Em entrevista nesta sexta-feira (22) ao podcast do deputado federal Coronel Ulysses (PL-AC) durante visita ao Acre, Jair Bolsonaro (PL) não comentou sobre os áudios vazados do tenente coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens na Presidência;
No entanto, o ex-presidente teceu um breve comentário ao falar sobre "liberdade" em que parece prever o próprio futuro iminente. Ao destilar o que considera os valores que defende, Bolsonaro falou sobre uma possível prisão.
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"Nós temos um bem, que eu, particularmente, considero mais importante que a liberdade, porque um homem preso está no inferno aqui na terra. E a liberdade, alguns achavam que não ia acabar nunca, que é como sol, algo pétreo. Não é", falou.
Em seguida, ele cita temas dos quais é alvo de investigação, como a vacinação contra a Covid e a fraude nas urnas eletrônicas, motivo alegado para planejar um golpe de Estado, segundo inquérito da Polícia Federal.
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"Se você discutir vacina, pegar um estudo de fora do país, se discutir isso aqui sobre vacina vão fechar teu podcast, te dar uma multa, talvez até te prender. Estamos quase perdida a nossa liberdade. Se discutir urna eletrônica, você tem que falar que ela é 100% legal. Porque a Venezuela adotou o voto impresso em dezembro? Porque o americano [EUA] exigiu deles eleições limpas", disse Bolsonaro, em nova teoria da conspiração.
Ao lado do senador Márcio Bittar (União-AC), que foi o relator do orçamento em 2021, Bolsonaro não foi indagado e não tocou no vazamento dos áudios de Mauro Cid.
O tenente-coronel será ouvido nesta sexta-feira (22) por um juiz auxiliar de Alexandre de Moraes para se explicar sobre o que classificou como "narrativa pronta" nas investigações sobre o golpe.
Durante a madrugada, quando os áudios já haviam se propagavam e era celebrados pelas redes bolsonaristas, o ex-Secom Fabio Wajngarten, que atua como advogado de Bolsonaro, comemorou o conteúdo dos áudios.
Wajngarten afirma que foi "surpreendido e ainda não tenho opinião formada", mas, em seguida, comemora e diz que o caso fortalece o pedido da defesa, de acesso à íntegra dos depoimentos de Cid.
"Ao longo da semana a própria imprensa já vinha retratando uma possível discrepância entre o que o Cid falava versus o que estava no papel. Isso é gravíssimo. O levantamento do sigilo das gravações dos depoimentos dele, na íntegra, poderá dirimir potenciais dúvidas e dará a transparência necessária para a elucidação de parte dos fatos", disse.
Em seguida, Wajangarten diz que "a defesa do Presidente tomará as devidas providências ao longo do dia".
Poucos minutos antes, o deputado Gustavo Gayer (PL-GO), que se aproximou do clã Bolsonaro ao incitar a horda de apoiadores com fake news e teorias da conspiração, deu o tom para os apoiadores do ex-presidente atuarem nas redes.
Gayer diz que Cid "tem sido praticamente torturado psicologicamente" para compor o que classificam como narrativa de "Moraes, PF e imprensa".
"Os áudios vazados do Mauro Cid destroem completamente todas as alegações feitas por Alexandre de Moraes, PF e imprensa.
Cid tem sido praticamente torturado psicologicamente para mentir e acusar Bolsonaro de alguma coisa para que possam prendê-lo".
Narrativa
Os áudios vazados de Mauro Cid coincidem com a estratégia de Jair Bolsonaro, que desde que o acordo de delação foi firmado tem dito a interlocutores que o ex-ajudante sofreu uma pressão emocional para falar sobre as investigações.
Na última semana, Bolsonaro voltou a dizer a pessoas próximas que Cid só aceitou a fazer a delação porque estava sob forte pressão após ficar preso por mais de 100 dias - impedido, inclusive, de se encontrar com a família.
Nos áudios vazados pela Veja, Cid repete o discurso de Bolsonaro, de que já há uma "narrativa pronta" feita pela PF.
"Eles estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu? É isso que eles queriam. E todas as vezes eles falavam: ‘Ó, mas a sua colaboração. Ó, a sua colaboração está muito boa’. Ele (o delegado) até falou: ‘Vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por nove negócios de vacina, nove tentativas de falsificação de vacina. Vai ser indiciado por associação criminosa e mais um termo lá’. Ele falou assim: ‘Só essa brincadeira são trinta anos para você’", diz Cid, em um dos áudios.
“Eu vou dizer o que eu senti: já estão com a narrativa pronta deles, é só fechar, e eles querem o máximo possível de gente para confirmar a narrativa deles. É isso que eles querem”, emendou.
Em seguida, também alinhado à narrativa bolsonarista, o ex-ajudante de ordens da Presidência diz que "o Alexandre de Moraes é a lei".
"Ele prende, ele solta, quando ele quiser, como ele quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação”, diz.
O militar ainda faz suspense sobre um suposto encontro entre Moraes e Bolsonaro. “Eu falei daquele encontro do Alexandre de Moraes com o presidente, eles ficaram desconcertados, desconcertados. Eu falei: ‘Quer que eu fale?’".
Mais adiante, ele volta a falar que Moraes "já tem a sentença dele pronta".
“O Alexandre de Moraes já tem a sentença dele pronta, acho que essa é que é a grande verdade. Ele já tem a sentença dele pronta. Só tá esperando passar um tempo. O momento que ele achar conveniente, denuncia todo mundo, o PGR acata, aceita e ele prende todo mundo".
Cid também reclama de sua vida ter sido completamente destruída por Jair Bolsonaro, a quem serviu de maneira tão fiel como ajudante de ordens por todos esses anos.
“Quem mais se fodeu fui eu, quem mais perdeu coisa fui eu. Pega todo mundo aí. Ninguém perdeu carreira, ninguém perdeu vida financeira como eu perdi. Todo mundo já era quatro estrelas, já tinha atingido o topo, né? O presidente teve pix de milhões, ficou milionário. Está todo mundo aí. Pra quem é político é até bom essas porras porque depois ele consegue se eleger fácil. O único que teve pai, filha e esposa envolvidos; o único que perdeu a carreira; o único que perdeu a vida financeira, toda fudida, fui eu”, lamentou.