Um relatório da Polícia Federal (PF) divulgado no âmbito do inquérito 2023.0050897-CGCINT/DIP/PF trouxe à tona detalhes alarmantes sobre o planejamento de um golpe de Estado no Brasil. A Operação Luneta, um plano estratégico que envolveu militares, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro e núcleos paralelos de inteligência. A partir de documentos como a planilha “Desenho Op Luneta” seria um complemento do plano “Punhal Verde Amarelo”, o desenho da operação descreve como o grupo pretendia desestabilizar as instituições democráticas e legitimar uma intervenção militar.
O capítulo 6.1 do relatório, intitulado “Do Planejamento Estratégico para o Golpe de Estado”, analisa com profundidade a Operação Luneta e suas conexões com as ações de desinformação, mobilização de forças especiais e neutralização de figuras-chave no cenário político e judicial.
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O “Desenho Op Luneta”: a base estratégica do plano golpista
O documento central da Operação Luneta, a planilha intitulada “Desenho Op Luneta”, foi encontrado em mídias eletrônicas durante as diligências da PF. Com mais de 200 linhas, a planilha divide ações em fatores fisiográficos, políticos, militares, econômicos e psicossociais. O objetivo principal era criar um ambiente favorável ao golpe, por meio de ações articuladas que combinavam desinformação, manipulação política e operações clandestinas.
Entre os trechos destacados pela PF, a planilha menciona a necessidade de neutralizar figuras de oposição e fragilizar as instituições democráticas. Segundo o relatório, “o objetivo final era a centralização do poder, sob justificativa de proteger a ordem e combater supostas fraudes eleitorais.”
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Uma das metas descritas no “Desenho Op Luneta” era consolidar uma narrativa de instabilidade institucional que justificasse a intervenção militar. Para isso, a disseminação de desinformação foi planejada em múltiplos canais, desde redes sociais até discursos oficiais.
Ações clandestinas e o plano “Punhal Verde Amarelo”
Outra peça central do relatório é o plano denominado “Punhal Verde Amarelo”, que detalhava as operações clandestinas para neutralizar alvos estratégicos. Segundo o documento, o plano incluía o monitoramento e a execução de figuras como o ministro Alexandre de Moraes, do STF e do TSE. O relatório descreve que, no dia 15 de dezembro de 2022, militares conhecidos como “Kids Pretos”, especializados em operações de guerra não convencional, estavam preparados para realizar a prisão ou assassinato de Moraes.
Trechos do relatório indicam que o plano também previa atentados contra o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e seu vice, Geraldo Alckmin. Entre os métodos propostos estavam o envenenamento e o uso de substâncias químicas. “O planejamento também estabelece a possibilidade, dentre as ações dos ‘Kids Pretos’, de assassinarem o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva por envenenamento ou uso de químicos,” afirma o relatório.
O plano foi submetido ao conhecimento de Jair Bolsonaro e seu círculo próximo. O general Braga Netto, figura central na articulação, participou de reuniões onde os detalhes do plano foram discutidos.
Divisão de tarefas e o papel da desinformação
O planejamento estratégico era sustentado por uma divisão rigorosa de tarefas entre diferentes núcleos:
- Núcleo Jurídico: Responsável por criar a narrativa legal que justificaria o golpe, incluindo minutas de decretos para intervenção no TSE.
- Núcleo Operacional: Liderado por militares especializados, tinha como foco a execução de ações clandestinas e o suporte logístico para manifestações.
- Núcleo de Desinformação: Coordenava campanhas massivas de fake news para desacreditar o sistema eleitoral e mobilizar a população.
- Núcleo de Inteligência Paralela: Atuava no monitoramento de adversários e na produção de informações falsas.
Uma das mensagens recuperadas pela PF mostra a preocupação dos articuladores em garantir que a narrativa de fraude eleitoral fosse amplamente difundida: “A credibilidade da urna já se esvaiu, assim como a reputação de ministros do STF [...] Estas questões devem ser massificadas,” dizia um dos documentos atribuídos a Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin.
Reuniões e articulações no Palácio do Planalto
A Operação Luneta era coordenada diretamente do Palácio do Planalto, com reuniões envolvendo Jair Bolsonaro, militares de alta patente e aliados políticos. O relatório detalha um encontro realizado em novembro de 2022, onde o plano foi ajustado e aprovado. Nessa reunião, foi discutida a formação de um “gabinete de crise” que assumiria o controle após a consumação do golpe.
Uma das mensagens interceptadas pela PF revela o teor das discussões: “Reunir alguns FE [Forças Especiais] em funções chaves para termos uma conversa sobre como podemos influenciar nossos chefes,” escreveu um dos militares envolvidos.
O fracasso da Operação Luneta
Embora o planejamento fosse extenso e meticuloso, o golpe de Estado não se concretizou. A resistência de alguns comandantes das Forças Armadas, como o general Freire Gomes, foi determinante. Segundo o relatório, “a falta de adesão de parte do alto comando do Exército inviabilizou as ações planejadas para o dia 15 de dezembro de 2022.”
No entanto, as ações clandestinas continuaram após essa data, culminando nos eventos violentos de 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília.