Classificado pela Organização Criminosa golpista de Jair Bolsonaro (PL) como "informante" do ministro Alexandre de Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no Alto Comando do Exército, o general Valério Stumpf, que passou para a reserva, quebrou o silêncio e disse à coluna de Paulo Cappelli, no site Metrópoles, que "defendeu a democracia em tempos complexos".
Em troca de mensagens, reveladas no relatório da Polícia Federal sobre a facção golpista, um membro da OrCrim identificado como "Riva", que mantinha conversas frequentes com o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, então ajudante de ordens de Bolsonaro, fala abertamente sobre a tal desconfiança de Stumpf.
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“Estou escutando a história do Mourão e estou abismadooooooo. Fora os outros GEN [generais do Exército]. Na reunião com o 01 [então presidente Jair Bolsonaro] e o que eles fizeram. Que o Mourão negociou com outros generais a saída do 01 [referindo-se a Bolsonaro outra vez], falando que o Peru era logo ali. Rasgaram o documento que o 01 assinou [o decreto do golpe]. Estava em reunião com o vice da China com relação à Huawei aqui no Brasil. Tinha informante do [emoji de ovo, em alusão a Alexandre de Moraes] de leva e trás (sic)”, diz Riva.
Um outro elemento não identificado entra na conversa e corre para dizer expressamente quem seria o “informante” mencionado por Riva. “Gen [general] Stumph (sic)”, diz. Riva então concorda e completa: “Sim, outro amigo do FHC [o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso]. Negociando cargos no governo para parentes, inclusive”.
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Riva segue dizendo a Cid o que pensa do Comandante Militar do Sul: “No meu vago conhecimento e entendimento, isso se assemelha à traição à pátria, lesa pátria. Isso independente de patente. Isso é de embrulhar o estômago”, completa.
Em seguida, Stumpf e outros "generais melancias" - como eram chamados pelos golpistas os militares verdes por fora e vermelhos por dentro - viraram alvos de ataques pelos membros da OrCrim. Entre os generais do Alto Comando estavam o atual comandante do Exército, Tomás Paiva.
"Lealdade"
Na entrevista divulgada nesta quinta-feira (5), Stumpf afirma que tudo o que fez teria sido avalizado pelo Alto Comando do Exército e para a defesa da democracia.
“Tudo o que fiz foi com o conhecimento do Alto-Comando do Exército, alinhado com o [então comandante] general Freire Gomes. Existe uma lealdade muito forte no Alto-Comando”, afirmou o general, ressaltando que a filha teria ouvido que o pai era um “traidor da Pátria”.
Stumpf ainda afirma que mantinha uma relação institucional com o TSE e nega ter sido "informante" de Moraes, como acusam os bolsonaristas.
“Por ser chefe do Estado-Maior à época, eu tinha contato com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), então presidido pelo ministro [Alexandre de Moraes]. Estávamos discutindo métodos para reforçar a segurança e a transparência das urnas eletrônicas”, disse.
“A minha interlocução era com a Secretaria-Geral do TSE. Aí algumas pessoas que não sabiam de nada distorceram tudo. Alimentaram a versão de que eu seria ‘informante’, uma espécie de ‘leva e traz’, uma coisa bandida. Isso nunca aconteceu. É uma inverdade e uma agressão à minha pessoa. O contato era institucional”, emendou.
O general ainda afirma que tudo o que foi proposto pelos militares para melhorar o sistema de votação eletrônico foi acatado pela Justiça Eleitoral.
“O que nós solicitamos ao TSE era que ampliasse a segurança das urnas por meio de algumas práticas, como o teste de integridade com biometria. E essas medidas de fato foram implementadas. Foi muito positivo para reforçar a segurança das urnas. O foco sempre foi preservar a democracia, fortalecendo a credibilidade das urnas eletrônicas”, ressalta.
O general ainda afirma que virou alvo dos bolsonaristas por cumprir suas obrigações no Alto Comando.
“Fui vítima de ataques por cumprir a minha obrigação. Defendi a democracia em tempos complexos. Tenho orgulho de ter agido de forma leal ao comandante do Exército e ao Exército Brasileiro”, concluiu.