O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demitiu, neste terça-feira (30), o diretor adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alessandro Moretti. Após o avanço das investigações da Polícia Federal que apura o escândalo de espionagem ilegal do governo de Jair Bolsonaro (PL) por meio da agência, o Governo Lula avalia que não há clima para a permanência do diretor adjunto.
Uma das razões que contribuíram com o desgaste foi sua proximidade com Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, em exercício desse último cargo em 8 de janeiro de 2023.
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Moretti atuou como secretário-executivo da Segurança Pública do DF entre 2019 e 2021, na primeira gestão de Torres, e é acusado de vazar informações das investigações para Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da agência.
No governo Bolsonaro, ele foi diretor de Inteligência Policial e de Tecnologia da Informação e Inovação na Polícia Federal, além de diretor de Gestão e Integração de Informações da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), em 2020.
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Já na gestão Lula, Moretti foi colocado na estrutura da Abin pelo diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa, que já atuou no mesmo cargo no segundo mandato do petista.
Além de Moretti, outros sete diretores da agência serão substituídos, o que comprova a intenção do Governo Lula em “desbolsonarizar” a Abin. Em entrevista à CBN Recife nesta manhã, Lula já sinalizava que devia demitir Moretti da diretoria-adjunta da Abin.
"Tem um cidadão que é o que está sendo acusado que é o que mantinha relação com o Ramagem, inclusive relação que permaneceu já durante o trabalho dele na Abin. Se isso for verdade, não há clima para esse cidadão continuar na polícia", disse Lula sobre Moretti para a rádio.
Moretti será substituído por Marco Cepik, cientista político e atual chefe da Escola de Inteligência da Abin. Já foi diretor do Centro de Estudos Internacionais do Governo (cegov) em Porto Alegre.
“Nunca estamos seguros”
No governo, há quem defenda a demissão de toda a cúpula da Abin, incluindo o diretor-geral. Na entrevista, Lula falou da desconfiança da estrutura da agência.
"A gente nunca está seguro. O companheiro que eu indiquei para ser o diretor-geral da Abin [Luiz Fernando Corrêa] foi meu diretor-geral da PF entre 2007 e 2010. É uma pessoa que eu tenho muita confiança, e por isso chamei, já que eu não conhecia ninguém da Abin", declarou.
Ao jornalista Paulo Cappelli, do site Metrópoles, a Abin confirmou que Luiz Fernando Corrêa teve um encontro fora da agenda oficial com o antecessor, Alexandre Ramagen (PL-RJ), investigado pela PF por montar uma "Abin paralela".
Segundo a nota enviada ao site, não houve registro do encontro na agenda oficial por falha ou descuido do servidor responsável por dar publicidade às informações.
A Abin ainda afirmou que o encontro, ocorrido no dia 16 de junho foi "protoclar", para que Ramagem cumprimentasse Corrêa pelo cargo - a nomeação, no entanto, ocorreu em 30 de maio.
“A equipe de Relações Institucionais da Abin ou o próprio diretor-geral receberam ou reuniram-se no Congresso com 58 parlamentares em 2023”, disse a assessoria de imprensa da agência, ressaltando que é normal o diretor receber parlamentares, especialmente de deputados que integram a Comissão de Controle de Atividades de Inteligência, da qual Ramagem faz parte.