MILITARES GOLPISTAS

Mulher de Mourão e filha de Villas Bôas atuam em associação que sediou ato de projeto golpista

Sede da Fundação Habitacional do Exército, que gerencia a Poupex, foi usada para general ligado a Ustra lançar em maio de 2022 um "Projeto de Nação" que contava com a perpetuação de Bolsonaro e militares no poder.

Eduardo Villas Bôas e Hamilton Mourão no lançamento do "Projeto de Nação".Créditos: Instituto General Eduardo Villas Bôas
Escrito en POLÍTICA el

Reportagem de Aguirre Talento, no Portal Uol nesta sexta-feira (8), revela que a mulher do general e senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), uma filha e uma sobrinha do general Eduardo Villas Bôas estão entre parentes de militares que recebem salários da Associação de Poupança e Empréstimo (Poupex), uma espécie de ONG criada em 1982 para gerenciar empréstimos da Fundação Habitacional do Exército (FHE).

"Sem transparência nem a obrigação de prestar informações públicas sobre sua lista de funcionários, a associação se tornou um cabide de emprego para parentes de militares", diz o texto no portal Uol.

Além de servir de cabide de emprego para militares, a Fundação Habitacional do Exército sediou em maio de 2022 o lançamento de um plano golpista chamado "Projeto de Nação", desenvolvido sob tutela do general Luiz Eduardo Rocha Paiva, ex-presidente do grupo Terrorismo Nunca Mais (Ternuma), a ONG do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.

O ato de lançamento do "estudo", que traça um plano de poder dos militares golpistas até 2035 - e que contava com a perpetuação de Jair Bolsonaro no poder - teve como estrelas justamente o então vice-presidente Hamilton Mourão e o ex-comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas.

O documento, que é distribuído pelo Instituto Sagres - uma ONG que reúne militares e ultraconservadores para prestação de "consultorias" - e pelo Instituto General Villas Bôas (IGVB) prevê que o bolsonarismo triunfe até a data e lista 37 temas, divididos em sete eixos, para implantação do "projeto de nação".

Entre as metas estão o fim da obrigatoriedade do Sistema Único de Saúde (SUS) e a cobrança de mensalidades em universidades públicas até 2025.

"Vale assinalar os esforços empreendidos por sucessivos governos, a partir do início da década de 2020, com vistas a aperfeiçoar o sistema de gestão e controle dos recursos públicos alocados para o SUS. Além disso, a partir de 2025, o Poder Público passou a cobrar indenizações pelos serviços prestados", diz o texto com ar futurista.

"Quanto à Educação Superior, o quadro não era muito diferente. Amplos setores das Instituições de Ensino Superior (IES) — principalmente as públicas — transformaram-se em centros de luta ideológica e de doutrinação político-partidária", diz o "estudo" em outro trecho, ressaltando que "um marco importante para a melhoria de desempenho das universidades públicas, mas que sofreu forte resistência para vingar, foi a decisão de cobrar mensalidades/anualidades".

Cabide de empregos

Segundo a reportagem de Aguirre Talento, a Poupex paga salários para Ana Paula Leandro de Oliveira Mourão, esposa de Mourão, contratada como assessora especial em 2016. Ela tem uma remuneração básica de R$ 17 mil, podendo variar de acordo com gratificações e remanejamentos.

Ticiana Haas Villas Bôas foi contratada pela associação como analista júnior em 2017, quando o pai ainda era comandante do Exército. O salário base é de R$ 8 mil.

Mariana Carvalho Villas Bôas, sobrinha do general da reserva, também foi contratada em 2016 como analista júnior. Há na folha de pagamentos outros parentes de militares, como Felipe e Paula Albuquerque de Miranda, filhos do general Paulo César Souza de Miranda, que ocupou o posto de diretor administrativo da associação privada até abril deste ano.

O TCU (Tribunal de Contas da União) apontou, em um relatório de maio deste ano, "indícios contundentes" de nepotismo, com a identificação de 221 casos de parentesco entre contratados da Poupex e integrantes das Forças Armadas. O relatório foi revelado pelo jornal "Folha de S.Paulo" no último dia 21.

"Os dados analisados permitem concluir que se encontram presentes fortes indícios de que a existência de relação laboral com o Exército, com o MD (Ministério da Defesa) ou com as demais Forças ou de parentesco com membros do conselho de administração, da diretoria e com militares do Exército são fatores possivelmente relevantes para se determinar o êxito na tentativa de se conseguir emprego na Poupex. Neste contexto, aparentemente tem relevância o nível hierárquico ocupado pelo familiar nas Forças", diz o relatório.

Leia a reportagem de Aguirre Talento na Folha de S.Paulo