As relações entre a extrema direita brasileira e o Estado genocida de Israel ficaram ainda mais evidentes após vir a público o escândalo de espionagem da Abin paralela de Bolsonaro, que usou o software FirstMile, da empresa israelense Cognyte, para espionar pelo menos 30 mil jornalistas, juristas, militantes sociais, políticos e professores contrários ao seu governo. A novidade, publicada por Jeferson Miola na Jacobin Brasil, é que não foi a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) o principal cliente da empresa, mas o próprio Exército.
Caio Santos Cruz, filho do general Santos Cruz, foi o representante da Cognyte no Brasil entre 2016 e 2023, período que as vendas da empresa estouraram no país. Além disso, o embaixador em Israel nomeado por Bolsonaro também foi um general: Gerson Menandro – removido do cargo em janeiro de 2023 pelo Itamaraty.
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De acordo com a pesquisa de Miola, a participação do Exército nos esquemas de espionagem ilegal de “inimigos internos” ficou ofuscada pelo excesso de atenção sobre a versão civil do escândalo, na Abin. Em seu artigo, ele se dedica a explicar a raiz do envolvimento dos militares com a Cognyte, que remonta de 2016, quando Michel Temer (MDB) assumiu o Planalto no lugar da golpeada Dilma Rousseff (PT). Ele lembra o papel dos generais Villas Bôas e Etchegoyen na derrubada de Dilma.
À época chamada de Verint Systems Ltd, a atual Cognyte Technologies Ltd multiplicou em 23 vezes o seu faturamento no Brasil durante o governo Temer. O primeiro contrato da empresa data de 2014, no Governo Dilma, e estava na casa dos R$ 2,6 milhões de reais. Entre 2016 e 2018, a somatória dos contratos subiu para R$ 60 milhões, incluindo o contrato com a Abin que hoje é devassado. Já no período Bolsonaro (2019-2022), os valores ficaram na casa dos R$ 53 milhões. No atual governo, contratos para o Exército e a Aeronáutica já somam R$ 11,6 milhões para os cofres da Cognyte.
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Durante o governo Dilma Rousseff, o total dos contratos era referente ao Exército. No período Temer, metade dos R$ 60 milhões gastos com a Cognyte também vinculavam a empresa israelense ao Exército. Já no governo Bolsonaro, dos R$ 53 milhões dos contratos com a Cognyte, 45 tiveram como destinatário, novamente, o Exército.
O montante da Abin, “de apenas” R$ 14 milhões, foi contratado durante o governo Temer. Já em relação ao Exército, a somatória dos últimos 10 anos está avaliada em cerca de R$ 82 milhões. Se somarmos contratos com a Aeronáutica, o montante relativo às Forças Armadas chega a mais de R$ 87 milhões.
O total gasto com a Cognyte desde 2014 foi de R$ 127 milhões. Os valores foram obtidos via Portal da Transparência, o que significa que talvez não sejam os valores totais da trama.
“Apesar de o Exército ser, de longe, o maior cliente da Cognyte, o mundo desabou só sobre a ABIN. E está sendo estimulado o confronto corporativo entre funcionários da ABIN e da PF, o que aumenta a distração em relação aos militares. Até mesmo a PRF, dirigida por um bolsonarista fanático, contratou mais serviços da Cognyte que a ABIN. Enquanto a mídia se distrai com os atores coadjuvantes, os generais se divertem, decerto reunidos no Alto Comando sorvendo um uísque superfaturado e envelhecido 24 anos”, escreveu Miola.
O articulista ainda aponta que o Exército, e em especial o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Bolsonaro, chefiado pelo general Augusto Heleno, teriam tido um papel central no escândalo de espionagem. Os militares teriam vencido a disputa interna no bolsonarismo em torno do software. Em 2019, enquanto Santos Cruz pressionava para a compra do produto vendido pelo filho, Carlos Bolsonaro advogava pela compra do Pegasus, também israelense, mas muito mais agressivo que o FirstMile. Venceram os militares. E aparentemente estão ganhando outra vez.