DERROTADO

Proposta de CPI contra padre Júlio perde 8 assinaturas e é inviabilizada em SP

Iniciativa grotesca de vereador de extrema direita gerou indignação em todo Brasil e mostrou face cruel do bolsonarismo “cristão”. Veja quem são os parlamentares

Padre Júlio Lancellotti atendendo à população de rua em SP.Créditos: Instagram/Reprodução
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A iniciativa abjeta do vereador bolsonarista Rubinho Nunes (União Brasil), um extremista que ocupa assento na Câmara Municipal de São Paulo, de dar início a uma CPI para investigar e perseguir o padre Júlio Lancellotti, que lidera a Pastoral do Povo da Rua, parece ter subido no telhado. Após as verdadeiras intenções do radical reacionário virem à tona, já são oito os vereadores que retiraram suas assinaturas da proposta, que com o número atual de apoiadores se tornou inviável.

“É um dever moral defender nosso padre Júlio Lancellotti! Dedica seu tempo, sua vida e sua integridade física (que mundo louco) em nome dos pobres. Não pode ser atacado por loucos fanáticos”, disse o vereador Dr. Nunes Peixeiro (MDB), da base aliada do governo do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Peixeiro não foi o único a retirar o apoio ao que pensou ser uma CPI para investigar as contas de ONGs que atuam no município. Até entre parlamentares evangélicos a iniciativa, contra um membro do clero católico, pegou muito mal. As palavras do vereador Beto do Social (PSDB).

“Nunca imaginei que era para investigar a Igreja Católica, sou o maior ‘investidor’ da Igreja Católica, sou evangélico, da Igreja Quadrangular, mas admiro o trabalho da Igreja Católica e o trabalho do Padre Júlio Lancellotti. Como eu ia assinar uma CPI contra Igreja Católica?”, disparou indignado.

Quem também determinou a retirada de sua assinatura do requerimento de CPI e protestou fortemente contra a iniciativa absurda do bolsonarista foi o vereador Milton Ferreira (Podemos), que assim como colegas explicou que o texto proposto em momento algum fala do clérigo que dedica a vida a cuidar de quem não tem um lar para morar.

“Não consta em nenhum documento que essa CPI seria para atingir o Padre Júlio Lancellotti, o qual conheço e tenho grande apreço. Sei que não recebe quaisquer verbas públicas para realizar seu trabalho. Diante dos fatos, já pedi a retirada de minha assinatura dessa CPI e expresso meus sinceros votos de estima e consideração ao prezado padre Júlio”, justificou Ferreira.

Ainda na quinta-feira (4), o vereador Thammy Miranda (PL) anunciou seu desacordo com a proposta de Rubinho, fazendo em seguida uma live com o padre Júlio Lancellotti, pedindo desculpas pelo equívoco. Ele disse que a intenção do autor da proposta foi enganar os parceiros da Câmara, visto que escondeu o verdadeiro motivo da tentativa de instalação da CPI.

“Nós fomos enganados e apunhalados pelas costas. O documento de CPI que assinamos nunca citou o padre Júlio e usou de uma situação séria para angariar apoio. 90% dos vereadores que assinaram esse pedido não sabiam desse direcionamento político do vereador [Rubinho] nessa CPI. Eu e meus colegas estamos do mesmo lado do padre Júlio, de cuidar das pessoas. Lamento essa politização que o vereador fez do assunto e já pedi pra minha assessoria jurídica acionar a Casa e retirar meu apoio desse projeto”, afirmou o vereador.

Dentre os edis, o mais irritado com a atitude Rubinho Nunes era Xexéu Tripoli (PSDB), líder da bancada de defesa dos direitos dos animais no parlamento paulistano. Enfurecido, ele revelou que entrou em contato com o autor da proposta e que “deu uma dura” no bolsonarista.

“Já liguei para o Rubinho e dei um esculacho nele. Esse uso político que ele fez nas redes sociais usando o nosso nome para atacar um trabalho sério como do padre Júlio é inaceitável. Vou votar contra no plenário a qualquer tentativa de convocar o padre ou qualquer outra pessoa que tenha trabalho social sério em SP”, disse.

Além de Dr. Nunes Peixeiro (MDB), Beto do Social (PSDB), Milton Ferreira (Podemos), Thammy Miranda (PL) e Xexéu Trípoli (PSDB), também retiraram as assinaturas os vereadores João Jorge (PSDB), Sidney Cruz (Solidariedade) e Sandra Tadeu (União Brasil), o que inviabilizou totalmente a instauração da Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara Municipal de São Paulo.