O padre Júlio Lancellotti participou na noite desta quinta-feira (4) de uma live no Instagram com o vereador Thammy Miranda (PL-SP).
O encontro virtual acontece em meio à perseguição que a extrema direita paulistana vem promovendo contra o religioso, que se tornou alvo de uma CPI na Câmara Municipal de São Paulo, encabeçada pelo vereador Rubinho Nunes (União Brasil), a ser aberta após o recesso parlamentar.
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Ao longo do dia, Thammy foi alvo de críticas por ter assinado o requerimento de abertura da CPI, que tem o objetivo escuso de criminalizar a atuação de Lancellotti junto à população mais vulnerável da cidade, principalmente pessoas em situação de rua e dependentes químicos. O vereador, entretanto, disse que foi enganado por Rubinho Nunes e que, se soubesse que a investigação miraria o religioso, jamais teria assinado.
"Quando eu assinei a CPI, em nenhum momento estava citado o nome do senhor, se tivessem me apresentado uma CPI para investigar o padre Júlio, eu jamais teria assinado", declarou Thammy na live.
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"Padre, conta comigo no que eu puder ajudar, inclusive financeiramente. Conta comigo. As pessoas que me seguem e realmente gostam de mim e com certeza vão ajudar o senhor a continuar esse trabalho tão bonito", prosseguiu.
Padre Júlio, por sua vez, agradeceu Thammy pelo posicionamento e fez uma fala emocionante.
"A sua transparência e a sua gentiliza, eu agradeço muito. É muito importante, mesmo que nos joguem em posições falsas antagônicas. Nós somos capazes de romper essas barreiras. Às vezes colocam pedras nos nossos caminhos, e em vez de fazermos muros, vamos fazer pontes. E é tão bom olhar para você, estarmos juntos para servirmos os nossos irmãos e nossas irmãs".
Assista a um trecho da live
Padre Júlio e a CPI
Conhecido por suas ações em prol da população em situação de rua de São Paulo, Júlio Lancellotti é pároco da paróquia de São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca (SP). Com 75 anos, padre Júlio tem uma trajetória de vida dedicada à garantia dos direitos humanos dessa população.
Por mais de três décadas, ele realiza ações em que oferece não só refeições e kits de higiene, mas também atenção, carinho e afeto às pessoas em situação de vulnerabilidade social. Hoje, Júlio Lancellotti coordena a Pastoral do Povo da Rua, da Arquidiocese de São Paulo.
Além disso, padre Júlio também participa Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo, que atua pela promoção e defesa da criança e do adolescente, desrespeitados em seus direitos humanos. Em 1991 fundou a Casa Vida I e a Casa Vida II, para acolher crianças portadoras do vírus HIV.
Em março de 2023, ele também se juntou ao Fundo Fica, associação que promove acesso à habitação para famílias de baixa renda, para criar o projeto Morar Primeiro com o objetivo de abrigar famílias em situação de rua em São Paulo.
Devido a sua atitude em relação à população de rua, padre Júlio é reconhecido nacional e internacionalmente, tendo ganhado diversos prêmios de Direitos Humanos, além de ser reconhecido como Doutor Honoris Causa pela Universidade São Judas Tadeu, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Padre Júlio também já foi chamado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para falar sobre direitos humanos e inspirou a criação de uma lei, batizada com o nome dele, que proíbe a construção de arquitetura hostil em espaços públicos.
No entanto, para a extrema direita brasileira, as ações de padre Júlio para oferecer dignidade à população vulnerável incomodaram. Nesta semana, vereadores da Câmara Municipal de São Paulo votaram pela instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra Júlio Lancelotti. Rubinho Nunes (União), autor da proposta, afirmou que a CPI tem como objetivo investigar as organizações não governamentais (ONGs) que atuam na Cracolândia.
Segundo ele, essas ONGs usam dinheiro público para promover uma “máfia da miséria”, que “explora os dependentes químicos do centro da capital”. Rubinho também chamou o pároco de “cafetão”, acusando-o de manter um mercado de “roubos e de prostituição”.
O texto da CPI afirma que ela tem “a finalidade de investigar as ONGs que fornecem alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento aos grupos de usuários que frequentam a região da Cracolândia”.
Em resposta, padre Júlio afirmou que não pertence “a nenhuma organização da sociedade civil ou organização não governamental que utilize convênio com o poder público municipal”.
A atividade da Pastoral de Rua é uma ação pastoral da Arquidiocese de São Paulo que, por sua vez, não se encontra vinculada, de nenhuma forma, às atividades que constituem o requerimento aprovado para criação da CPI em questão.