“LAVE A BOCA”

VÍDEO - Júlia Zanatta usa sessão sobre Marielle para defender Bolsonaro e arma bate-boca com Talíria Petrone

CCJ analisava a prisão de Chiquinho Brazão, apontando como o mandante do crime; Deputada do fuzil usou o momento para fazer proselitismo e atacou família da vereadora assassinada

Júlia Zanatta ostenta fuzil e camiseta com slogan fascista nas redes sociais.Créditos: Reprodução/Redes Sociais Julia Zanatta
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Durante sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados que analisava nesta terça-feira (26) a prisão de Chiquinho Brazão, apontado como mandante do assassinato de Marielle Franco, a deputada Júlia Zanatta (PL-SC) aproveitou sua fala para fazer proselitismo de extrema direita, defendeu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e armou um verdadeiro bate-boca com Talíria Petrone (Psol-RJ), que se ofendeu após a bolsonarista atacar a própria família de Marielle.

O gancho utilizado foi o fato de que a família da vereadora, bem como seus aliados, não terem apoiado a federalização das investigações sobre o crime durante o governo Bolsonaro. Acontece que, à época, havia uma forte suspeita da esquerda de que o então presidente estaria aparelhando a Polícia Federal. Por outro lado, o delegado Rivaldo Barbosa, então chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro e atualmente apontado como um dos mentores do crime, tinha ganho a confiança de familiares e aliados de Marielle após mentir que a resolução do caso seria uma "questão de honra" para ele. Eis a explicação da recusa da família em relação a federalização, mas a deputada não parece preocupada em compreender esse contexto.

“Presidente, só para lembrar aqui que quem não quis a federalização desse caso antes, para que ele fosse resolvido antes, foram justamente alguns que estão aqui dizendo e clamando por justiça. E quem luta contra a impunidade, seja de miliciano ou de traficante, é sempre o nosso lado. O PL está sempre do lado do endurecimento e o outro lado está sempre do lado do desencarceramento. E chega de falar de Bolsonaro. Acho que devem aqui um pedido de desculpas”, disse Zanatta.

A declaração revoltou a bancada do Psol presente à sessão e foi possível escutar, no áudio da gravação, as reclamações. A deputada do fuzil, então, se exaltou, e subiu o tom na frase seguinte.

“Vocês devem um pedido de desculpas. Vocês deveriam deveriam ter vergonha na cara e pedir desculpas para o Bolsonaro”, esbravejou.

Talíria Petrone então retrucou: “Vergonha na cara deveria ter você, sua fascista!”

Zanatta então respondeu que Talíria é quem seria uma fascista. “A senhora me respeite! Chega de acusações infundadas. Vocês vivem desumanizando o adversário de vocês. E chega de usar o corpo da Marielle para vocês fazerem política em cima dela”, gritou a bolsonarista.

Foi aí que o tempo fechou.

“Lava a sua boca para falar de Marielle”, contestou Talíria, revoltada com a desfaçatez da deputada catarinense.

“Vem aqui lavar a minha boca”, prosseguiu Zanatta com dedo em riste, antes que os ânimos se acalmassem.

Assista ao momento

Pedido de vista

Após pedido de vista, a CCJ a votação sobre a prisão do deputado Chiquinho Brazão. O pedido foi feito pelos deputados Gilson Marques (Novo-SC), Fausto Pinato (Progressistas-SP) e Roberto Duarte (Republicanos-AC). De acordo com o regimento da casa parlamentar, a CCJ tem duas sessões para voltar com a votação, que deve ficar para depois da Páscoa devido ao feriado da Semana Santa.

Os parlamentares que pediram vista criticaram o tempo de análise do relatório. "Eu fico pasmo com a pressa, o afogadilho, de decidir algo tão importante", disse Marques, no que a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) rebateu: “São seis anos esperando por justiça e vocês passando pano para miliciano”. Já o deputado alegou que não teve tempo para ler o documento.

Durante a sessão, Chiquinho Brazão fez sua defesa por videochamada, direto do presídio federal de Brasília, e alegou que, apesar das “discordâncias de pontos de vista”, tinha “boa relação” com Marielle.

“Uma simples discordância de pontos de vista, onde eu estava aprovando, lutando para aprovar, um projeto de lei que regulamentava pelo período de um ano os condomínios irregulares, para que pudesse a cidade do RJ ter mais organização”, disse.

Segundo a Constituição, a prisão de um parlamentar deve ser analisada pela Casa Legislativa da qual faz parte. Na votação, deve-se considerar se a ordem de prisão segue os requisitos constitucionais de flagrante e inafiançabilidade.