29 anos procuram trabalho e estudo no exterior devido à falta de oportunidades. Nesse contexto, um em cada três jovens entre 15 e 29 anos, residentes no território, não trabalha e nem estudam.

Garimpo ilegal de ouro

A Guiana Francesa tem a maior parte de suas cidades e áreas povoadas no litoral. A maior porção do seu território, no entanto, não está conectada a essas áreas, sobretudo os lugares próximos da fronteira com o Brasil que são de muito difícil acesso em meio à Floresta Amazônica.

A mineração ilegal de ouro, ou garimpo, é uma preocupação real de Macron. Tanto que ele trouxe, “na bagagem”, os ministros Gérald Darmanin, do Interior, e Marie Guévenoux, da França Ultramarina.

Uma das atividades do trio de autoridades francesas em Caiena foi participar de uma homenagem ao major das forças especiais francesas, Arnaud Blanc, que morreu um ano atrás durante uma operação contra o garimpo em Maripasoula, uma região no sul da Guiana Francesa, na fronteira com o Brasil.

A imprensa local chegou a dizer que Macron também viajaria para a cidade de Camopi, um ponto quente do garimpo de ouro, mas não conseguimos verificar esta informação. Além disso, ele ainda assistiu a uma aula magna da academia de Ópera de Paris, se reuniu com a associação de prefeitos guianeses para debater as reivindicações de autonomia e fez visitas a projetos espaciais franceses.

Visita a Brasília

A RFI ainda noticia que na noite desta quarta-feira (27) Macron chega a Brasília, onde ficará por três dias. “Brasil e França estão prontos para assinar um acordo de cooperação internacional que permitirá que policiais de ambos os países realizem operações conjuntas destinadas a combater a mineração ilegal na Guiana Francesa”, diz trecho da reportagem. O mandatário francês passou o dia no Rio de Janeiro, onde anunciou ao lado de Lula um acordo de cooperação para a construção de um submarino nuclear.

Segundo informações divulgadas até mesmo na imprensa brasileira, ele estaria buscando se reunir com representantes dos ministérios da Fazenda, Meio Ambiental e Relações Internacionais para debater o tema.

Entramos em contato com as assessorias de imprensa dos ministérios para confirmar se haverá mesmo tais reuniões e debates. No entanto, ainda não obtivemos resposta.

Em todo caso, a RFI noticiou que ambos os países “expressaram preocupação com o aumento das atividades de mineração clandestina e crimes ambientais perto da fronteira entre o estado brasileiro do Amapá e a Guiana Francesa”. E que o “acordo permitirá que os países realizem operações conjuntas, treinem policiais e compartilhem resultados obtidos a partir da análise da composição do ouro ilegal extraído em ambos os países”.

Faz sentido, pois conforme uma série de reportagens publicadas ao longo dos últimos anos na imprensa nacional, facções criminosas brasileiras estão na Amazônia e operam esquemas milionários de garimpo ilegal.