GOLPISMO

"Mijada" em Villas Bôas: Braga Netto e o elo com ex-comandante no assédio ao Alto Comando

Vice de Bolsonaro, Braga Netto narra encontro de marechal e da esposa com Tomás Paiva, em relatório da PF. "Cida ficou louca, se retirou da sala pra não botar o artista pra fora"

Braga Netto e Bolsonaro em continência ao marechal Eduardo Villas Bôas.Créditos: Marcos Corrêa e Isac Nóbrega / PR
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Indiciado como um dos articuladores da Organização Criminosa (OrCrim) de Jair Bolsonaro (PL) na tentativa de golpe de Estado, o general Walter Braga Netto (PL) fazia o elo com golpistas militares que se aliaram a outra tomada de poder recente, que derrubou Dilma Rousseff (PT) da Presidência em 2016.

Ex-ministro da Casa Civil e de Defesa e vice na chapa em 2022, Braga Netto aparece nos anexos do relatório da Polícia Federal, a que a Fórum teve acesso, como interlocutor do marechal Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército e autor do tuite para intimidar o Supremo Tribunal Federal (STF) em 2018, às vésperas do julgamento que poderia libertar Lula para concorrer às eleições presidenciais.

Em 17 de dezembro de 2022, Braga Netto enviou uma mensagem ao capitão reformado Ailton Barros, também membro da OrCrim, relatando um encontro de Villas Bôas e a esposa, Maria Aparecida Villas Bôas, com o atual comandante do Exército, general Tomás Paiva.

Segundo Braga Netto, Paiva teria dado "uma mijada" no marechal e na esposa - que frequentava o acampamento em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília, por apoiarem a articulação golpista em curso. 

"O Tomás foi no VB ontem... E aí... acredite... Ele deu uma mijada no VB e na Cida! Terminou dizendo que os dois serão prejudicados com as intervenções 'sem noção' que estão fazendo", afirmou Braga Netto.

Em seguida, ele diz que Tomás Paiva ainda "falou mal de todo ACE", em relação ao Alto Comando do Exército, da qual o próprio atual comandante fazia parte. "Principalmente do Theophilio, do Barata".

Comandante de Operações Terrestre, o general Estevam Theophilo integrava o núcleo de oficiais de alta patente e foi indiciado com os 37 da OrCrim golpista. "Barata" ainda não foi identificado pela PF.

Na mensagem, Braga Netto afirma que Tomás Paiva "parece até que é PT desde pequenininho" e que "Cida ficou louca, se retirou da sala pra não botar o artista pra fora". Em seguida, o general dá a ordem para usarem a história para atacar o desafeto no ACE. "É verdade. Pode viralizar".

No mesmo dia, o Coronel de Cavalaria do Exército, Gustavo Schiffner, encaminha uma mensagem para Mauro Cid com o mesmo teor da que foi enviada por Braga Netto. Apenas foi trocado o termo "mijada" por "esporro no general Villas Bôas e na esposa dele".

Elo com Villas Bôas

Em novembro, Braga Netto já havia feito uma jogada ensaiada com Villas Bôas enquanto trabalhava a articulação no QG do golpe, uma mansão alugada no Lago Sul, em Brasília, para sediar o comitê de campanha de Bolsonaro e que o vice seguiu utilizando, após a derrota nas urnas, para articular o golpe.

O relator da PF mostra que no dia 15 daquele mês, Braga Netto comentou uma carta de Villas Bôas publicada no Twitter em que o marechal se alinha à horda golpista "aglomerada junto às portas dos quartéis pedindo socorro às Forças Armadas" e ataca as urnas eletrônicas e o resultado das eleições dizendo que " a essência da questão se prende a que o ato de votar deve ser privado, enquanto a apuração deve ser pública e auditável".

"General, mais uma vez sua liderança e clareza de pensamentos nos orientam e inspiram.  É evidente a real e urgente necessidade do resgate da independência e da harmonia entre os poderes", comentou Braga Netto propagando a publicação de Villas Bôas.

Alto Comando

Dias, depois, em 29 de novembro, Villas Bôas saiu em defesa de três generais do Alto Comando: Richard Nunes (Comando Militar do Nordeste); Valério Stumpf (Comando Militar do Sul); que teriam aderido ao golpe; e Tomás Paiva, que estava sendo pressionado a aderir à intentona.

A reunião entre Villas Bôas e Tomás Paiva também foi citada pelo coronel Hélcio Bruno de Almeida, ex-integrante das Forças Especiais do Exército e presidente da Ong instituto Força Brasil, que era financiada por bolsonaristas para propagar fake News sobre vacinas durante a pandemia.

"Eu sabia dessa visita do T [Tomás Paiva] ao VB [Villas Bôa] e que ele havia feito reclamações aos membros mencionados do ACE. Fica claro que há uma linha de ação não intervencionista no ACE, que, em minha
opinião tem origem no [ex-presidente golpista, Michel] Temer passa por alguns intermediários, inclusive Gen e repercute em alguns Membros do ACE", afirmou, sobre militares da cúpula que se posicionam contra o golpe.

"Não creio numa conspiração, mas uma linha de ação, que, por sua vez não será obstáculo para o PR atuar", segue Almeida, que na sequência lista as fases para o plano golpista.

“A questão que me parece evidente é possuir um conceito de operação simples e com fases
para estancar a hemorragia da lei e da ordem que sangra a estabilidade econômica e social do País, remover o tecido comprometido, proteger o ferimento e prevenir o choque: 
?  decretar GLO
? anular eleições
? afastar envolvidos diretos
? marcar novo pleito
? organizar governo transitório”, escreve o coronel golpista.
 

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