O coronel da reserva Roberto Raimundo Criscuoli, ex-tenente-coronel do Exército Brasileiro e ex-comandante do Centro de Instrução de Gericinó, figura como peça central em investigações sobre a tentativa de golpe de Estado no Brasil em 2022. Além de ser citado na Operação Contragolpe, que apura discursos e articulações antidemocráticas, Criscuoli carrega um histórico polêmico. Em 2005, foi investigado em um Inquérito Policial Militar (IPM) após autorizar o uso de instalações do Exército para treinamentos de mercenários, conectando seu nome a desvios de recursos públicos e interesses privados.
Criscuoli e o treinamento de mercenários
O episódio que levou Criscuoli a ser investigado em um IPM começou em 2005, quando ele autorizou que o Centro de Instrução de Gericinó, no Rio de Janeiro, fosse utilizado para treinar ex-militares brasileiros recrutados pela empresa First Line. Representada pelos italianos Giovanni Spinelli, Cristiano Meli e Salvatore Miglio, que também atuavam como recrutadores. A First Line oferecia contratos de dois anos com salários de US$ 3 mil mensais, atraindo pelo menos cinco militares da reserva, entre eles dois sargentos, dois cabos e um soldado.
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Os treinamentos incluíam simulações de combate e o uso de armamentos militares, com autorização direta do comando de Criscuoli. No entanto, investigações revelaram que a First Line operava com registros falsificados e sem oferecer garantias legais aos recrutados. O caso gerou um escândalo que culminou na exoneração de Criscuoli e do general Rui Monarca da Silveira.
Transição para o setor privado
Após deixar o Exército, associou-se à Stam Strategic, uma empresa internacional de segurança privada que opera em zonas de conflito ao redor do mundo. A Stam tem entre seus líderes os mesmos Giovanni Spinelli e Salvatore Miglio, antigos recrutadores ligados ao episódio de Gericinó (RJ), reforçando a ligação de Criscuoli com redes que utilizam a expertise militar brasileira para atender demandas privadas.
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A Stam oferece serviços como mitigação de riscos, inteligência e treinamento, promovendo a atuação de ex-militares em missões de alto risco sem garantias trabalhistas ou jurídicas robustas. Essa relação entre Criscuoli, Spinelli e Miglio destaca a “porta giratória” entre o setor público e o privado, onde figuras militares utilizam sua experiência e conexões adquiridas no Exército para explorar mercados globais de segurança.
Criscuoli e a Operação Contragolpe
Em 2022, Criscuoli voltou a ser mencionado em investigações de alto impacto, desta vez na Operação Contragolpe, que apura a tentativa de golpe de Estado após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Relatórios da Polícia Federal revelaram mensagens trocadas entre o coronel e o general Mário Fernandes, preso pela PF, onde Criscuoli afirmou: “Democrata é o cacete” e que “não tem que ser mais democrata agora”.
As mensagens sugerem alinhamento de Criscuoli com discursos antidemocráticos e indicam sua possível participação em articulações para desestabilizar o governo eleito. Embora negue envolvimento direto, à imprensa o coronel admitiu que as conversas refletiam o clima político tenso da época. Sua menção nas investigações levanta questionamentos sobre o papel de militares da reserva em redes que promovem a ruptura institucional.
A conexão entre passado e presente
O envolvimento de Criscuoli na tentativa de golpe conecta seu histórico de uso de recursos públicos para treinar mercenários ao atual contexto de articulações antidemocráticas. Sua transição para o setor privado, onde atua ao lado de antigos recrutadores, e sua continuidade em redes de influência política e militar mostram como brechas institucionais são exploradas para agendas que colocam em risco a democracia.
Além de ser uma figura relevante no mercado de segurança privada, Criscuoli exemplifica como militares da reserva podem utilizar sua formação e rede de contatos para transitar entre interesses privados e políticos, muitas vezes em detrimento do bem público.
A necessidade de regulação
O caso de Roberto Criscuoli evidencia a urgência de maior supervisão sobre as atividades de militares da ativa e da reserva no Brasil. Sem mecanismos claros de controle, figuras como ele continuarão a explorar a fragilidade das instituições e a transitar livremente entre funções públicas e privadas, ampliando redes de influência que comprometem a soberania institucional e a estabilidade democrática.
As menções de Criscuoli tanto no IPM de 2005 quanto na Operação Contragolpe mostram um padrão preocupante que precisa ser enfrentado com mais rigor, seja no âmbito militar ou político.