O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) na Presidência, seja ouvido às 13h desta sexta-feira (22) pelo juiz instrutor do caso para esclarecer o conteúdo dos áudios vazados à revista Veja, em que critica a Polícia Federal, a própria corte e diz haver uma "narrativa pronta" nas investigações.
O tenente-coronel também deve prestar um novo depoimento à PF, que avalia a possibilidade de anular o acordo de delação premiada. Os depoimentos já prestados por Cid e as provas apresentadas, no entanto, continuariam valendo.
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A PF quer que Cid explique o "jogo duplo" apontado nos áudios vazados pela revista por volta das 19h desta quinta-feira (21).
Segundo a reportagem, os áudios de Cid são de "uma conversa com um amigo", em que o militar "desabafou por quase uma hora".
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A narrativa apresentada pela revista sobre os áudios vazados coincide com a posição do advogado de Cid, que disse à Camila Bomfim, da Globo, que se trata de um "desabafo" em um momento de angústia "pessoal, familiar e profissional".
“Mauro César Babosa Cid em nenhum momento coloca em xeque a independência, funcionalidade e honestidade da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República ou do Supremo Tribunal Federal na condução dos inquéritos em que é investigado e colaborador, aliás, seus defensores não subscrevem o conteúdo de seus áudios”, afirmou Bittencourt, que articulou o acordo de delação, à jornalista da Globo.
Já os investigadores da PF acreditam que os áudios vazados seria um recado de Cid a Jair Bolsonaro e aliados - o que é considerado um "tiro no pé" pelos agentes.
Narrativa
Os áudios vazados de Mauro Cid coincidem com a estratégia de Jair Bolsonaro, que desde que o acordo de delação foi firmado tem dito a interlocutores que o ex-ajudante sofreu uma pressão emocional para falar sobre as investigações.
Na última semana, Bolsonaro voltou a dizer a pessoas próximas que Cid só aceitou a fazer a delação porque estava sob forte pressão após ficar preso por mais de 100 dias - impedido, inclusive, de se encontrar com a família.
Nos áudios vazados pela Veja, Cid repete o discurso de Bolsonaro, de que já há uma "narrativa pronta" feita pela PF.
"Eles estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu? É isso que eles queriam. E todas as vezes eles falavam: ‘Ó, mas a sua colaboração. Ó, a sua colaboração está muito boa’. Ele (o delegado) até falou: ‘Vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por nove negócios de vacina, nove tentativas de falsificação de vacina. Vai ser indiciado por associação criminosa e mais um termo lá’. Ele falou assim: ‘Só essa brincadeira são trinta anos para você’", diz Cid, em um dos áudios.
“Eu vou dizer o que eu senti: já estão com a narrativa pronta deles, é só fechar, e eles querem o máximo possível de gente para confirmar a narrativa deles. É isso que eles querem”, emendou.
Em seguida, também alinhado à narrativa bolsonarista, o ex-ajudante de ordens da Presidência diz que "o Alexandre de Moraes é a lei".
"Ele prende, ele solta, quando ele quiser, como ele quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação”, diz.
O militar ainda faz suspense sobre um suposto encontro entre Moraes e Bolsonaro. “Eu falei daquele encontro do Alexandre de Moraes com o presidente, eles ficaram desconcertados, desconcertados. Eu falei: ‘Quer que eu fale?’".
Mais adiante, ele volta a falar que Moraes "já tem a sentença dele pronta".
“O Alexandre de Moraes já tem a sentença dele pronta, acho que essa é que é a grande verdade. Ele já tem a sentença dele pronta. Só tá esperando passar um tempo. O momento que ele achar conveniente, denuncia todo mundo, o PGR acata, aceita e ele prende todo mundo".
Cid também reclama de sua vida ter sido completamente destruída por Jair Bolsonaro, a quem serviu de maneira tão fiel como ajudante de ordens por todos esses anos.
“Quem mais se fodeu fui eu, quem mais perdeu coisa fui eu. Pega todo mundo aí. Ninguém perdeu carreira, ninguém perdeu vida financeira como eu perdi. Todo mundo já era quatro estrelas, já tinha atingido o topo, né? O presidente teve pix de milhões, ficou milionário. Está todo mundo aí. Pra quem é político é até bom essas porras porque depois ele consegue se eleger fácil. O único que teve pai, filha e esposa envolvidos; o único que perdeu a carreira; o único que perdeu a vida financeira, toda fudida, fui eu”, lamentou.