BARRICHELLO DA ULTRADIREITA

Mourão dá declaração "surreal" sobre golpe e confirma que era vice decorativo de Bolsonaro

Ex-vice e atual senador, general foi escanteado, atuando como planta no Planalto, e defendeu atitude de Freire Gomes que ameaçou dar voz de prisão a Bolsonaro diante dos achaques golpistas ao comando das Forças Armadas

Jair Bolsonaro, Hamilton Mourão e Braga Netto no Palácio do Planalto.Créditos: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Escrito en POLÍTICA el

Responsável por levar os militares golpistas à política partidária, quando deixou a presidência do Clube Militar fluminense para se lançar vice na chapa de Jair Bolsonaro (PL) em 2018, o atual senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) atua como uma espécie de Rubinho Barrichello - na fama de "atrasado" que acompanhou o ex-piloto de Fórmula 1 - e requentou uma tese para defender os militares nas investigações sobre o golpe de Estado.

Em entrevista a'O Globo antes da prisão de Braga Netto - ele só quis manifestar sobre o tema nas redes sociais -, o general da reserva confirma ainda que tinha um papel decorativo como vice de Bolsonaro para se safar de qualquer envolvimento com o plano golpista. Mourão sequer foi investigado pela PF, embora tenha sido citado em conversas de membros da facção.

O senador diz que "nenhuma vez fui chamado para reunião dessa natureza" e diz que seu nome é citado por "dois malucos" que "resolvem ter uma conversa sem pé nem cabeça, e um resolve citar o meu nome" ao ser indagado sobre troca de mensagens que o coloca como "possível participante de reuniões para tentar combinar a saída de Bolsonaro".

Sem conversar com Bolsonaro - há tempos -, Mourão ainda confirmou que estava escanteado no governo, atuando de forma decorativa no Planalto - diferentemente do vice atual, Geraldo Alckmin, que é protagonista da interlocução com setores produtivos como ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

"Não é uma questão de distanciamento [de Bolsonaro}. O vice-presidente tem que ter um papel discreto, até porque ele não tem papel nenhum", afirmou, sem vergonha alguma de ser uma planta no governo Bolsonaro.

O senador ainda classifica o plano golpista como "conspiração Tabajara" e requenta a tese - já abandonada até pela defesa de Bolsonaro, por não ter lastro na lei - de que tramar golpe não é crime.

"Em tese, houve reuniões, mas não levaram a nenhuma ação. Na linguagem militar, nós definimos como “ações táticas” tudo aquilo que há movimento. Não houve nada disso. Houve pensamento, não passou disso", diz emendando que "golpe é como você viu aí na Síria, na Venezuela, na Turquia. É tropa na rua, é tiro, é bomba".

Mourão ainda elogia a atitude do então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, que teria ameaçado dar voz de prisão a Bolsonaro diante dos achaques do ex-presidente para que aderisse ao golpe.

"O Exército não pode ser fator de instabilidade. É óbvio que uma reversão de um processo eleitoral na base da força lançaria o país num caos. Então, o Exército agiu dentro desses vetores. Foi a atitude correta do (general) Freire Gomes (que se recusou a ceder a apelos golpistas), não há o que contestar", diz o ex-vice, que para efetivar o golpe seria necessário o apoio do Alto Comando da força.

"Claro que seria. Como funcionaria um golpe? Você vai fazer o quê? Fechar o Congresso? Qual objetivo do golpe? Impedir a posse? Não tem nada disso. É um troço sem pé nem cabeça", diz.

No sábado (14), após conceder a entrevista, Mourão defendeu Braga Netto nas redes sociais, após o general 4 estrelas ser preso pela PF.

"O General Braga Netto não representa nenhum risco para a ordem pública e a sua prisão nada mais é do que uma nova página no atropelo das normas legais a que o Brasil está submetido", escreveu.

 

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar