‘BUCHA DE CANHÃO’

ÁUDIO VAZADO - Mauro Cid lamenta ter tido a vida destruída por Bolsonaro

“Quem mais se ferrou fui eu. Ninguém perdeu carreira, ninguém perdeu vida financeira como eu perdi. Todo mundo já era quatro estrelas, estava no topo. O presidente teve pix de milhões, ficou milionário”, desabafou o ex-ajudante de ordens

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.Créditos: Lula Marques/Agência Brasil
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Em áudio obtido pela Revista Veja e divulgado na noite desta quinta-feira (21), o tenente-coronel Mauro Cid desabafa com um conhecido a respeito dos últimos anos de sua vida, em que serviu como ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e acabou preso por conta de uma série de crimes do mandatário que, pela sua função, o ajudou a cometer. Entre esses crimes está a tentativa de golpe de Estado que impediria a posse de Lula (PT) e manteria o capitão reformado no poder.

Foi graças à delação premiada de Mauro Cid, que aparentemente acaba de descobrir como funciona uma investigação e um interrogatório policial, que a Polícia Federal foi fechando o cerco ao próprio Bolsonaro, a seus assessores e comandantes militares que planejavam solapar a democracia brasileira.

No áudio, Cid reclama da abordagem dos policiais e diz que foi induzido a mentir para validar uma narrativa que já estaria posta. No entanto, o desabafo só mostra o quando o ex-ajudante de ordens não conhecia absolutamente nada a respeito de uma investigação policial. Os investigadores fizeram uma devassa nos seus celulares e foram descobrindo, aos poucos, cada detalhe da trama. Durante os seis depoimentos que prestou após fechar o acordo de delação premiada, Cid foi confrontado com as descobertas prévias. Mas como um bom bolsonarista, o tenente-coronel se sente uma verdadeira vítima.

“Eles queriam que eu falasse coisas que eu não sei, que não aconteceram. E não adianta, você pode falar o que você quiser. Eu vi isso ontem. Podia falar o que quisesse, eles não aceitavam e discutiam. Discutiam que a minha versão não era verdadeira, que não podia ter sido assim, que eu tava mentindo. Já estão com a narrativa pronta, não queriam saber a verdade. Só queriam que eu confirmasse a narrativa deles”, afirmou no início do áudio vazado.

A seguir, Cid demonstra mais um pouco do seu desconhecimento acerca da atividade policial. É de conhecimento público que quando as autoridades vão fazer um acordo com um criminoso, seja ele quem for, é comum que a barganha se dê a partir das possíveis penas que o depoente irá cumprir caso seja condenado. Mesmo após muitos anos no Exército, onde provavelmente teve aulas sobre como extrair informações em interrogatórios, Cid simplesmente insiste em fazer uma narrativa persecutória.

“Ele até falou: ‘vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por nove negócios de vacina. Nove tentativas de falsificação de vacina, vai ser indiciado por associação criminosa e mais um termo lá’. Daí ele falou assim: ‘só essa brincadeira já são 30 anos pra você’. Senti que já estão com a narrativa pronta e querem o máximo possível de gente para confirmar”, afirma.

Em outro trecho, repete teorias conspiratórias bolsonaristas de que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, seria uma espécie de “monarca” extraoficial do país.

“O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende e ele solta a hora que quiser. Com ou sem Ministério Público, com ou sem acusação. Quando eu falei naquele encontro do Alexandre de Moraes com o presidente, eles ficaram desconcertados. Eu falei: ‘ó, quer que eu fale? Não vou botar no papel senão eu vou me foder’. Mas o presidente encontrou secretamente o Alexandre de Moraes na casa do Ciro Nogueira. E aí? O Alexandre de Moraes já tem a sentença pronta. Só está esperando passar o tempo, o momento que ele achar conveniente denunciar todo mundo, o PGR acata, aceita e ele prende todo mundo”, declarou.

A seguir Mauro Cid finalmente tem um lampejo de lucidez e reclama, com todas as letras, sobre a sua vida ter sido completamente destruída por Jair Bolsonaro, a quem serviu de maneira tão fiel como ajudante de ordens por todos esses anos.

“Quem mais se fodeu fui eu, quem mais perdeu coisa fui eu. Pega todo mundo aí. Ninguém perdeu carreira, ninguém perdeu vida financeira como eu perdi. Todo mundo já era quatro estrelas, já tinha atingido o topo, né? O presidente teve pix de milhões, ficou milionário. Está todo mundo aí. Pra quem é político é até bom essas porras porque depois ele consegue se eleger fácil. O único que teve pai, filha e esposa envolvidos; o único que perdeu a carreira; o único que perdeu a vida financeira, toda fudida, fui eu”, lamentou.

Por fim, Mauro Cid concluiu dando a entender que não pretende ser a ‘bucha de canhão’ dos preguiçosos golpistas. E que, se necessário for, entregará todo mundo.

“E se eu não colaborar vou pegar 30 ou 40 anos porque estou em vacina, em joia. Então vai entrar todo mundo em tudo. E se somar as penas vai dar mais de 100 anos pra todo mundo. E arrisco dizer que os ‘bagrinhos estão pegando 17 anos, os mais altos vão pegar quanto?”, questionou.

Logo após a divulgação dos áudios, e dada a péssima repercussão para todos os lados, Mauro Cid teria dito a aliados – conforme publicado por Igor Gadelha no Metrópoles – que o áudio é verdadeiro e que se trata e um desabafo feito a amigo próximo. “Foi um desabafo com um amigo. Alguém que teve a vida destruída e está desabando com um amigo”, teria dito. O ex-ajudante de ordens aparentemente não tem muita sorte com suas amizades.

Escute o áudio vazado a seguir