Diante da estratégia costurada pela defesa de Jair Bolsonaro (PL) para que os membros da organização criminosa fiquem em silêncio na série de depoimentos marcados para esta quinta-feira (22), a Polícia Federal (PF) deve usar diálogos interceptados nas investigações para incriminar o grupo na tentativa de golpe de Estado.
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Além de Bolsonaro, a PF vai ouvir o núcleo duro da facção criminosa, que inclui os generais Augusto Heleno, Walter Braga Netto, Paulo Sérgio Nogueira, Mário Fernandes, além do almirante Almir Garnier, ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), e Tercio Arnaud, assessor do ex-presidente responsável pelo Gabinete do Ódio.
Três dos quatro presos na operação - Marcelo Câmara, Rafael Martins e Bernardo Romão Corrêa - também prestarão depoimento de forma simultânea, às 14h30, juntamente com Bolsonaro e outros 10 investigados.
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A oitiva simultânea se dá justamente para evitar que os depoentes combinem narrativas. E, por esse motivo, a orientação é que fiquem em silêncio.
No entanto, os investigadores pretendem deparar os membros da facção com diálogos em grupos de aplicativos que mostram que o golpe chegou a ser desencadeado, mas foi frustrado diante da ação do governo Lula no 8 de Janeiro, que decidiu não convocar Estado de Sítio e, assim, não entregar o país à tutela dos militares.
"Se continuarmos"
Entre os diálogos que serão usados, está uma troca de mensagem entre Braga Netto e Sérgio Rocha Cordeiro, assessor de Bolsonaro que ficou preso até 8 de setembro passado.
Na conversa, em 27 de dezembro de 2022, Cordeiro pede a Braga Neto para enviar o curriulo da esposa e recebe como resposta: "Cordeiro, se continuarmos, poderia enviar para a Sec. Geral. Fora isso vai ser foda".
Para a PF, o "se continuarmos" dito por Braga Netto comprova que havia um plano de golpe de Estado em curso, já que o diálogo aconteceu 3 dias antes do fim do governo Bolsonaro.
Outro trecho que mostra que o golpe estava em execução é de uma conversa entre o tenente coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e o coronel Romão Corrêa Netto, que fazia a articulação do golpe com os chamados "kids pretos", as Forças Especiais do Exército.
Segundo a investigação, a conversa aconteceu no em novembro de 2022, quando a facção teria tido ciência que não houve fraude nas eleições - mas seguiu com o plano golpista mesmo assim.
“Sou eu que vou levar McDonald’s pra você na cadeia”, escreveu Corrêa Netto para Cid.
“Estou no STF (Supremo Tribunal Federal)”, respondeu Cid, que estava com Bolsonaro em visita à corte, dois dias após o segundo turno, quando Lula já estava eleito. “Eu hein!”, respondeu Corrêa.
O coronel chegou a ser enviado por Bolsonaro para os EUA em "missão" até 2025, com as despesas pagas pelo Exército. Ele retornou no dia 11 de fevereiro, após ter a prisão decretada por Alexandre de Moraes, do STF.
As apurações revelaram que o militar intermediou uma reunião para selecionar oficiais com habilidades militares específicas, em novembro de 2022; redigiu uma carta de pressão destinada ao então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes; além de ter agido como homem de confiança em "missões" fora do Palácio da Alvorada.
As investigações também identificaram que Bernardo Neto atuava como braço direito de Mauro Cid e executava tarefas que o então ajudante de ordens da presidência da República não conseguiria desempenhar, por causa de sua posição no governo.
Além de Bolsonaro e dos quatro presos, prestarão depoimento simultâneo nesta quinta:
- Valdemar Costa Neto, presidente do PL (Partido Liberal);
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
- Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional;
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
- Mário Fernandes, ex-chefe substituto da Secretaria-Geral da Presidência da República;
- Walter Braga Netto, ex-ministro-chefe da Casa Civil;
- Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
- Coronel Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros;
- Tercio Arnauld, ex-assessor de Jair Bolsonaro; e
- Cleverson Ney Magalhães, coronel do Exército.