EXCLUSIVO

A guerra fria entre Padilha e Lira pelo Ministério da Saúde

A saída de Nísia Trindade é vista como certa, enquanto disputa entre Padilha e um indicado de Lira intensifica os bastidores em Brasília

Alexandre Padilha e Arthur Lira.Créditos: Gil Ferreira SRI / Bruno Spada Câmara dos Deputados
Escrito en POLÍTICA el

A saída da ministra Nísia Trindade do Ministério da Saúde já é tratada como inevitável no Planalto, com rumores indicando que a reforma ministerial deve ocorrer entre fevereiro e março de 2024. Entretanto, a definição de seu sucessor tem causado uma disputa acirrada entre Alexandre Padilha, atual chefe da Secretaria de Relações Institucionais, e Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, que busca emplacar um nome de sua confiança na pasta.

Embora Padilha seja apontado como o favorito para reassumir a Saúde, cargo que já ocupou em governos anteriores, a possibilidade de um indicado de Lira para a pasta ganhou força nos últimos dias, especialmente nesta sexta-feira, 13 de dezembro. Segundo membros do governo, a movimentação de Lira seria impulsionada por críticas à atuação de Padilha no Congresso, onde ele enfrenta desgaste por sua limitada proximidade com parlamentares.

Fontes ligadas ao entorno de Arthur Lira argumentam que a escolha de um ministro alinhado com a Câmara reforçaria o diálogo entre Executivo e Legislativo, especialmente em um ano em que o governo Lula busca consolidar sua base parlamentar. Ainda que Lira não tenha interesse em assumir o cargo diretamente, ele estaria determinado a indicar o novo titular da Saúde.

Por outro lado, Alexandre Padilha parece ter o apoio do presidente Lula e do núcleo do governo. Recentemente, um post comemorativo publicado pelo Ministério da Saúde sobre o aumento da cobertura vacinal infantil trouxe, além da imagem de Zé Gotinha, os rostos de Lula, Nísia e Padilha, o que foi interpretado como um indicativo de que o ministro está sendo cotado para assumir a pasta.

A reforma ministerial, além da disputa pela Saúde, deve promover mudanças em outras áreas do governo. No lugar de Padilha, caso ele realmente migre para o Ministério da Saúde, a Secretaria de Relações Institucionais pode ser ocupada por Silvio Costa Filho, atual ministro de Portos e Aeroportos e membro do Republicanos. Essa substituição reforçaria as relações com o Centrão, um movimento estratégico para manter o apoio do Congresso.

Entre os nomes cogitados para sair, também está Paulo Pimenta, cuja permanência no governo ainda é incerta. O ex-ministro já recusou convites para a Secretaria-Geral da Presidência e pode retornar à Câmara dos Deputados para reassumir seu mandato parlamentar.

Enquanto a disputa por pastas importantes como a Saúde permanece em aberto, o Planalto se prepara para um redesenho que promete definir o tom político de 2025 e também de 2026. A decisão entre Padilha e um indicado de Lira representa mais que uma simples escolha de nomes: é um termômetro das forças que moldarão o governo nos próximos meses.

A coluna chegou a procurar a assessoria do ministro Alexandre Padilha que informou que não irá comentar as especulações sobre um retorno para o Ministério da Saúde.

Conflitos que vêm de longe

O histórico de desentendimentos entre o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e Alexandre Padilha, atual ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), evidencia um dos maiores desafios enfrentados pelo governo Lula para manter a estabilidade política. A relação entre os dois está marcada por episódios de tensão e ataques públicos, como os ocorridos durante o debate sobre a prisão do deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ).

Lira, insatisfeito com a atuação de Padilha no Planalto, já chegou a chamá-lo de “incompetente” e “desafeto”, enquanto Padilha, por sua vez, tem buscado respaldo do presidente Lula para manter sua posição.

A relação entre Padilha e Lira se deteriorou especialmente após decisões como o veto de R$ 5,6 bilhões em emendas parlamentares e a articulação de Padilha para manter Nísia Trindade no Ministério da Saúde, mesmo sob pressão do Centrão.

O confronto ganhou novas proporções com a crise envolvendo a prisão de Chiquinho Brazão, quando Lira acusou Padilha de articular para prejudicá-lo politicamente. Desde então, os dois não mantêm diálogo direto, com críticas públicas e movimentos de bastidores que dificultam a articulação política do governo.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar