Jair Bolsonaro vem, a cada dia, expressando reações desesperadas diante da iminência de ser preso. Alvo de busca e apreensão da Polícia Federal (PF) na última semana, no âmbito do inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que o investiga por articular um golpe de Estado no Brasil, o ex-presidente decidiu mandar um recado a ex-aliados com uma mensagem cifrada.
Nesta terça-feira (13), um dia após convocar uma manifestação para "se defender", Bolsonaro foi às redes sociais e publicou uma foto de infância em que aparece posando ao lado de um peixe traíra pendurado.
"Foto de 1960, Ribeira/SP. Geraldo (pai) e Jair Bolsonaro. Traíra de uns 12 Kg", escreveu.
Seguidores e apoiadores interpretaram a publicação como um recado a pessoas que o ex-presidente consideraria traidoras. No vídeo de uma reunião golpista de julho de 2022, que é uma das principais evidências investigadas pela PF de sua articulação por um golpe, Bolsonaro utilizou exatamente o termo "traíra" para se referir a militares que deixaram seu governo.
“Olha os traíras que já passaram pelo nosso governo, inclusive, militares. Tem um militar aí, general, que tinha interesse em compra de armamento em Israel através do respectivo filho, vira inimigo mortal da gente. Olha o outro que foi, aqui, porta-voz. Ficou um ano sem fazer porra nenhuma aqui, porque eu acabei com a figura do porta-voz, mas quando ele foi embora, não interessa o motivo, virou grande escritor de jornal para sacanear a gente”, disse na ocasião.
Manifestação e prisão
Nesta segunda-feira (12), Jair Bolsonaro convocou uma manifestação para "se defender". Em um vídeo difundido através das redes sociais, o ex-presidente chama seus apoiadores para um ato a ser realizado no último final de semana de fevereiro na avenida Paulista, em São Paulo (SP). Com medo da Justiça, Bolsonaro pede: "Não compareçam com qualquer faixa ou cartaz, contra quem quer que seja".
Segundo o ex-presidente, o ato será "em defesa do Estado Democrático de Direito". Ele é investigado, entretanto, justamente por atentar contra a democracia.
A depender do que acontecer na manifestação convocada por Bolsonaro ou do que for dito, o ex-presidente pode ser alvo de uma ordem de prisão preventiva por parte do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
No despacho em que autorizou a operação da Polícia Federal (PF) na última semana, Moraes destacou trechos do relatório policial sobre a investigação e, no documento, há fartas evidências e até mesmo provas materiais de que Bolsonaro de fato, articulou uma tentativa de golpe de Estado que, felizmente, não obteve êxito.
No relatório consta, por exemplo, que Bolsonaro pediu e aprovou alterações em uma minuta de decreto que buscava implementar o golpe. A “minuta do golpe” previa a prisão de autoridades, como os ministros Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e o presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco, intervenção das Forças Armadas no Judiciário e, finalmente, a convocação de novas eleições, cujo objetivo era manter o ex-presidente no poder mesmo após a vitória eleitoral do presidente Lula em outubro de 2022.
Para Amanda Cunha, especialista em Ciências Penais e Direito Eleitoral; coordenadora da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), há de fato o risco de Bolsonaro ser preso.
"Considerando as operações da Polícia Federal no dia de hoje, com alvos sobre ex-ministros do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e demais pessoas de sua confiança, o risco de sua prisão torna-se cada vez mais concreto. As operações são um desdobramento das investigações sobre os atos que ocorreram na capital federal em 08/01 e a minuta de golpe de Estado encontrada na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres", disse a especialista em entrevista à Fórum.
Já o advogado criminalista Fernando Augusto Fernandes, também em entrevista à Fórum, foi além: avaliou que, se Bolsonaro atacar o STF ou insistir em questionar a lisura das eleições, como é esperado que aconteça no ato em questão, ele deve ser alvo de uma ordem de prisão.
"Ao serem aplicadas medidas restritivas, como a impossibilidade de deixar o país e de se comunicar com outros investigados, o ministro Alexandre de Moraes entendeu que estavam presentes os pressupostos para a prisão preventiva, pois essas medidas são substitutivas à prisão. O STF considerou essas medidas necessárias no momento. No entanto, se forem descumpridas ou se Bolsonaro persistir nos ataques ao STF e continuar cometendo delitos, como em sua recente live atacando as eleições, o ministro pode determinar sua prisão"