SUPREMA CORTE

Gustavo Gayer vai enfrentar Flávio Dino no STF após apagar fake de Lula com suástica

Deputado federal é alvo de processos por racismo e ataques a Felipe Neto em tentativas de lacração nas redes sociais.

Flávio Dino também é relator de denúncia por racismo contra Gayer.Créditos: Reprodução/Câmara dos Deputados
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O recém-empossado ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), passou a ser relator de ação judicial contra o deputado federal bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO), que foi notificado, na quinta-feira (22) para remoção imediata de uma postagem da fotomontagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com uma suástica.

Após a posse como membro da Corte, nesta quinta-feira, Dino recebeu os processos dos quais será relator, sorteados para reorganização com seu ingresso. Um deles é a interpelação apresentada pelo youtuber e influenciador Felipe Neto, em março de 2023, por uma publicação realizada pelo parlamentar no X, antigo Twitter.

Na ocasião, Neto compartilhou em seu perfil que faria parte do Fórum de Regulamentação de Redes Sociais, organizado pela Unesco, pelo combate contra o extremismo, a divulgação de informações falsas e "a qualquer forma de desinformação social".

Gayer criticou o youtuber ao comparar sua atuação nas redes sociais com a de Marcos Willians Herbas Camacho, conhecido como Marcola, um dos líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), contra o crime organizado. O deputado também usou o casal Nardoni, que assassinou a filha, como referência na publicação.

 "Próximo passo será colocar o Marcola na luta contra as drogas e os Nardonis no Ministério da Família", escreveu Gayer. 

Reprodução/X

Na ação, Felipe Neto solicita que o bolsonarista esclareça seu conhecimento a respeito dos crimes cometidos por Marcola, Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá e explicar se "acredita que ser comparado a perigosos criminosos condenados pelo Poder Judiciário é ofensivo".

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo, pediu por um posicionamento da Procuradoria-Geral da República (PGR) acerca da ação, ao qual a então vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, considerou não haver crimes na declaração de Gayer.

Para Lindôra, a comparação entre os criminosos e Felipe Neto foi "deveras infeliz", mas ocorreu em "tom de ironia", o que seria parte de um "comportamento típico das funções parlamentares". Ela ainda indicou que "o parlamentar fez uma crítica em tom claramente político".

ENTENDAQuem é Gustavo Gayer, que comparou QI de africanos aos de macacos

Em um dos mais de 300 casos herdados de Rosa Weber, Flávio Dino também é relator de caso de racismo de Gayer, que foi denunciado pela PGR pelo crime de racismo e injúria por conta de declarações feitas a um podcast neste ano.  

No conteúdo divulgado no Youtube, Gayer disse que os africanos não têm QI e chegou a comparar os residentes do continente a macacos.

“Quase tudo lá é ditadura. Democracia não prospera na África. Por quê? Para você ter uma democracia, você tem que ter o mínimo de capacidade cognitiva de entender o bom e o ruim e o certo e o errado. Então, tentaram fazer democracia na África várias vezes. Mas o que acontece? Um ditador toma conta de tudo e o povo ‘êêê’. O Brasil está desse jeito, o Lula chegou na Presidência e o povo ‘êê, picanha e cerveja”, afirmou Gayer, no podcast.

Ele foi denunciado pela Advocacia-Geral da União (AGU) e pela PGR, que encaminhou o caso para o STF. O processo foi sorteado para Rosa Weber, e, agora, ficará sob o controle do novo ministro Flávio Dino.

"A manifestação é claramente discriminatória, pois diferencia a capacidade cognitiva de seres humanos considerando a origem africana, continente em que sabidamente a maioria da população é negra, concluindo que não teriam aptidão para compreender regime democrático", ressaltou a AGU.

Montagem de Lula com suástica

O deputado federal apagou uma publicação que havia feito no X, antigo Twitter, que retratava o presidente Lula com um fuzil, suásticas e faixa do Hamas, na tentativa de associar o mandatário ao nazismo e terrorismo. A remoção ocorreu na noite de quinta-feira, após notificação extrajudicial apresentada pela AGU ao X.

Na quarta-feira (21), Gayer usou a rede social para publicar a fotomontagem de Lula. "ATENÇÃO Lula já mandou trocar a sua foto de presidente em todos os ministérios e estatais", escreveu o deputado na legenda da imagem.

Reprodução/X

A publicação responde a declaração de Lula, feita no último domingo (18), em que associou o massacre de palestinos promovido pelo Estado de Israel à matança de judeus deflagrada pelo regime nazista de Adolf Hitler, com o intuito de denunciar o genocídio que vem sendo observado na Faixa de Gaza.

Na notificação extrajudicial enviada ao X, a AGU argumenta que houve clara intenção de Gustavo Gayer em associar o presidente da República ao terrorismo, ao nazismo e a posições antissemitas.

"A conduta do deputado configura difamação, além de também apresentar indícios da ocorrência de calúnia, crimes previstos, respectivamente, nos artigos 139 e 138 do Código Penal. A publicação feita pelo usuário ora denunciado é manifestamente criminosa, consistindo em discurso odioso e que, portanto, não pode permanecer sendo veiculado na plataforma, sendo imperiosa a sua remoção”, diz o órgão. 

Na ação, a AGU exigiu a remoção imediata do que avalia como "conteúdo criminoso" e confirmou a pretensão de "conferir ciência inequívoca" à plataforma sobre a "violação flagrante" da legislação praticada por Gayer, com o objetivo de que os metadados da publicação sejam preservados, sinalizando que tomará medidas para que o parlamentar seja responsabilizado na esfera criminal.