O general Tomás Ribeiro Paiva, comandante do Exército Brasileiro, deu uma declaração em entrevista ao diário carioca O Globo, nesta sexta-feira (7), em que surpreendeu a todos, mas, sobretudo, enfureceu bolsonaristas dos mais diversos calibres. Questionado sobre o tuíte postado em 3 de abril de 2018 pelo antigo chefe da organização militar, o general golpista Eduardo Villas Bôas, de quem era chefe de gabinete, no qual o oficial se intrometeu diretamente nas funções do Judiciário e em questões políticas, por conta de um pedido de habeas corpus preventivo do então ex-presidente Lula, o atual líder da tropa verde-oliva sentenciou: “Erramos”.
“Acho que nós erramos. Não vou julgar também o comandante anterior, a quem eu tenho toda a lealdade. Acho que é um erro coletivo... Eu era chefe de gabinete e sou corresponsável por isso, apesar de ser um outro momento político. Agora, não houve pressão no Supremo. O Supremo não se pressiona”, disse o general Tomás Paiva.
O tal tuíte de Villas Bôas, uma clara e explícita ameaça ao Supremo Tribunal Federal, de acordo com analistas políticos e historiadores, “deu certo”. O STF não autorizou a manutenção da liberdade de Lula, àquela altura condenado pelo então juiz federal Sergio Moro na farsesca Operação Lava Jato. O petista acabou sendo preso no dia seguinte, foi retirado da eleição de outubro daquele ano, e só voltou à liberdade em 8 de novembro de 2019, recuperando seus direitos políticos na sequência.
“Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais? Asseguro à nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”, dizia a postagem do general golpista e insubordinado, em tom moralista, para nos anos seguintes ir prestigiar um governo de criminosos e desajustados, liderado por Jair Bolsonaro (PL), alvo de repúdio por parte de quase todas as nações do planeta.
Tomás Paiva ainda salientou que, no seu entendimento, está claro que as Forças Armadas encontraram seu caminho dentro da Constituição, e que dessa forma deve seguir fora da vida política nacional, empenhando-se apenas nas questões profissionais inerentes a essas organizações.
“Isso está cada vez mais consolidado. Esse é único caminho que temos na direção de ser um país moderno. Estamos atuando firmemente no cumprimento da missão constitucional, no trabalho profissional e no afastamento da política”, concluiu o atual comandante do Exército.