GOLPISTA HISTÓRICO

Bolsonaro se reuniu com Villas Bôas enquanto golpe era tramado

Ex-presidente se reuniu ao menos duas vezes com o general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército com histórico golpista e grande influência na cúpula militar.

Jair Bolsonaro e o general Eduardo Villas-Bôas em evento no Planalto.Créditos: Foto: Isac Nóbrega/PR
Escrito en POLÍTICA el

Jair Bolsonaro (PL) esteve pelo menos duas vezes com o general da reserva, Eduardo Villas Bôas, na casa do militar em Brasília, enquanto assessores próximos do ex-presidente tramavam um golpe de Estados.

Segundo informações divulgados por Igor Gadelha nesta segunda-feira (19) no portal Metrópoles, Bolsonaro se reuniu com Villas Bôas nos dias 7 e 20 de dezembro.

Em troca de mensagens no dia 21 de dezembro, o coronel Jean Lawand Junior, então subchefe do Estado Maior revela sua "decepção" a Mauro Cid após saber que Bolsonaro não daria a ordem para os militares assumirem o poder e decretar o novo golpe.

“Na escuta? Soube agora que não vai sair nada. Decepção, irmão. Entregamos o país aos bandidos”, diz Lawand a Cid, que responde: "infelizmente".

O coronel então regurgita sua revolta diante da covardia de Bolsonaro. “Peça, por favor, para avisarem ao povo que esta há 52 dias cagando em banheiro químico, dormindo mal e pegando chuva. Ele merece saber a verdade.Que Deus se apiede dessa Nação”, surta o militar.

Ticiana Villas Bôas

Enquanto Villas Bôas se encontrava com Bolsonaro, a filha do general, Ticiana Villas Bôas, articulava com a esposa de Mauro Cid, Gabriela Cid, ações de apoio ao golpe.

Segundo Gabriela, foi o próprio Bolsonaro quem queria que os seus apoiadores se dirigissem à capital do país em ação que buscava mantê-lo no poder ao contrário da vontade popular expressa nas eleições.

A dupla estava revoltada com o resultado das eleições e buscava narrativas e estratégias que pudessem viabilizar um golpe de estado. Era comum acordo que os manifestantes não deveriam reivindicar uma ‘intervenção federal’. Em troca, o correto seria exigir o impeachment de Alexandre de Moraes.

“Temos que pedir novas eleições com voto impresso, nada de intervenção federal. Temos que exigir novas eleições com voto impresso. Estamos diante de um momento tenso onde temos que pressionar o Congresso. Agora!”, escreveu Gabriela Cid. Ticiana Villas-Bôas respondeu: “Ou isso, ou a queda do Moraes”.

A seguir, ambas concordam que era preciso manter as hordas bolsonaristas mobilizadas nas ruas. É nesse contexto que Ticiana Villas-Bôas propõe que o próprio Exército oriente uma paralisação dos caminhoneiros. “Os caminhoneiros têm que parar sem obstruir [as rodovias]. E alguém precisa articular isso com eles e os manifestantes. Alguém tinha que falar com eles”, escreve.

“Pois é”, responde Gabriela Cid. E emenda nas mensagens seguintes aquilo que pode incriminar o ex-presidente. Ela diz com todas as letras que “o presidente pediu” que alguém orientasse os caminhoneiros e que seus apoiadores fossem para a capital.

“Foi o que pediu o presidente. E acho que todos que podem têm que vir a Brasília. Invadir Brasília como no 7 de setembro e dessa o presidente com toda essa força agirá”, escreveu.

Histórico golpista

Em 2018, Eduardo Villas Bôas se notabilizou por um tuite golpista na véspera do julgamento de um habeas corpus de Lula pelo STF. À época, ele era comandante do Exército e escreveu que a instituição compartilhava o “anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade”.

Após a derrota de Bolsonaro para Lula em 2022, já na reserva, Villas Bôas voltou a defender um golpe pelas redes sociais, dizendo que as manifestações de bolsonaristas nas portas dos quartéis eram um pedido de "socorro às Forças Armadas".

Esposa do general, Maria Aparecida Villas Bôas chegou a visitar o acampamento golpista em frente ao Quartel General do Exército em Brasília antes do desencadeamento dos atos golpistas que resultou na depredação dos prédios dos três poderes na capital federal.