DESESPERO NO CLÃ

Bolsonaro se vitimiza com vídeo nas redes e toma invertida histórica

Após o filho Flávio dizer que "vontade de matar alguém todo mundo alguma vez na vida já teve" para justificar os planos de assassinato de Lula, Bolsonaro publicou vídeo para se vitimizar e segue calado sobre a investigação da PF

Jair Bolsonaro em ato no Rio de Janeiro.Créditos: Fernando Frazão/Agência Brasil
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Acuado com a possibilidade cada dia mais iminente de ir para a prisão - seja preventiva ou condenado por liderar uma tentativa de golpe de Estado -, Jair Bolsonaro (PL) se vitimizou publicando um vídeo nas redes sociais nesta quarta-feira (20).

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No entanto, a estratégia covarde do ex-presidente - que ainda não se pronunciou sobre o plano tramado por um ex-assessor militar seu para assassinar Lula, Geraldo Alckmin (PSB) e Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) - resultou em uma invertida histórica.

Após o filho Flávio Bolsonaro (PL-RJ) dizer que "vontade de matar alguém todo mundo alguma vez na vida já teve" para justificar os planos de assassinato das autoridades, o ex-presidente resgatou um vídeo em que um homem não identificado diz que ele tem que ser assassinado. O vídeo foi publicado sem legenda.

No entanto, Bolsonaro foi lembrado de um detalhe importante pelo cientista político Caio Barbosa, da USP, que pesquisa justamente o bolsonarismo e a direita brasileira.

"Esse cara tem cargo no governo?", indagou sobre o homem que aparece no vídeo. "Não? Ufa, pensei que era um plano do governo junto a militares pra dar um golpe", disparou Barbosa, em invertida histórica.

Na mesma publicação, diversos seguidores ironizaram pela iminente possibilidade de prisão do Bolsonaro com um "tic-tac".

Desespero no clã

A publicação mostra o desespero do clã Bolsonaro com a revelação do plano de assassinato incluído na intentona golpista articulada pelo ex-presidente em 2022, quando foi derrotado nas urnas pelo presidente Lula.

Filho "01", Flávio Bolsonaro soltou uma pérola ao falar sobre o tema durante sessão da Comissão de Segurança Pública que debatia sobre a situação de presos nos atos golpistas de 8 de janeiro.

"Essa situação de hoje não era nem para ter inquérito aberto. Vontade de matar alguém todo mundo alguma vez na vida já teve. Por mais que seja abominável esse sentimento, isso não é crime", afirmou.

Aos berros, o irmão, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tentou levar a tese adiante.

"Vamos prender, então, o jornalista da Folha que escreveu que queria a morte de Jair Bolsonaro. Vamos prender a pessoa que fez a peça publicitária jogando bola com a cabeça de Bolsonaro decapitado. É isso que a gente quer? É isso que vocês da imprensa querem?", disparou, ignorando que há uma investigação ampla sobre um golpe de Estado, que inclui o plano de assassinato de autoridades.

Já Carlos Bolsonaro (PL-RJ) resgatou uma já conhecida estratégia na manhã desta quarta-feira (20).

Em publicações nos Stories de seu perfil no Instagram, Carlos Bolsonaro expôs, mais uma vez, foto do pai sem camisa em uma maca de hospital em uma das internações que o ex-presidente teve desde a facada desferida durante a campanha em 2018.

Na imagem, Bolsonaro aparece internado sobre os dizeres: "esse sim realmente sofreu uma tentativa de assassinato".

A estratégia de publicar fotos do pai internado por causa da facada é repetida por Carlos Bolsonaro em todos os momentos de crise que atingem o ex-presidente.

O crime é outro

O professor de Direito Constitucionalista Pedro Serrano lembra que “neste caso, o crime é tentativa de golpe. O tipo penal não é dar um golpe”, adverte.

“Não existe crime em dar um golpe porque uma vez que se dá um golpe você funda uma nova ordem jurídica e, obviamente, os novos governantes não vão considerar o que eles fizeram um crime”, explica.

"Você inicia uma tentativa de golpe quando você se reúne, começa a fazer o planejamento. E isso não é só no Brasil. A Alemanha prendeu 20 pessoas no ano passado, inclusive um empresário ligado ao bolsonarismo, pelo simples fato de fazerem reunião planejando dar um golpe”, recorda o jurista.

“Neste caso”, prossegue Serrano, “eu não tenho dúvidas que eles começaram com a execução da tentativa. Eles seguiram um ministro de Estado, acompanharam a vida do Lula, do Alckmin e do Alexandre de Moraes, autoridades que, segundo o planejamento deles, seriam mortas. Isso, evidentemente, é iniciar a execução de uma tentativa de golpe, além da conspiração”, encerrou.