O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não estará sozinho no domingo (25), na avenida Paulista, em São Paulo, a depender de postagens que circulam nas redes. No mesmo dia e local, banners de torcidas organizadas dos grandes times de São Paulo marcaram um suposto grande ato pela democracia. As torcidas, no entanto, não confirmaram nada. Mesmo assim, o evento bombou nas redes.
A divulgação do suposto ato das organizadas começou a circular pelas redes nesta terça-feira (13), em vários formatos. Em um dos posts, o ato está sendo chamado de “Domingão do Arrebatamento”, e seria assinado pela Gaviões da Fiel, Mancha Verde e Galera do Hip Hop.
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Em outros banners que circulam nas redes também aparecem as torcidas do Santos e do São Paulo com o título: “Ato nacional em defesa da democracia e sem anistia para golpista – Fascistas não passarão”. O evento é marcado para às 15h30.
Torcidas negam
O tema ficou tão em evidência nas redes sociais que diversas convocações para o ato já contam com milhares de curtidas e views nas redes sociais. No entanto as torcidas organizadas negam ter convocado qualquer ato.
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A Mancha Alvi Verde, do Palmeiras, usou suas redes sociais para desmentir a informação de que estaria convocando seus associados e simpatizantes.
“A Torcida Mancha Alvi Verde esclarece que não fez qualquer convocação para que seus associados compareçam a manifestações de cunho político e desaprova a utilização indevida de seu nome em publicações apócrifas nas redes sociais. A Mancha tem como única finalidade apoiar a Sociedade Esportiva Palmeiras e preza pelas liberdades de escolha e de posicionamento de seus associados e simpatizantes”, diz nota da entidade.
Danilo Pássaro, que é integrante da Gaviões da Fiel - a maior torcida organizada do Corinthians -, fundador do Instituto Periferia Sem Fronteiras e membro do Movimento Somos Democracia, divulgou um vídeo e esclareceu à Fórum nesta quarta-feira (14), entretanto, que as torcidas não estão organizando manifestação para fazer frente ao ato de Bolsonaro, marcado para 25 de fevereiro na avenida Paulista. Em 2020, Pássaro foi um dos organizadores de manifestações contra Jair Bolsonaro e bolsonaristas em meio à pandemia do coronavírus.
"Está circulando na internet que no dia 25 de fevereiro as torcidas vão se unir novamente para enfrentar os bolsonaristas. Essa informação não procede, não existe essa articulação. O que nos uniu em 2020 não foi somente enfrentar bolsonaristas, foi defender a democracia, o que a gente avalia que por hora não se faz necessário. Ao contrário de 2020 a gente tem um governo que defende a democracia", diz Pássaro.
Já a Torcida Tricolor Independente (do São Paulo Futebol Clube) afirmou, também através de nota, que "não se posiciona politicamente, quem quiser ir para este evento, tem toda a liberdade de exercer o direito de posicionamento civil". Segundo a nota, "cada integrante escolhe em quem votar e manifestar apoios políticos. O CNPJ da Independente apoia unicamente o São Paulo FC… essa é a nossa bandeira!", encerra.
O ato de Bolsonaro
Em um vídeo difundido através das redes sociais na última segunda-feira (12), o ex-presidente chama seus apoiadores para um ato a ser realizado no último final de semana de fevereiro na avenida Paulista, em São Paulo (SP). Com medo da Justiça, Bolsonaro pede: "Não compareçam com qualquer faixa ou cartaz, contra quem quer que seja".
Segundo o ex-presidente, o ato será "em defesa do Estado Democrático de Direito". Ele é investigado, entretanto, justamente por atentar contra a democracia.
Risco de prisão
A depender do que acontecer na manifestação convocada por Bolsonaro ou do que for dito, o ex-presidente pode ser alvo de uma ordem de prisão preventiva por parte do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
No despacho em que autorizou a operação da Polícia Federal (PF) na última semana, Moraes destacou trechos do relatório policial sobre a investigação e, no documento, há fartas evidências e até mesmo provas materiais de que Bolsonaro de fato, articulou uma tentativa de golpe de Estado que, felizmente, não obteve êxito.
No relatório consta, por exemplo, que Bolsonaro pediu e aprovou alterações em uma minuta de decreto que buscava implementar o golpe. A “minuta do golpe” previa a prisão de autoridades, como os ministros Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e o presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco, intervenção das Forças Armadas no Judiciário e, finalmente, a convocação de novas eleições, cujo objetivo era manter o ex-presidente no poder mesmo após a vitória eleitoral do presidente Lula em outubro de 2022.
Para Amanda Cunha, especialista em Ciências Penais e Direito Eleitoral; coordenadora da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), há de fato o risco de Bolsonaro ser preso.
"Considerando as operações da Polícia Federal no dia de hoje, com alvos sobre ex-ministros do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e demais pessoas de sua confiança, o risco de sua prisão torna-se cada vez mais concreto. As operações são um desdobramento das investigações sobre os atos que ocorreram na capital federal em 08/01 e a minuta de golpe de Estado encontrada na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres", disse a especialista em entrevista à Fórum.
Já o advogado criminalista Fernando Augusto Fernandes, também em entrevista à Fórum, foi além: avaliou que, se Bolsonaro atacar o STF ou insistir em questionar a lisura das eleições, como é esperado que aconteça no ato em questão, ele deve ser alvo de uma ordem de prisão.
"Ao serem aplicadas medidas restritivas, como a impossibilidade de deixar o país e de se comunicar com outros investigados, o ministro Alexandre de Moraes entendeu que estavam presentes os pressupostos para a prisão preventiva, pois essas medidas são substitutivas à prisão. O STF considerou essas medidas necessárias no momento. No entanto, se forem descumpridas ou se Bolsonaro persistir nos ataques ao STF e continuar cometendo delitos, como em sua recente live atacando as eleições, o ministro pode determinar sua prisão"