COMBAT ARMOR

TCU aponta corrupção e propina em contratos do governo Bolsonaro com empresa de apoiador de Trump

Combat Armor, de Daniel Beck, que articulou invasão do Capitólio, fraudou licitações para blindagem de viaturas da Polícia Rodoviária Federal e teria pagado propina ao ex-diretor, Silvinei Vasques, segundo a investigação.

Daniel Beck, da Combat Armor, e Silvinei Vasques em ato com Jair Bolsonaro no Rio em 2020.Créditos: Carolina Antunes/PR
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Investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) revela que a paixão de Jair Bolsonaro (PL) por Donald Trump se converteu em um esquema milionário de corrupção para um dos principais apoiadores do ex-presidente ultradireitistas dos EUA.

Em varredura nos contratos da Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal e Ministério da Defesa, o TCU encontrou fraudes, indícios de corrupção, superfaturamento e propinas em editais para blindagem de viaturas que foram vencidas pela empresa Combat Armor.

Com origem nos EUA, onde seria uma "empresa de papel" segundo o TCU, a Combat Armor pertence a Daniel Beck, um dos articuladores da invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2022, após a derrota de Trump para Biden.

Próximo a Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Beck abriu uma filial da Combat Armor no Brasil após a vitória de Jair Bolsonaro (PL), em 2018. Nos quatro anos seguintes, a empresa faturou cerca de R$ 39 milhões em contratos com o governo brasileiro.

Eduardo Bolsonaro com Mauricio Junot (à esquerda) em 2019.

A maior parte do faturamento foi na blindagem de viaturas da PRF, então comandada por Silvinei Vasques, preso por tentar impedir que eleitores do Nordeste votassem no segundo turno em cidades onde Lula teve maioria dos votos na primeira etapa das eleições de 2022.

Reportagem exclusiva da Fórum revela que Vasques foi alçado à vice-presidência da Combat Armor do Brasil em janeiro de 2023, um mês após se aposentar da PRF, aos 47 anos de idade.

Agora, o TCU aponta que há indícios de que Vasques tenha recebido propina na série de contratos firmados por ele com a Combat Armor quando esteve no comando da PRF.

No relatório da investigação, o tribunal aponta “possível favorecimento à Combat Armor pelo senhor Silvinei Vasques em contratações feitas pelo órgão policial, considerando que: as unidades da PRF que mais destinaram recursos à Combat Armor coincidem com as regiões onde Vasques exerceu influência significativa”.

“Estas incluem a Superintendência do RJ, onde ele foi superintendente até abril de 2021, o Departamento de Polícia Rodoviária Federal em Brasília, durante seu mandato como Diretor Geral, e a Superintendência da PRF em Santa Catarina, onde também ocupou a posição de superintendente. Os montantes pagos por estas unidades à Combat Armor totalizaram valores expressivos, sugerindo uma relação entre os pagamentos e as posições ocupadas por Vasques”, diz a investigação, revelada nesta sexta-feira (1º) pela revista Veja.

Segundo o TCU, houve “condescendência de agentes públicos” durante o governo Bolsonaro e a empresa teria sido orientada a forjar documentos para fraudar concorrências.

“No tocante à habilitação da Combat Armor nesses certames, verificou-se que a empresa foi beneficiada por uma possível leniência de agentes públicos da PRF, que aceitaram atestados de capacidade técnica inidôneos, cujas fragilidades eram de fácil percepção”, diz o TCU.

Chacota

Em depoimento à CPMI dos atos golpistas, em junho de 2023, Silvinei Vasques fez chacota ao ser indagado sobre sua contratação pela Combat Armor assim que deixou o governo e se aposentou.

"Eu estou desde o dia que me aposentei procurando emprego. Acho que meu curriculo aqui foi apresentado, estive nessa empresa, estive em mais de 10 empresas. Estou à procura de emprego, estou à disposição. Ainda não consegui, pois as que quiseram me dar emprego não atenderam as minhas expectativas. Mas, assim que tiver uma oportunidade vou voltar a trabalhar", disse ele, arrancando risos de bolsonaristas na comissão.

Além de Vasques, a Combat Armor nomeou ainda como diretor, também em janeiro, o Brigadeiro do Ar Antonio Ramirez Lorenzo, que passou para a reserva em março de 2019. Em março de 2022, Lorenzo foi nomeado por Bolsonaro como secretário-executivo do Ministério da Justiça e passou a ser o número 2 da pasta comandada então por Anderson Torres, membro da organização criminosa que tentou o golpe de Estado.

Em sua breve passagem pela diretoria da empresa, Vasquez chegou a se mudar para Indaiatuba e deu expediente como vice-presidente da Combat Armor.

Segundo informações internas obtidas pela Fórum, o projeto de Beck era fazer a transição, colocando Vasquez na presidência da empresa - o então presidente, Mauricio Junot voltaria a morar nos EUA.

Porém, diante da divulgação pela Fórum das informações de que Vasquez dava expediente na empresa em meio às investigações sobre os atos golpistas, o ex-diretor da PRF deixou a Combat Armor.

À época, a Fórum entrou em contato com a Combat Armor por e-mail, confirmando por telefone, mas não obteve posicionamento da empresa. O espaço segue aberto para manifestação.