Em entrevista sobre os atos golpistas de 8 de Janeiro de 2023 à Agência France Presse (AFP), o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), implicou diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na intentona que resultou na depredação das sedes da corte, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto.
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"A responsabilidade política [de Bolsonaro] é inequívoca", disse o ministro, ressaltando que mede suas palavras para se referir ao ex-presidente pois o processo ainda "está em julgamento".
A declaração contrasta com a entrevista do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que foi criticado por Lindbergh Farias (PT-RJ) ao admitir que setores das Forças Armadas apoiavam o golpe, mas ressaltou que "não havia um líder com quem negociar" no 8 de janeiro de 2023.
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"Essa fala é quase a defesa de uma anistia prévia da cúpula golpistas, de militares envolvidos na trama e do próprio Jair Bolsonaro", criticou o deputado petista.
Além de implicar o ex-presidente, Mendes afirmou que, durante seus quatro anos de governo, Bolsonaro "incentivava algum tipo de anarquia, especialmente no que diz respeito às forças policiais".
"Acredito até mesmo que os militares não retiraram esses invasores, manifestantes [dos prédios] por conta de algum estímulo que havia por parte da própria Presidência da República", afirmou.
Forças Armadas
Na entrevista ao jornal O Globo, Múcio eximiu as Forças Armadas como instituição no 8 de janeiro, mas deixou claro que haviam membros dispostos a se juntar aos apoiadores de Bolsonaro.
"Podia ser até que algumas pessoas da instituição quisessem, mas as Forças Armadas não queriam um golpe. É a história de um jogador indisciplinado em uma equipe de futebol: ele sai, a equipe continua. No final, me parecia que havia vontades, mas ninguém materializava porque não havia uma liderança", afirmou Múcio em entrevista ao jornal O Globo.
O ministro ainda falou da discordância com o colega Flávio Dino, da Justiça, sobre a retirada dos manifestantes em frente ao QG do Exército. Múcio diz que defendeu uma retirada pacífica para não provocar "cizânia dentro das Forças Armadas".
"Será que se nós tivéssemos tomado uma providência mais dura, não teríamos promovido uma cizânia dentro das Forças Armadas? Fomos dentro do que a lei mandava. Por que a Justiça não determinou que se tirasse? Por que tinha que ser um ato imposto pela Defesa? A Justiça não tirou, só depois do dia 8. O ministro Alexandre de Moraes mandou tirar, poderia ter mandado dias 7, 6, 5... Não poderia partir de nós. Poderíamos ter precipitado uma cizânia. Faria tudo de novo do jeito que eu fiz. Por ter sido feito daquela forma é que hoje nós vivemos nesse ambiente de tranquilidade nas Forças", afirmou.
O ministro ainda confirmou que o então comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, foi enfático ao não permitir a entrada da Polícia Federal no acampamento golpista, que ficava em área sob responsabilidade dos militares.
"Fomos lá negociar o que se faria, porque houve um momento de muita tensão, se a Polícia Federal entraria (no Quartel-General, para desmobilizar o acampamento). O comandante do Exército disse: “Aqui não entra”. Depois, fomos para lá e se negociou que a Polícia Federal poderia vir pegar as pessoas às 6h (do dia 9)", contou.