TRAMA GOLPISTA

ÁUDIO – Militares golpistas falam em guerra civil no Brasil: "Democrata é o cacete"

Diálogo entre coronel e general obtidos pela PF deixa claro que foi traçado um plano no governo Bolsonaro para impedir a posse de Lula após as eleições de 2022

O coronel Roberto Criscuoli.Créditos: Reprodução/Instagram/Facebook
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Coronel Criscuoli

Em um dos áudios de militares [OUÇA ACIMA] obtidos pela Polícia Federal (PF) no âmbito da investigação que apura a trama golpista para manter Jair Bolsonaro no poder após a derrota para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022, um coronel chega a falar em guerra civil no Brasil e clama para que o plano de golpe seja concretizado. 

O coronel em questão é Roberto Criscuoli, um "kid preto" – membro das Forças Especiais do Exército. Em mensagem por áudio enviada ao general general da reserva Mario Fernandes, ex-número dois da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro, Criscuoli disse que uma guerra civil aconteceria "agora ou depois" diante da vitória de Lula na eleição de outubro de 2022, mas que preferia a guerra civil "agora". 

Cabe lembrar que Mario Fernandes, o general para quem o coronel enviou a mensagem, foi preso na última semana pela PF apontado como o principal articulador de um plano golpista que envolvia assassinar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). 

"Se nós não tomarmos a rede agora, depois eu acho que vai ser pior. Na realidade vai ser guerra civil agora ou guerra civil depois. Só que a guerra civil agora tem um significativo, o povo tá na rua, nós temos aquele apoio maciço. Daqui a pouco nós vamos entrar numa guerra civil, porque daqui a alguns meses esse cara vai destruir o exército, vai destruir tudo. Aí o povo vai dizer assim, agora que mexeram com você, vocês vão pra rua. Se você resolve tomar... Então vai ficar feio", disparou o coronel Roberto Criscuoli. 

Na sequência, Criscuoli afirma que aquele momento, em novembro de 2022, seria o ideal para deflagrar o golpe de Estado pois "o povo tá na rua e pedindo", fazendo referência aos acampamentos de bolsonaristas em frente a quartéis do Exército, e uma "decisão" teria que ser tomada "urgente'. O militar, então, deixa claro que o plano consistiria em uma ação ilegal ao dizer que "não tem que ser mais democrata agora"

"Vai esperar virar uma Venezuela pra virar o jogo, cara? Democrata é o cacete. Não tem que ser mais democrata mais agora. Ah, não vou sair das quatro linhas. Acabou o jogo, pô. Não tem mais quatro linhas. Agora o povo da rua tá pedindo, pelo amor de Deus. Vai dar uma guerra civil? Vai dar, eu tenho certeza que vai dar, porque os vermelhos vão vir feroz. Mas nós estamos esperando o quê? Dando tempo pra eles se organizarem melhor? Pra guerra ser pior? Irmão, vamos agora. Fala com o 01 aí, cara. É agora", afirmou. 

Mercenários

Conforme revelou Cleber Lourenço, nesta Fórum, Roberto Raimundo Criscuoli, ex-tenente-coronel do Exército Brasileiro e ex-comandante do Centro de Instrução de Gericinó, foi investigado em um Inquérito Policial Militar (IPM) após autorizar o uso de instalações do Exército para treinamentos de mercenários, conectando seu nome a desvios de recursos públicos e interesses privados.

O episódio que levou Criscuoli a ser investigado em um IPM começou em 2005, quando ele autorizou que o Centro de Instrução de Gericinó, no Rio de Janeiro, fosse utilizado para treinar ex-militares brasileiros recrutados pela empresa First Line.

Representada pelos italianos Giovanni Spinelli, Cristiano Meli e Salvatore Miglio, que também atuavam como recrutadores, a First Line oferecia contratos de dois anos com salários de US$ 3 mil mensais, atraindo pelo menos cinco militares da reserva, entre eles dois sargentos, dois cabos e um soldado.

No entanto, investigações revelaram que a First Line operava com registros falsificados e sem oferecer garantias legais aos recrutados. O caso gerou um escândalo que culminou na exoneração de Criscuoli e do general Rui Monarca da Silveira.

Após deixar o Exército, associou-se à Stam Strategic, uma empresa internacional de segurança privada que opera em zonas de conflito ao redor do mundo.

A Stam tem entre seus líderes os mesmos Giovanni Spinelli e Salvatore Miglio, antigos recrutadores ligados ao episódio de Gericinó (RJ), reforçando a ligação de Criscuoli com redes que utilizam a expertise militar brasileira para atender demandas privadas.

A transnacional oferece serviços como mitigação de riscos, inteligência e treinamento, promovendo a atuação de ex-militares em missões de alto risco sem garantias trabalhistas ou jurídicas robustas. Essa relação entre Criscuoli, Spinelli e Miglio destaca a “porta giratória” entre o setor público e o privado, onde figuras militares utilizam sua experiência e conexões adquiridas no Exército para explorar mercados globais de segurança.