O coronel do Exército Flávio Botelho Peregrino, descrito como "faz-tudo" do general da reserva Walter Braga Netto, está no centro da trama golpista arquitetada por militares bolsonaristas depois de ser alvo de busca e apreensão pela Polícia Federal neste sábado (14).
Peregrino é investigado por seu papel estratégico na tentativa de golpe de Estado que visava impedir a posse do presidente Lula em janeiro de 2023.
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O coronel é apontado como uma peça-chave na articulação liderada por Braga Netto, que incluía o planejamento de um estado de exceção para manter Jair Bolsonaro no poder, mesmo após a derrota eleitoral.
Operação 142
A PF acusa o coronel de atuar como intermediário entre o candidato a vice-presidente da chapa de Bolsonaro e outros integrantes da rede golpista, além de coordenar atividades logísticas e organizacionais.
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Documentos apreendidos indicam seu envolvimento na chamada "Operação 142", que buscava justificar uma intervenção militar com base em uma interpretação distorcida da Constituição.
Em fevereiro de 2024, um esboço detalhado do plano foi encontrado na mesa de Peregrino, na sede nacional do Partido Liberal (PL), guardado em uma pasta intitulada "memórias importantes". O material continha medidas que incluíam o fechamento de instituições democráticas para instaurar o estado de exceção.
Busca por informações sigilosas
Durante a operação, a PF encontrou, entre os pertences de Peregrino, um documento com perguntas e respostas sobre a colaboração premiada do tenente-coronel Mauro Cid.
A descoberta sugere que o coronel estava envolvido em uma tentativa de acessar informações sigilosas e interferir nas investigações, reforçando seu papel em ações de obstrução de Justiça.
Ligação com deputado distrital bolsonarista
Desde agosto de 2024, Peregrino ocupa um cargo de assessor no gabinete do deputado distrital bolsonarista Thiago Manzoni (PL), na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Ele foi nomeado para o cargo CL-03, com remuneração de R$ 6.039,65.
Manzoni declarou ao portal Metrópoles que os fatos investigados são anteriores à atuação de Peregrino no gabinete e destacou que o coronel tem desempenhado suas funções "com excelência".
"Flávio ingressou no gabinete no segundo semestre deste ano. Sempre respeitou valores éticos elevados, e aguardamos o desenrolar das investigações, respeitando o princípio da presunção de inocência", afirmou o deputado.
Escola da Bia Kicis
Manzoni foi eleito para o legislativo local do DF sob as bênçãos de bolsonaristas radicais, como Bia Kicis (PL-DF) e uma pauta moral conservadora e, claro, críticas ao governo Lula.
Em meio aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, que resultaram na invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília, o deputado adotou uma postura ambígua: enquanto publicamente condenava os atos de vandalismo, compartilhou mensagens que questionavam a legitimidade das eleições e pediam auditoria das urnas.
A postura do parlamentar foi interpretada como um endosso velado às ações golpistas, atraindo apoio de grupos mais radicalizados, mas também gerando críticas e investigações.
Logo, não causa surpresa que tenha dado abrigo em seu gabinete ao coronel faz tudo do general da reserva que é apontado como o arquiteto do golpe contra Lula.
Operador logístico do golpe
As investigações da PF sinalizam que Peregrino era mais do que um simples assessor: ele era o operador logístico e facilitador de Braga Netto, organizando encontros e mantendo a articulação entre os diferentes núcleos envolvidos na trama. Seu papel central o torna peça indispensável para esclarecer o funcionamento da rede e os mecanismos usados para articular as ações golpistas.
Próximos passos
A PF recomendou medidas cautelares para impedir que Peregrino entre em contato com outros investigados, incluindo Braga Netto, para evitar a combinação de versões e a interferência no andamento do caso. As evidências apontam para sua importância dentro da estrutura investigada, ampliando a pressão para que ele colabore com as autoridades.
O caso de Flávio Peregrino ilustra a complexidade da rede por trás das tentativas de desestabilizar o processo democrático no Brasil, revelando o papel crucial de operadores estratégicos na viabilização dessas articulações. As investigações continuam, enquanto o país acompanha de perto os desdobramentos do inquérito.
Braga Netto segue preso
A prisão preventiva de Braga Netto foi mantida neste sábado (14) após audiência de custódia conduzida pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O procedimento foi conduzido por um juiz auxiliar do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo inquérito que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado no final de 2022.
Desdobramento de inquérito sobre tentativa de golpe
Braga Netto foi preso na manhã deste sábado, em desdobramento de investigações conduzidas pelo STF que apuram a trama golpista envolvendo membros do alto escalão político e militar no período que sucedeu as eleições presidenciais de 2022.
O general, que foi ministro da Defesa durante o governo Bolsonaro e também ocupou o cargo de chefe da Casa Civil, é considerado figura-chave no inquérito. Sua prisão preventiva reflete o avanço das investigações em casos relacionados a ataques à democracia e tentativas de deslegitimação do processo eleitoral.
Próximos passos
O procedimento de custódia encerra uma etapa inicial, e agora o caso segue para novas deliberações do STF, que analisará os elementos apresentados pela acusação e pela defesa. Não há previsão de quando o tribunal decidirá sobre a continuidade da prisão preventiva.
A manutenção da prisão de Braga Netto reforça o cerco jurídico contra envolvidos em atos que atentaram contra as instituições democráticas do país, destacando o papel do STF na condução de processos que investigam ameaças à ordem constitucional.