Imagens de armas, dos ditadores Adolf Hitler e Benito Mussolini, uma pasta exclusiva de fotos com o clã Bolsonaro, análises de horóscopo e áudios com xingamentos. Tudo isso foi encontrado pela Polícia Federal e pela CPMI dos Atos Golpistas no celular de Silvinei Vasques, o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Jair Bolsonaro (PL). A revelação foi feita nesta segunda-feira (16) pela coluna da Malu Gaspar, no jornal O Globo.
Silvinei Vasques está preso preventivamente desde agosto, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Ele é suspeito de participação em atos golpistas por conta de episódios protagonizados pela PRF sob seu comando.
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Um desses episódios foram as centenas de blitze realizadas no dia do segundo turno em áreas onde o voto em Lula (PT) tinha sido mais significativo no primeiro turno. Um documento interno da PRF aponta que a corporação escalou mais agentes de folga para trabalhar nas blitze. Os efetivos foram bem maiores principalmente em regiões do Norte e Nordeste, em redutos eleitorais de Lula.
Na ocasião houve reforço de efetivo com hora extra paga pela PRF nos seguintes estados em que Lula venceu no primeiro turno: Amazonas, Pará, Amapá, Maranhão, Tocantins, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Bahia e Minas Gerais. A PRF usou como justificativa uma análise técnica apontando que 65% dos crimes eleitorais no primeiro turno aconteceram nessas duas regiões.
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O ex-chefe da PRF é um dos investigados pela CPMI dos Atos Golpistas justamente por conta desse episódio. Nesse contexto, entregou seu celular aos parlamentares que encaminharam o aparelho à PF para análise.
Nos arquivos, a PF encontrou uma série de áudios recebidos por Silvinei com xingamentos de colegas da PRF que criticavam os bloqueios de rodovia realizados por apoiadores de Jair Bolsonaro logo após o segundo turno das eleições. O episódio ficou marcado pelas críticas à ação da PRF, apontada como complacente com os atos.
Também foram encontradas fotos dos ditadores Adolf Hitler e Benito Mussolini no aparelho. No caso do alemão que encabeçou o regime nazista, a foto o mostra ao lado de Joseph Goebbles, o ministro de propaganda daquele governo. No caso do fascista italiano, a imagem encontrada é a de sua morte, quando o próprio povo italiano o pendurou, ao contrário, em um posto de gasolina.
Ainda ficou registrada uma foto em que Silvinei aparece segurando uma bazuca e outra com um escudo da PRF formado com balas. Essas e outras imagens correlacionadas mostrariam o apreço do ex-chefe da PRF em relação a cultura armamentista.
Por fim, entre as principais revelações está uma pasta exclusivamente criada para salvar as fotos de Silvinei ao lado de membros do clã Bolsonaro, sobretudo Jair e Michelle, durante o 7 de setembro de 2022, quando o então presidente transformou a celebração do Bicentenário da Independência em um verdadeiro comício eleitoral.
De acordo com as investigações, o celular de Silvinei Vasques teria uma função dupla. Além de ser seu aparelho pessoal, também servia para gerenciar uma série de canais de comunicação de apoiadores do ex-presidente. No entanto, conforme decisão do ministro Nunes Marques, do STF, as novas revelações não poderão ser utilizadas no relatório de 900 páginas da CPMI dos Atos Golpistas elaborado pela relatora da Comissão, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA).
Um dado curioso é que não foram encontradas mensagens enviadas por Silvinei no aparelho. Para explicar a situação, a CPMI aposta que o ex-chefe da PRF teria o costume de apagar os dados referentes dos seus arquivos. A motivação seria justamente a prevenção a uma possível quebra de sigilo telemático. Mas são apenas suposições dos parlamentares.
A defesa de Silvinei afirma que não tem conhecimento dos conteúdos relevados e aponta que fotos dos ditadores fascistas podem ser resultado do download automático de conteúdos enviados a ele pelo WhatsApp. “Ele nunca manifestou nenhum tipo de preconceito e discriminação. O que os advogados perceberam é que ele tem amigos brancos, negros e pardos”, diz a defesa em nota.