PLANO DESCOBERTO

Mensagem sobre “Lula envenenado” rodou grupos bolsonaristas dias antes de reunião com Braga Netto

Investigação revela plano envolvendo militares, atentados contra Lula e Alckmin e estratégias de desinformação em grupos bolsonaristas

Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Uma investigação da Polícia Federal detalhou um complexo esquema golpista que articulava atentados contra lideranças políticas, manipulação da opinião pública e ações clandestinas lideradas por militares. Entre os alvos, estavam o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e seu vice, Geraldo Alckmin. Documentos revelam que a operação incluía um plano para neutralizar fisicamente a chapa eleita e minar a legitimidade das instituições democráticas, enquanto mensagens conspiratórias circulavam amplamente em grupos bolsonaristas para mobilizar a base e justificar uma possível intervenção militar.

Em 9 de novembro de 2022, três dias antes de uma reunião estratégica na residência do General Walter Braga Netto, mensagens começaram a circular em grupos bolsonaristas de aplicativos de mensagens e Telegram. Uma delas sugeria que a “morte de Lula” poderia ser causada por envenenamento ou encenada como “morte forjada para fuga”. A mensagem incentivava os apoiadores a permanecerem acampados em frente aos quartéis e se organizarem para pressionar as Forças Armadas por uma intervenção.

Print com a mensagem falando sobre "o envenenamento do presidente Lula".

Essa narrativa fazia parte de uma estratégia identificada nos documentos como “Linha de Operação Informacional”, cujo objetivo era disseminar desinformação, fomentar paranoia e desestabilizar a confiança nas eleições e nas instituições brasileiras.

O plano de atentado contra Lula

De acordo com os documentos investigativos, o plano para atacar Lula e Alckmin foi denominado “Punhal Verde Amarelo”. O objetivo era neutralizar fisicamente a chapa eleita antes da posse, impedindo a transição democrática. Essa operação estava inserida em uma estratégia mais ampla que também previa a prisão ou execução de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como Alexandre de Moraes, e o uso de narrativas manipuladoras para justificar tais atos.

As investigações mostraram que o núcleo operacional contava com militares treinados em forças especiais, capacitados para conduzir operações clandestinas com alto nível de sofisticação técnica. Entre os métodos discutidos, estava o uso de técnicas de monitoramento e possível execução por envenenamento, conforme relatado nas mensagens trocadas entre os envolvidos.

Mobilização em redes bolsonaristas: desinformação como ferramenta

As mensagens compartilhadas em 9 de novembro de 2022 são exemplos claros da estratégia de desinformação integrada ao plano golpista. Disseminadas em diversos grupos bolsonaristas, elas sugeriam cenários fictícios, como a morte de Lula por “envenenamento da própria esquerda” ou “morte forjada para fuga”, com o intuito de mobilizar apoiadores e gerar desconfiança. A mensagem também reforçava o chamado para acampamentos em frente aos quartéis e greves gerais, exigindo uma intervenção militar.

Esse conteúdo está alinhado ao que os documentos definem como “Linha de Operação Informacional”, que tinha os seguintes objetivos:

- Promover narrativas de fraude eleitoral para desacreditar o processo democrático.

- Ampliar o sentimento de paranoia e desconfiança no sistema eleitoral e nas instituições, especialmente o STF e o TSE.

- Justificar uma intervenção militar, apresentando-a como única solução para restabelecer a ordem.

Reunião estratégica e planejamento clandestino

Três dias após a circulação dessas mensagens, em 12 de novembro de 2022, lideranças militares e civis se reuniram na residência do General Walter Braga Netto para dar seguimento aos planos golpistas. Entre os presentes estavam Mauro César Barbosa Cid, Major Rafael Martins de Oliveira e Tenente-Coronel Ferreira Lima. Na reunião, discutiram a logística das ações, incluindo orçamento, recursos e recrutamento de participantes.

Mensagens interceptadas pela Polícia Federal mostram que, após o encontro, os envolvidos começaram a planejar a execução prática do golpe. Um arquivo nomeado “Copa 2022” foi compartilhado entre eles, contendo estimativas de custos para transporte, alimentação e equipamentos necessários para a operação. Técnicas de anonimização, como a habilitação de linhas telefônicas em nome de terceiros, foram usadas para dificultar o rastreamento das comunicações.

Operação "Copa 2022" e ações clandestinas

Os documentos também revelam detalhes da operação “Copa 2022”, que previa o monitoramento e possível captura de ministros do STF. A operação utilizava codinomes como “Argentina”, “Áustria” e “Japão” para designar os envolvidos e pontos de ação estratégicos. A ação mais avançada ocorreu em 15 de dezembro de 2022, quando o grupo organizou uma operação clandestina nas proximidades da residência funcional do Ministro Alexandre de Moraes, com o objetivo de realizar sua prisão ou execução.

As movimentações clandestinas incluíram o uso de veículos não identificáveis e o deslocamento coordenado de equipes em Brasília, demonstrando um elevado nível de planejamento e organização. Mensagens trocadas entre os envolvidos indicam que as ações foram abortadas devido a contratempos logísticos.

Um ataque articulado à democracia

A combinação de desinformação em massa e operações clandestinas evidencia a gravidade do ataque planejado contra a democracia brasileira. As mensagens disseminadas em 9 de novembro de 2022 e a reunião estratégica subsequente mostram como o grupo articulava ações em múltiplos níveis, unindo narrativa e logística em uma tentativa de justificar e implementar o golpe.

As investigações continuam em andamento, e os documentos já revelados destacam como redes bolsonaristas foram instrumentalizadas para apoiar o plano golpista. Enquanto isso, as autoridades buscam identificar e responsabilizar todos os envolvidos em um dos maiores atentados à democracia nacional.