Enquanto a campanha para a presidência da Câmara dos Deputados se intensifica, o candidato Hugo Motta vem acumulando promessas e compromissos para consolidar sua candidatura, a ponto de, nos bastidores do Planalto, ganhar o apelido “Hugo Marmotta”, uma referência à percepção de que suas promessas podem acabar soando como ilusões. Técnicos e articuladores governamentais temem que Motta esteja prometendo além do que poderá cumprir, principalmente no que se refere ao compromisso com a bancada petista de indicar um nome do partido para o Tribunal de Contas da União (TCU).
Um “fast track” que pode custar caro ao PT
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Em conversa recente com a coluna, um membro da articulação política do governo expressou a preocupação de que o PT, ao consolidar rapidamente seu apoio a Motta, possa estar se “vendendo barato”. Segundo ele, o partido, ao longo dos anos, se tornou altamente dependente do Executivo, o que teria levado a uma “Planaltodependência” — uma relação de proximidade ao poder que facilita conquistas rápidas, mas que também pode comprometer negociações de longo prazo e colocar o partido em uma posição de vulnerabilidade estrutural.
“A questão é que o PT, como partido de governo, se acostumou com o Executivo; é uma dependência difícil de romper. O partido não completou o ciclo de reestruturação na oposição e acabou tomando um fast track para retornar ao poder,” analisou a fonte.
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Essa proximidade, segundo ele, faz com que o partido tenha dificuldades em garantir espaços estratégicos e sustentáveis em estruturas de longo prazo, como o TCU.
A vaga no TCU como moeda de troca
A promessa de Hugo Motta de apoiar um petista para uma eventual vaga no TCU é vista como uma moeda de altíssimo valor dentro do partido. A indicação de um aliado confiável para o tribunal, uma posição de poder considerável, poderia solidificar a influência do PT em uma instituição central para o controle de contas públicas e a fiscalização do Executivo. O membro da articulação comparou a relevância dessa indicação à escolha de figuras como Gilmar Mendes, que ocupou uma posição de peso no Supremo Tribunal Federal durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, e Ricardo Lewandowski, visto como um dos mais leais a Lula.
No entanto, o risco, segundo essa fonte, é que o partido acabe “vendendo barato” essa posição estratégica na tentativa de consolidar rapidamente sua influência no Executivo. “Tem um medo de vender barato, sabe, pela situação atual, o PT vender barato isso,” afirmou. Para ele, há receio de que o partido, ao se ver compelido a apoiar Motta sem uma análise mais profunda dos compromissos, possa perder força em uma negociação que exigiria mais cautela e tempo.
Desconfiança e o “jogo de almoçar para comprar a janta”
Nos bastidores, a expressão “Hugo Marmotta” reflete o ceticismo dos técnicos do Planalto quanto à possibilidade de Motta cumprir as promessas feitas, especialmente em cenários que envolvem reformas de peso ou alianças complexas que exigem um apoio sólido do governo. “É o jogo de vender o almoço para comprar a janta, com medo de negociar a um preço baixo demais", disse a fonte, explicando a lógica de acordos rápidos e de alto risco que podem deixar o PT vulnerável a concessões baratas e pouco vantajosas.
A coluna tentou contato com o gabinete da deputada Gleisi Hoffmann, um dos nomes cotados para a vaga no TCU, mas não houve confirmação nem negativa sobre a possibilidade de indicação. O gabinete afirmou apenas que "não há informações sobre o assunto," mantendo-se neutro.
Com o anúncio de apoio à Motta previsto para os próximos dias, técnicos e articuladores do governo permanecem céticos. O apelido irônico “Hugo Marmotta” reflete um receio cada vez mais presente no Planalto: o de que o PT possa estar jogando uma estratégia de curto prazo, sem garantir os ganhos duradouros que consolidariam sua posição. Em meio às promessas e incertezas, Motta terá de demonstrar que é capaz de manter os compromissos e provar que suas promessas não são meramente ilusórias.