No último depoimento à Polícia Federal (PF), o tenente-coronel Mauro Cid deu detalhes de uma negociação implicando o general Walter Braga Netto e o PL, partido de Valdemar da Costa Neto que abriga Jair Bolsonaro (PL), no financiamento de uma viagem dos chamados kids pretos, membros das Forças Especiais do Exército, para Brasília durante a articulação golpista.
Segundo Malu Gaspar, no jornal O Globo, na oitiva, convocada após depoimentos do general Freire Gomes e do brigadeiro Carlos Almeida Baptista Jr., Cid deu detalhes sobre a ajuda de R$ 100 mil solicitada pelo major Rafael Martins de Oliveira para bancar a ida de apoiadores de Bolsonaro a Brasília.
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O major foi preso durante a megaoperação da PF contra a organização criminosa golpista, em 8 de fevereiro, fazia parte do "núcleo de apoio às ações golpistas" e seria o responsável pela interlocução entre Bolsonaro e as Forças Especiais do Exército.
Mensagens captadas pela PF no aparelho celular de Mauro Cid, o major pede dinheiro para levar pessoas a Brasília para dar apoio às manifestações.
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Cid diz que vai providenciar dinheiro e pergunta se R$ 100 mil seriam suficientes. A resposta então chega em mensagem com o título “Copa 2022” com uma estimativa que ele diz ser das “necessidades essenciais”.
No depoimento, Cid diz que recorreu a Braga Netto para levantar os R$ 100 mil. Vice na chapa de Bolsonaro e atual secretário nacional de Relações Institucionais do partido, o general da reserva mandou Cid procurar a legenda para pedir o dinheiro.
Segundo a PF, Braga Netto usaria a sala que ocupa no PL como uma espécie de quartel-general do golpe.
Caso a PF confirme que foi o PL quem financiou a ida dos "kids pretos", o partido de Costa Neto por ter o registro cassado junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em fevereiro, após a operação da PF, o senador Humberto Costa (PT-PE) acionou a Procuradoria-Geral da República (PGR) para que a legenda seja investigada e seu registro seja cassado por envolvimento com atividade criminosa.
"Ao final, se comprovados os ilícitos e atos criminosos eventualmente praticados pelo Partido Liberal, consubstanciando-se em financiamento de atividades ilegais e criminosas com o objetivo de promover a invalidação da eleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a prática criminosa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, seja proposta, perante o Tribunal Superior Eleitoral, a competente Ação de Cassação de Registro Eleitoral do Partido Liberal, nos exatos termos da Lei n° 9096/95.", solicita o senador na representação à PGR.
Os chamados "kids pretos" teriam orientado bolsonaristas sobre toda a ação criminosa que aconteceu em 8 de janeiro, com a depredação do Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal (STF).
Promoção
Após o novo depoimento, em que falou por cerca de nove horas, Mauro Cid terá sua promoção para coronel vetada pelo Exército, que analisa a ascensão da turma de 2000 na hierarquia militar.
Segundo Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo, o Exército deve divulgar as informações nos próximos dias.
No entanto, Cid deve continuar na Força. O próprio acordo de delação firmado com a PF, além da aproximação do depoimento de Freire Gomes, é visto como uma estratégia para que o tenente-coronel não seja expulso do Exército.
Com a delação, Cid espera ter uma pena máxima de dois anos de prisão, o que o colocaria no "Tribunal de Honra" do Exército, antes de cair no Superior Tribunal Militar (STM).
O tribunal, formado por três militares mais antigos que aquele que está sendo julgado, encaminha o resultado do julgamento para avaliação do STM, que tende a ratificar as decisões.
Caso a pena seja superior a dois anos, Cid responderá por um “processo de indignidade e incompatibilidade para o oficialato”, diretamente na Corte superior militar, que tende a expulsá-lo da corporação.