Uma investigação da Polícia Federal detalhou um complexo esquema golpista que articulava atentados contra lideranças políticas, manipulação da opinião pública e ações clandestinas lideradas por militares. Entre os alvos, estavam o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e seu vice, Geraldo Alckmin. Documentos revelam que a operação incluía um plano para neutralizar fisicamente a chapa eleita e minar a legitimidade das instituições democráticas, enquanto mensagens conspiratórias circulavam amplamente em grupos bolsonaristas para mobilizar a base e justificar uma possível intervenção militar.
Em 9 de novembro de 2022, três dias antes de uma reunião estratégica na residência do General Walter Braga Netto, mensagens começaram a circular em grupos bolsonaristas de aplicativos de mensagens e Telegram. Uma delas sugeria que a “morte de Lula” poderia ser causada por envenenamento ou encenada como “morte forjada para fuga”. A mensagem incentivava os apoiadores a permanecerem acampados em frente aos quartéis e se organizarem para pressionar as Forças Armadas por uma intervenção.
Essa narrativa fazia parte de uma estratégia identificada nos documentos como “Linha de Operação Informacional”, cujo objetivo era disseminar desinformação, fomentar paranoia e desestabilizar a confiança nas eleições e nas instituições brasileiras.
O plano de atentado contra Lula
De acordo com os documentos investigativos, o plano para atacar Lula e Alckmin foi denominado “Punhal Verde Amarelo”. O objetivo era neutralizar fisicamente a chapa eleita antes da posse, impedindo a transição democrática. Essa operação estava inserida em uma estratégia mais ampla que também previa a prisão ou execução de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como Alexandre de Moraes, e o uso de narrativas manipuladoras para justificar tais atos.
As investigações mostraram que o núcleo operacional contava com militares treinados em forças especiais, capacitados para conduzir operações clandestinas com alto nível de sofisticação técnica. Entre os métodos discutidos, estava o uso de técnicas de monitoramento e possível execução por envenenamento, conforme relatado nas mensagens trocadas entre os envolvidos.
Mobilização em redes bolsonaristas: desinformação como ferramenta
As mensagens compartilhadas em 9 de novembro de 2022 são exemplos claros da estratégia de desinformação integrada ao plano golpista. Disseminadas em diversos grupos bolsonaristas, elas sugeriam cenários fictícios, como a morte de Lula por “envenenamento da própria esquerda” ou “morte forjada para fuga”, com o intuito de mobilizar apoiadores e gerar desconfiança. A mensagem também reforçava o chamado para acampamentos em frente aos quartéis e greves gerais, exigindo uma intervenção militar.
Esse conteúdo está alinhado ao que os documentos definem como “Linha de Operação Informacional”, que tinha os seguintes objetivos:
- Promover narrativas de fraude eleitoral para desacreditar o processo democrático.
- Ampliar o sentimento de paranoia e desconfiança no sistema eleitoral e nas instituições, especialmente o STF e o TSE.
- Justificar uma intervenção militar, apresentando-a como única solução para restabelecer a ordem.
Reunião estratégica e planejamento clandestino
Três dias após a circulação dessas mensagens, em 12 de novembro de 2022, lideranças militares e civis se reuniram na residência do General Walter Braga Netto para dar seguimento aos planos golpistas. Entre os presentes estavam Mauro César Barbosa Cid, Major Rafael Martins de Oliveira e Tenente-Coronel Ferreira Lima. Na reunião, discutiram a logística das ações, incluindo orçamento, recursos e recrutamento de participantes.
Mensagens interceptadas pela Polícia Federal mostram que, após o encontro, os envolvidos começaram a planejar a execução prática do golpe. Um arquivo nomeado “Copa 2022” foi compartilhado entre eles, contendo estimativas de custos para transporte, alimentação e equipamentos necessários para a operação. Técnicas de anonimização, como a habilitação de linhas telefônicas em nome de terceiros, foram usadas para dificultar o rastreamento das comunicações.
Operação "Copa 2022" e ações clandestinas
Os documentos também revelam detalhes da operação “Copa 2022”, que previa o monitoramento e possível captura de ministros do STF. A operação utilizava codinomes como “Argentina”, “Áustria” e “Japão” para designar os envolvidos e pontos de ação estratégicos. A ação mais avançada ocorreu em 15 de dezembro de 2022, quando o grupo organizou uma operação clandestina nas proximidades da residência funcional do Ministro Alexandre de Moraes, com o objetivo de realizar sua prisão ou execução.
As movimentações clandestinas incluíram o uso de veículos não identificáveis e o deslocamento coordenado de equipes em Brasília, demonstrando um elevado nível de planejamento e organização. Mensagens trocadas entre os envolvidos indicam que as ações foram abortadas devido a contratempos logísticos.
Um ataque articulado à democracia
A combinação de desinformação em massa e operações clandestinas evidencia a gravidade do ataque planejado contra a democracia brasileira. As mensagens disseminadas em 9 de novembro de 2022 e a reunião estratégica subsequente mostram como o grupo articulava ações em múltiplos níveis, unindo narrativa e logística em uma tentativa de justificar e implementar o golpe.
As investigações continuam em andamento, e os documentos já revelados destacam como redes bolsonaristas foram instrumentalizadas para apoiar o plano golpista. Enquanto isso, as autoridades buscam identificar e responsabilizar todos os envolvidos em um dos maiores atentados à democracia nacional.