Um diálogo travado por mensagens de texto em 19 de janeiro de 2023 entre o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, e o general Paulo Sérgio Nogueira, que foi ministro da Defesa na parte final do último governo, obtido pela Polícia Federal e que consta no relatório final do inquérito da tentativa de golpe de Estado, é o mais novo ingrediente explosivo que pode terminar de complicar de vez a vida do antigo ocupante do Palácio do Planalto derrotado nas urnas pelo presidente Lula (PT).
Naquela data, 11 dias após o fatídico 8 de janeiro, o general Paulo Sérgio parece particularmente magoado com Bolsonaro por ter feito tudo que ele pediu, mas que não receberia sequer nenhum retorno dele após inúmeras tentativas de contato. Bolsonaro havia fugido para os EUA e sabia que as ações de ruptura institucional ocorridas em Brasília, que foram notícia no mundo todo, o colocavam como o pivô de uma tentativa de golpe.
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"Mando mensagem pro PR, mas ele não fala nada, apenas encaminha o de sempre. Chega a ser ingrato, mas tudo bem", reclama o general para Cid.
Na sequência, o antigo chefe da Defesa, que também já tinha sido comandante do Exército na mesma gestão, diz algo que sugere que, mesmo sendo "largado na pista", se manter-se-á fiel.
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"Vamos em frente. Quais são os planos dele, volta quando? Estamos aqui, acompanhando tudo e defendendo sempre o PR. Abraço! Selva!", acrescente Paulo Sérgio.
As conversas entre o tenente-coronel e o general da reserva eram frequentes e sempre em tom de intimidade e confiança. Seis dias antes dos atos golpistas em Brasília, ainda em 2 de janeiro de 2023, Cid já sabia que as ações criminosas do bando estavam sendo monitoradas pelas autoridades e confessou a Paulo Sérgio que estava com medo de ser preso por ordem de Alexandre de Moraes, do STF. O general procurou tranquilizá-lo.
"Bom dia, amigo! Vai acreditar em tudo que mandam??? Um dos maiores erros do PR foi acreditar muito nas mídias sociais! Estamos juntos!", respondeu o ex-ministro da Defesa.
Cid volta então com os jargões militares e reafirma que quer apenas não ser surpreendido. Mas afinal, se nada de ilegal estava sendo feito, e o 8 de janeiro sequer tinha ocorrido ainda, do que Cid tinha medo?
"Eu tenho que me preparar para todas as LA que o inimigo possa tomar", respondeu. "LA" no vocabulário da caserna significa "linhas de ação".
Paulo Sérgio, então, diz que entende a precaução de Cid e se coloca à disposição para eventualmente ajudá-lo. "Concordo Amigo! Eu também! Conte conosco", encerra o general.
Ex-ministro da Defesa já foi dedurado expressamente
O golpismo do general Paulo Sérgio Nogueira já está abertamente configurado por conta de um depoimento dado à PF no transcorrer do inquérito da tentativa de golpe. E quem o denunciou foi também um oficial general.
O ex-comandante da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, falando aos federais, confirmou que em 14 de dezembro de 2022, ainda no governo Bolsonaro, foi convocado pelo general Paulo Sérgio, então ministro da Defesa, para ir até seu gabinete na Esplanada. Lá, o aviador recebeu a minuta do golpe de Estado das mãos do chefe da pasta, que pediu para que ele lesse e então concordasse.
Após ver do que se tratava, Baptista Júnior perguntou sem rodeios a Paulo Sérgio se aquilo era uma ordem para impedir um presidente da República eleito de assumir o cargo. Diante do silêncio do ministro, ele apenas disse que os envolvidos não contariam com seu apoio, devolvendo o documento e indo embora da sala.