Horas após a bancada do PT na Câmara, liderada por Odair Cunha (PT-MG), anunciar em entrevista coletiva o apoio a Hugo Motta (Republicanos-PB) para a sucessão na presidência da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), atual mandatário da Casa - e fiador da candidatura do deputado paraibano -, expôs publicamente a negociação feita com a base de Lula para garantir a cooptação do partido do presidente.
Na noite de quarta-feira (30), após Cunha dizer que o PT apoiaria Motta para garantir a paz institucional na casa, Lira deu entrevista e posou para fotos para a Folha de S.Paulo revelando o que foi prometido ao partido, numa negociação fisiológica, para fechar o grande acordo, que inclui o PL de Jair Bolsonaro, que formou consenso em torno de seu candidato na eleição, que acontece apenas em fevereiro de 2025.
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Em uma jogada ensaiada, Lira foi indagado pela Folha sobre "o que entrou no acordo para o PT apoiar Hugo Motta". O cacique alagoano inicialmente encenou uma tergiversação, mas fez questão de revelar que teve aval de Lula para construir uma candidatura de "consenso" para sua sucessão.
"Em todas as oportunidades que o presidente Lula pôde falar, disse que eu teria a preferência de conduzir a minha sucessão. Sempre tivemos conversa boa. Da mesma forma como eu mantenho com o ex-presidente [Jair] Bolsonaro. O PL e o PT estão no bloco majoritário e vão ficar juntos no mesmo bloco agora da segunda mesa", iniciou Lira.
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Sem indagar sobre outros partidos - nem mesmo o PL, citado pelo deputado -, jornalistas da Folha, então, deram a deixa para Lira expor a negociação fisiológica que teve com o partido do presidente.
"A gente sabe que sempre tem negociações de interesses dos partidos…", disse a Folha. "As negociações são administrativas. Espaços na mesa, nas comissões, as relatorias. E muitos partidos trazem pautas", respondeu Lira.
A pergunta, então, foi direta, mostrando que os jornalistas já haviam sido informados sobre o assunto: "A vaga do TCU entrou no acordo com o PT?".
Lira, então, expôs o acordo e, ainda, afirmou que o PT "reclama" de nunca ter tido um representante no Tribunal de Contas da União. A indicação de ministros para o TCU, no entanto, cabe ao presidente da República e não ao comandante da Câmara.
"Acho que é lícito, mas [ainda] não tem a vaga. Se houver, o PT solicitou, sim, a indicação da bancada deles. Eles reclamam politicamente que nunca tiveram um representante no TCU e, quando tiveram candidatos, não tiveram êxito no plenário, que é a segunda etapa", disse Lira.
As jornalistas, então, insistem: "Mas houve um compromisso?". E Lira confirma: "Com o PT, sim. De eles indicarem a vaga no TCU", disse, sobre a vaga de responsabilidade de Lula, que ocupa a Presidência.
Além da ilusória cadeira no TCU - que sequer tem vaga no momento -, Lira teria prometido ao PT o comando da primeira-secretaria da Câmara.
Omitido na entrevista, a negociata com o PL, de Bolsonaro, foi revelada pelo líder da bancada, Altineu Côrtes (PL-RJ), que participou da reunião que selou o acordo com Lira, juntamente com Bolsonaro e Valdemar da Costa Neto, presidente do PL.
"Pela proporcionalidade, ficaremos com a primeira vice-presidência e uma suplência", revelou sobre a promessa de Lira ao PL, bem mais vantajosa que a feita ao PT.
Desde 2015 na Câmara Federal, quando foi eleito pelo MDB, Côrtes fez parte da tropa de choque de Eduardo Cunha, atualmente no Republicanos de Motta, no golpe contra Dilma Rousseff (PT) em 2016.
Investigado em ao menos dois supostos esquemas de corrupção, Côrtes foi relator da CPI do BNDES durante o governo Jair Bolsonaro. A comissão foi criada para escarafunchar os contratos internacionais do banco estatal durante os governos Lula e Dilma e, sem sucesso, encontrar provas para as teses bolsonaristas sobre a atuação da Odebrecht em projetos em países como Cuba e Venezuela.
PL da Anistia
Lira ainda sinaliza que vai descumprir o acordo sobre o chamado PL da Anistia. Para fazer as negociatas em torno da eleição de Motta, o presidente da Câmara fez um acordo com Bolsonaro e criou uma Comissão Especial para analisar o projeto, tirando a tramitação da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da casa.
A manobra, em tese, jogaria a análise da proposta, que beneficia diretamente o ex-presidente, para 2025. No entanto, à Folha, Lira disse que ele mesmo dará uma "solução" ao caso durante seu mandato, que se encerra, na prática, em 2024 - após o recesso de fim de ano, os trabalhos na casa só são retomados em fevereiro, quando será realizada a eleição da mesa diretora.
"Conversei tanto com um partido quanto com outro. Nós vamos dar a solução para isso dentro do meu mandato, conversando e ouvindo muito, como sempre faço", disse ao ser indagado sobre o PL da Anistia.