Decano do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes concedeu uma entrevista-bomba ao site Brazil Journal, epecializado em Economia e Mercado, em que revela que a aliança entre a Lava Jato e o grupo golpista ligado a Jair Bolsonaro (PL) aconteceu bem antes das eleições de 2018.
Segundo Mendes, o elo entre o lavajatismo e o bolsonarismo teria sido gestado no pós-golpe contra Dilma Rousseff (PT), em 2016, quando o então deputado Onyx Lorenzoni (PL-RS), do Projeto de Lei das chamadas 10 medidas contra a Corrupção, criado e propagado pelo procurador Deltan Dallagnol (Novo-PR), quando comandava a força-tarefa em Curitiba.
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O político gaúcho foi o primeiro ministro da Casa Civil de Bolsonaro e permaneceu no governo, como ministro do Trabalho e Previdência, até março de 2022, quando se exonerou para disputar o governo do Rio Grande do Sul - sendo derrotado por Eduardo Leite (PSDB).
"O Onyx [que foi ministro do Governo Bolsonaro] já era de alguma forma um técnico, vamos chamar assim, do time bolsonarista na campanha que se desenhava. Portanto, havia uma certa conexão [entre a Lava Jato e o grupo político de Bolsonaro, antes da eleição de 2018]. O Congresso rejeitou isso. Veja, Curitiba não tinha que nos inspirar em nada. Era o cachorro abanando o rabo. Ficamos reféns um pouco disso", conta o ministro do Supremo.
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Mendes então relata que Teori Zavascki [relator da Lava Jato no STF, morto em acidente aéreo em 2017], foi "emparedado pelo próprio Sergio Moro" e conta que o ex-juiz recebeu o convite para ser ministro da Justiça de Bolsonaro quando ainda estava à frente da 13ª Vara Federal de Curitiba, em meio às eleições de 2018.
À época, Moro abriu sigilo sobre a delação de Antonio Palloci, com informações nunca comprovadas, mas que serviram de munição para Bolsonaro vencer Fernando Haddad, do PT, no segundo turno.
De acordo com Gilmar Mendes, foi Paulo Guedes, futuro do ministro da Economia de Bolsonaro, quem fez o convite a Moro, "entre o primeiro e o segundo turnos da eleição de 2018". A história foi contada a ele pelo próprio Guedes, em conversa onde haviam outras testemunhas - "acho que o José Levi, que foi AGU [Advocacia-Geral da União]".
"Paulo Guedes revelou que teria pedido licença a Bolsonaro para ir a Curitiba convidar Sérgio Moro para ser o ministro da Justiça. Depois de uma discussão, Bolsonaro o autorizou e isso foi definido. Na hora em que Guedes me contou isso, eu disse: ministro, ‘stop’!”, contou.
Mendes relata, então, que falou para Guedes colocar "isso no seu currículo".
"Eu disse ao ministro: 'ter tirado Sérgio Moro de Curitiba pode ter sido a sua maior contribuição ao Brasil'", revelou Guedes, sobre a ironia lançada ao guru econômico de Bolsonaro.
O decano do STF afirma ainda que tudo foi possível porque a Lava Jato "era um sistema muito empoderado e bafejado pela mídia".
O ministro ainda antecipou dados da correição realizada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) na 13ª Vara, que mostrará que a sessão que foi comandada por Moro "teria movimentado somas que podem ir a R$ 10 bilhões".
Indagado onde está esse dinheiro, Mendes respondeu: "esta é a grande pergunta".
"Todas as regras dos códigos de contabilidade do setor público foram violadas. É nesse contexto que entra essa tal fundação Dallagnol. Aqui, me parece que há uma falha geral. É como se nós estivéssemos lidando não com um outro poder, mas com um outro Estado", afirmou.
Militares na Defesa: "falhamos"
Em seguida, Mendes começa a detalhar o processo de golpe de Bolsonaro, que descambou nos atos do dia 8 de janeiro, e fez mea culpa.
"Participei da redação da emenda constitucional e da lei complementar que criaram a Pasta da Defesa, mas nós falhamos", disso, defendendo que a Constituição deveria prever "que o ministro da Defesa tinha que ser civil".
Mendes afirma que a "falha" permitiu que Bolsonaro levasse ao Ministério da Defesa militares com a "encomenda" do discurso de fraude das urnas para justificar um novo golpe.
"O então ministro da Defesa de Bolsonaro, general Paulo Sérgio Nogueira, literalmente fez assédio sistematicamente contra a cúpula do Judiciário na questão das urnas. Todo dia ele questionava as urnas. O assédio só se encerrou quando o ministro Alexandre de Moraes assumiu a presidência do TSE. O general não teve a coragem, a decência de divulgar o relatório da comissão que dizia que não há fraude no sistema de votação pelas urnas eletrônicas", disse, sobre o ex-ministro e ex-comandante do Exército, investigado como membro da Organização Criminosa golpista de Bolsonaro.
Leia a entrevista na íntegra no Brazil Journal