DEMOCRACIA INABALADA

VÍDEO - Lula sobe o tom contra Bolsonaro, fala em derrota do fascismo e dispara: "Não há perdão para golpistas"

Em discurso no evento que marca 1 ano dos atos golpistas, mandatário cita planos de bolsonaristas para enforcar autoridades em praça pública e atribui responsabilidade a Bolsonaro

Lula discursa no ato Democracia Inabalada, que marca 1 ano dos atos golpistas de 8 de janeiro.Créditos: Mario Agra/Câmara dos Deputados
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um forte discurso no evento "Democracia Inabalada", realizado por autoridades dos Três Poderes da República, nesta segunda-feira (8), para celebrar a manutenção da democracia no marco de um ano dos atos golpistas promovidos por bolsonaristas radicais em Brasília. 

Em sua fala, o mandatário saudou "todos os brasileiros e as brasileiras que se colocaram acima das divergências para dizer um eloquente não ao fascismo" e defendeu "punição exemplar" a todos aqueles envolvidos direta ou indiretamente no levante antidemocrático. 

"Todos aqueles que financiaram, planejaram e executaram a tentativa de golpe devem ser exemplarmente punidos. Não há perdão para quem atenta contra a democracia, contra seu país e contra o seu próprio povo. O perdão soaria como impunidade. E a impunidade, como salvo-conduto para novos atos terroristas."

Em outro trecho de sua fala, Lula citou os planos de bolsonaristas para enforcar em praça pública autoridades constituídas, a exemplo do relato recente feito pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), um dos principais alvos dos golpistas, e ainda responsabilizou diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro pelos crimes cometidos em 8 de janeiro. 

Segundo o presidente, se a tentativa de golpe tivesse obtido êxito, "o Brasil estaria mergulhado no caos econômico e social". 

"Adversários políticos e autoridades constituídas poderiam ser fuzilados ou enforcados em praça pública – a julgar por aquilo que o ex-presidente golpista pregou em campanha, e seus seguidores tramaram nas redes sociais".  

Além do presidente da República, marcaram presença no evento, realizado no Salão Negro do Congresso Nacional, os presidentes do STF, Luís Roberto Barroso, e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), cancelou sua participação de última hora. Compareceram à cerimônia, ainda, ministros do governo Lula, governadores e inúmeras autoridades, incluindo ministros de cortes superiores e o procurador-geral da República, Paulo Gonet. 

Assista abaixo à íntegra do ato e leia o discurso de Lula 

Discurso de Lula: 

"Senhoras e senhores,
meus amigos e minhas amigas.

Quero em primeiro lugar saudar todos os brasileiros e as brasileiras que se colocaram acima das divergências para dizer um eloquente NÃO ao fascismo. Porque somente na democracia as divergências podem coexistir em paz.

Quero fazer uma saudação especial a todas e todos que no dia seguinte à tentativa de golpe caminharam de braços dados do Palácio do Planalto ao Supremo Tribunal Federal, em defesa da democracia.

Nunca uma caminhada tão curta teve alcance histórico tão grande.

A coragem de parlamentares, governadores e governadoras, ministros e ministras da Suprema Corte, ministros e ministras de Estado, militares legalistas e, sobretudo, da maioria do povo brasileiro garantiu que nós estivéssemos aqui hoje celebrando a vitória da democracia sobre o autoritarismo.

Aproveito para saudar os trabalhadores e as trabalhadoras das forças de segurança – em especial a Polícia Legislativa – que, mesmo em minoria, se recusaram a aderir ao golpe e arriscaram suas vidas no cumprimento do dever.

Se a tentativa de golpe fosse bem-sucedida, muito mais do que vidraças, móveis, obras de arte e objetos históricos teriam sido roubados ou destruídos.

A vontade soberana do povo brasileiro, expressa nas urnas, teria sido roubada. E a democracia, destruída.

A esta altura, o Brasil estaria mergulhado no caos econômico e social. O combate à fome e às desigualdades teria voltado à estaca zero.

Nosso país estaria novamente isolado do mundo, e a Amazônia em pouco tempo reduzida a cinzas para a boiada e o garimpo ilegal passarem.

Adversários políticos e autoridades constituídas poderiam ser fuzilados ou enforcados em praça pública – a julgar por aquilo que o ex-presidente golpista pregou em campanha, e seus seguidores tramaram nas redes sociais.

Todos aqueles que financiaram, planejaram e executaram a tentativa de golpe devem ser exemplarmente punidos.

Não há perdão para quem atenta contra a democracia, contra seu país e contra o seu próprio povo.

O perdão soaria como impunidade. E a impunidade, como salvo conduto para novos atos terroristas.

Salvamos a democracia. Mas a democracia nunca está pronta,  precisa ser construída e cuidada todos os dias.

A democracia é imperfeita, porque somos humanos – e, portanto, imperfeitos.

Mas temos, todas e todos, o dever de unir esforços para aperfeiçoá-la.

Meus amigos, e minhas amigas.

A fome é inimiga da democracia.

Não haverá democracia plena enquanto persistirem as desigualdades – seja de renda, raça, gênero, orientação sexual, acesso à saúde, educação e demais serviços públicos.

Uma criança sem acesso à educação não aprenderá o significado da palavra democracia.

Um pai ou uma mãe de família no semáforo, empunhando um cartaz escrito “Me ajudem pelo amor de Deus”, tampouco saberá o que é democracia.

Aperfeiçoar a democracia é reconhecer que democracia para poucos não é democracia.

Se fomos capazes de deixar as divergências de lado para defendermos o regime democrático, somos também capazes de nos unirmos para construir um país mais justo e menos desigual. 

Minhas amigas e meus amigos.

Não há democracia sem liberdade.

Mas que ninguém confunda liberdade com permissão para atentar contra a democracia.

Liberdade não é uma autorização para espalhar mentiras sobre as vacinas nas redes sociais, o que pode ter levado centenas de milhares de brasileiros à morte por Covid.

Liberdade não é o direito de pregar a instalação de um regime autoritário e o assassinato de adversários.

As mentiras, a desinformação e os discursos de ódio foram o combustível para o 8 de janeiro.

Nossa democracia estará sob constante ameaça, enquanto não formos firmes na regulação das redes sociais.

Nos dias, semanas e meses que se seguiram à tentativa de golpe, reformamos as sedes dos Três Poderes. Trocamos vidraças, removemos a sujeira, restauramos obras de arte, recuperamos objetos históricos.

E, acima de tudo, reafirmamos o valor da democracia para o Brasil e para o mundo.

Agora é preciso avançar cada vez mais na construção de uma democracia plena.

Uma democracia que se traduza em igualdade de direitos e oportunidades. Que promova a melhoria da qualidade de vida, sobretudo para quem mais precisa.

Estamos nessa caminhada, e chegaremos mais longe se caminharmos de braços dados.

Quero terminar renovando o que disse no meu discurso de posse, neste Congresso Nacional:

Democracia sempre.

Muito obrigado"