No depoimento de cerca de 9 horas à Polícia Federal (PF), que terminou na madrugada desta terça-feira (12), o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, confirmou que Jair Bolsonaro (PL) participou de, ao menos, 5 reuniões golpistas.
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Entre as reuniões relatadas por Cid, está a que foi citada pelo ex-comandante do Exército, general Marco Antonio Freire Gomes.
À PF, Freire Gomes disse que Bolsonaro apresentou a minuta golpista no encontro que teve com ele e os então comandantes da Força Aérea Brasileira (FAB), Carlos de Almeida Baptista Júnior, e da Marinha, Almir Garnier.
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Cid disse à PF que a reunião aconteceu, mas que não esteve na sala com Bolsonaro e a cúpula militar. A informação é tida como crucial para confirmar que Bolsonaro comandou o golpe, que só não teria ocorrido por oposição de Freire Gomes e Baptista Junior - Garnier teria colocado as tropas à disposição.
Em consonância com o ex-comandante do Exército, o tenente-coronel afirmou que mantinha Freire Gomes atualizado sobre o que classificou como "pressão" que Bolsonaro sofria para colocar o golpe em marcha.
Segundo Cid, o general estava preocupado com a possibilidade de golpe e queria saber quem estava inflamando Bolsonaro e as reações do ex-presidente.
Em mensagem captada pela PF em seu celular, Cid atualiza Freire Gomes sobre a situação no Alvorada, onde Bolsonaro instalou o QG do golpe, e chega a citar alterações no "decreto".
“Boa tarde, general. Só para atualizar o senhor que vem acontecendo e o seguinte. O presidente tem recebido várias pressões para tomar uma medida mais, mais pesada onde ele vai, obviamente, utilizando as forças, né (...) A pressão que ele tem recebido é muito grande. (...) Ele enxugou o decreto, né? Aqueles considerandos que o senhor viu e enxugou o decreto, fez um decreto muito mais resumido", afirmou Cid ao ex-comandante do Exército.
O decreto, segundo a PF, seria a minuta golpista, que previa a instauração de Estado de Sítio. Freire Gomes declarou que na reunião com os comandantes, o documento entregue a Bolsonaro pelo ex-assessor, Filipe Martins, previa as prisões de Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Bolsonaro, no entanto, teria deixado apenas Moraes na lista dos que iriam para a cadeia com o golpe.
Outros encontros
Em seu depoimento, Cid ainda detalhou outras quatro reuniões feitas por Bolsonaro para discutir o plano para um golpe de Estado.
Além da reunião com os ministros em 5 de julho de 2022, que foi gravada pelo próprio tenente-coronel, Bolsonaro se reuniu com Filipe Martins, com o comandante dos chamados Kids Pretos - as Forças Especiais do Exército - e com o major que coordenava os atos e o acampamento golpista em frente ao Quartel General do Exército em Brasília.
Com Filipe Martins, Bolsonaro teria recebido a proposta do decreto de golpe de estado, que teria sido elaborado com o auxílio do advogado Amauri Feres Saad, que também esteve no encontro.
Já com o coronel do Exército Bernardo Romão Correia Neto, então assistente do Comando Militar do Sul, o assunto foi a participação dos "kids pretos". A reunião aconteceu no dia 28 de dezembro de 2022 com a presença de oficiais com formação nas forças especiais e assistentes de generais supostamente favoráveis ao golpe.
Antes disso, em 12 de dezembro, Bolsonaro recebeu o major Rafael Martins, que posteriorimente chegou a pedir R$ 100 mil a Cid para levar manifestantes a Brasília.
Cid, no entanto, teria dito que as "minutas golpistas" seriam "cenários" que Bolsonaro estudava colocar em prática caso fossem confirmadas as fake news sobre fraude nas eleições.
No entanto, também em depoimento à PF, o ex-comandante da Aeronáutica, Baptista Junior, afirmou que alertou Bolsonaro de que não houvera fraude nas eleições vencidas por Lula, baseando-se em relatório feito pelos próprios militares.
Com informações do jornal O Globo