8 DE JANEIRO

Lindbergh critica Múcio sobre 8/1: "quase defesa de anistia prévia de Bolsonaro"

Lindbergh rebateu Múcio, que tentou minimizar a atuação de quadros das Forças Armadas na tentativa de golpe, dizendo que "havia vontades, mas ninguém materializava porque não havia uma liderança".

Lindbergh Farias, Jair Bolsonaro e José Múcio.Créditos: Agência Câmara / Marcos Corrêa PR
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O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) criticou as declarações do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que em entrevista ao jornal O Globo admitiu que setores das Forças Armadas apoiavam o golpe, mas ressaltou que "não havia um líder com quem negociar" no 8 de janeiro de 2022.

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"Como assim Ministro? Uma das linhas mais importantes da investigação conduzida pelo STF é sobre a autoria intelectual dessa tentativa de golpe. O próprio Mauro CID em sua delação premiada revela que foi o próprio Bolsonaro que aprovou uma minuta do golpe que falava em anulação das eleições e prisão do Ministro Alexandre de Moraes. Essa fala é quase a defesa de uma anistia prévia da cúpula golpistas, de militares envolvidos na trama e do próprio Jair Bolsonaro", escreveu o parlamentar petista.

Lindbergh ainda rebateu Múcio, que tentou minimizar a atuação de quadros das Forças Armadas na tentativa de golpe, dizendo que "havia vontades, mas ninguém materializava porque não havia uma liderança".

"Outra coisa, ministro, teve sim setores importantes das Forças Armadas que participaram do planejamento e da execução dessa tentativa de golpe. Temos a oportunidade histórica de ver esses militares sendo julgado pelo Justiça, no caso o STF. No golpe militar de 64 não houve isso. Nem os que participaram daquele episódio de atentado a bomba no Riocentro foram presos", afirmou.

O deputado ainda afirma que a Justiça deve ser feita e que não deve haver anistia para evitar uma nova tentativa de golpe mais adiante, como houve no processo de redemocratização do país.

"Falo isso não por vingança, mas por ter certeza de que se não houver punição, eles voltarão a atentar contra a democracia em breve. Quanto aos acampamentos é impressionante o tamanho do erro. Aquilo nunca foi “festa da democracia “. Era a incubadora do golpe. De lá saíram, inclusive, os que tentaram colocar uma bomba no aeroporto de Brasília na noite de Natal. SEM ANISTIA", conclui.

Discordâncias com Dino

Na entrevista ao jornal O Globo, o ministro ainda falou da discordância com o colega Flávio Dino, da Justiça, sobre a retirada dos manifestantes em frente ao QG do Exército. Múcio diz que defendeu uma retirada pacífica para não provocar "cizânia dentro das Forças Armadas".

"Será que se nós tivéssemos tomado uma providência mais dura, não teríamos promovido uma cizânia dentro das Forças Armadas? Fomos dentro do que a lei mandava. Por que a Justiça não determinou que se tirasse? Por que tinha que ser um ato imposto pela Defesa? A Justiça não tirou, só depois do dia 8. O ministro Alexandre de Moraes mandou tirar, poderia ter mandado dias 7, 6, 5... Não poderia partir de nós. Poderíamos ter precipitado uma cizânia. Faria tudo de novo do jeito que eu fiz. Por ter sido feito daquela forma é que hoje nós vivemos nesse ambiente de tranquilidade nas Forças", afirmou.

O ministro ainda confirmou que o então comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, foi enfático ao não permitir a entrada da Polícia Federal no acampamento golpista, que ficava em área sob responsabilidade dos militares.

"Fomos lá negociar o que se faria, porque houve um momento de muita tensão, se a Polícia Federal entraria (no Quartel-General, para desmobilizar o acampamento). O comandante do Exército disse: “Aqui não entra”. Depois, fomos para lá e se negociou que a Polícia Federal poderia vir pegar as pessoas às 6h (do dia 9)", contou.

Mauro Cid e a demissão do comandante

Múcio ainda relatou que a demissão de Arruda do comando do Exército se deu justamente pela tentativa de nomeação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, para o comando do Batalhão de Ações e Comandos de Goiânia, unidade das Forças Armadas que faria intervenção em caso de decretação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) em Brasília, por exemplo.

"No dia 20 de janeiro, surgiram as notícias de que o tenente-coronel Mauro Cid estava voltando. As coisas começaram a ficar tensas outra vez, porque estava destinada a ele uma promoção para um comando em Goiás, uma base importante do Exército. No sábado, 21, o presidente me ligou às 6h30m, contrariado. Desliguei o telefone e disse para minha mulher: 'Isso tem que ser resolvido hoje'. Liguei para o comandante do Exército e pedi que fosse ao Ministério da Defesa. Então, falei que precisava do lugar dele. Ele respondeu: 'O senhor está lembrando que me nomeou há 20 dias?' Eu disse: 'Estou, mas a gente precisa recomeçar a construir o clima de confiança, o que passa por colocar uma pessoa no seu lugar'”.

A partir de então, seguiu um processo para pacificação das Forças Armadas, segundo Múcio, com a nomeação do general Tomás Paiva para o comando do Exército. 

Após o general ter aceitado o convite, no mesmo 21 de janeiro quando demitiu Arruda, Múcio contou que acertou o encontro dele com Lula.

Fomos para o Palácio do Planalto, o general Tomás vestido com roupa camuflada para combate, e de certa forma era. O general disse uma coisa que vou dizer pela primeira vez aqui: “Para que dê certo, o senhor precisa ter confiança nas Forças Armadas”. E ele (Lula) respondeu: “Vamos conversar, vamos em frente”.

Pacificação

Na entrevista, Múcio relatou ainda o clima de tensão com a cúpula das Forças Armadas durante a transição de governo. Segundo ele, desde 5 de dezembro de 2022, quando aceitou o convite de Lula para o ministério, buscou construir pontes com o generalato, mas não foi nem chegou a ser recebido pelo então comandante da Marinha, Almir Garnier, que é totalmente alinhado ao bolsonarismo.

"No dia 5 de dezembro, eu cheguei em Brasília, conversei com o presidente e fui anunciado (ministro da Defesa). E começa aí o meu 8 de janeiro. Primeiro, tive uma dificuldade enorme de chegar aos comandantes (das Forças Armadas). Só consegui na segunda quinzena de dezembro. O comandante da Aeronáutica cumpriu a Constituição e saiu no dia correto. O da Marinha não me recebeu, mas saiu no dia correto. O comandante do Exército me disse que queria sair no dia 20, mas fiz um apelo, e ele saiu 30 de dezembro", lembrou Múcio, que ressalta que hoje a relação com a cúpula militar está "muito boa, tenho até medo de dizer".

"O presidente tem uma relação direta, telefona para cada um dos comandantes. Minha tarefa foi essa, pacificar as relações", emendou.

Sobre as críticas, principalmente do campo progressista, sobre sua atuação junto aos militares, ele diz que "tudo tem seu tempo".

"São da democracia. Tem muitos que criticam, outros elogiam. Tudo tem seu tempo. Se nós estamos procurando aproximar, por que vamos mexer? Temos que reconstruir o clima de confiança, para que as pessoas não sintam que estão sendo punidas. Precisamos primeiro criar este clima e depois fazer o que algumas pessoas desejam".