FORÇAS ARMADAS

Major usou dados de civil após acidente para planejar golpe de Estado, revela PF

Rafael Martins de Oliveira, do Exército, roubou informações de Lafaiete Teixeira Caitano para registrar linha telefônica usada em operação clandestina antidemocrática

Créditos: Agência Brasil
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Uma investigação da Polícia Federal revelou que o major do Exército Rafael Martins de Oliveira utilizou de forma fraudulenta os documentos de um civil, Lafaiete Teixeira Caitano, para habilitar uma linha telefônica usada no planejamento de ações clandestinas associadas à tentativa de golpe de Estado de 2022. O roubo dos dados ocorreu após um acidente de trânsito envolvendo o militar e Lafaiete, em um trecho da rodovia BR-060, próximo a Brasília.

O relatório da PF detalha que, na noite de 24 de novembro de 2022, Lafaiete dirigia seu veículo Chevrolet Cruze quando colidiu com um VW T-Cross conduzido por Rafael Martins. O acidente ocorreu em um trecho conhecido como “Sete Curvas,” onde a pista estava parcialmente bloqueada devido a outro acidente envolvendo uma carreta. Após a colisão, Lafaiete e Rafael conversaram e acionaram a seguradora para retirar os veículos da via.

Enquanto aguardavam o atendimento, Rafael Martins fotografou a CNH e o certificado de registro e licenciamento do veículo de Lafaiete. Essas imagens foram registradas no celular de Rafael às 01h37min e 01h38min do dia seguinte, e suas coordenadas geográficas apontam que as fotos foram tiradas a 600 metros do Restaurante Sete Curvas, na rodovia BR-060.

Uso dos dados no planejamento golpista

Dias após o acidente, os dados de Lafaiete foram usados para habilitar a linha telefônica (61) 98178-9891, que foi empregada no grupo de mensagens clandestino denominado "Copa 2022". Esse grupo, criado no aplicativo Signal, era formado por militares e outros envolvidos no planejamento de um golpe de Estado. Rafael Martins participava das conversas sob o codinome “Diogo Bast”.

As mensagens trocadas no grupo revelaram um planejamento minucioso, incluindo a organização de ações para monitorar e possivelmente capturar o ministro Alexandre de Moraes. A linha telefônica registrada em nome de Lafaiete foi uma das várias utilizadas pelo grupo para evitar rastreamento, uma técnica descrita pela PF como prática comum entre forças especiais.

Além disso, os metadados do celular de Rafael confirmaram que o número fraudulento foi ativado em um aparelho pertencente ao militar. Perícias identificaram que o aparelho também estava vinculado ao Apple ID diogo.bastardo@icloud.com, criado poucos dias antes do início das ações clandestinas.

Estratégias de anonimização e ocultação

A Polícia Federal destacou que Rafael Martins utilizou técnicas de anonimização para dificultar sua identificação e a de outros participantes. Isso incluiu o uso de dados de terceiros, como os de Lafaiete, para registrar linhas telefônicas e evitar que as ações fossem associadas diretamente aos investigados.

O envolvimento de Rafael e sua relação com outros militares de alta patente foi corroborado por mensagens e registros obtidos em seu celular. O relatório também aponta que o grupo discutia abertamente estratégias logísticas, como alocação de recursos para transporte e materiais, incluindo um orçamento estimado em R$ 100 mil para ações clandestinas.

Implicações e desdobramentos

O uso fraudulento dos dados de Lafaiete reforça as acusações contra os envolvidos e demonstra a sofisticação do planejamento golpista. A investigação da Polícia Federal detalha que as ações do grupo incluíram monitoramento direto do ministro Alexandre de Moraes, com planos para capturá-lo ou executá-lo no caso de sucesso do golpe.

O caso segue sob análise do Supremo Tribunal Federal, onde o ministro Alexandre de Moraes é também vítima e relator do processo. O envolvimento de militares em ações que violam o Estado Democrático de Direito lança luz sobre a necessidade de maior controle e responsabilização dentro das Forças Armadas.

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