Ex-comandantes do Exército e da Marinha que exerceram cargos na cúpula do Governo Bolsonaro teriam fraudado convites da iniciativa privada para adquirir o benefício da “quarentena”, que prevê o recebimento de um salário extra por cerca de três meses. A informação foi publicada nesta terça-feira (16) pelo Estadão.
A quarentena para militares é um benefício que busca diminuir os riscos de que servidores de alta hierarquia utilizem de informações privilegiadas e do tráfico de influências para beneficiar empresas privadas após suas saídas das instâncias de governo e Estado. É por isso que ao apresentarem propostas de emprego da iniciativa privada à Comissão de Ética Pública (Cep) da Presidência da República os militares recebem o salário por seis meses e ficam impedidos de atuar na empresa que fez a proposta durante o período.
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Entre os militares que fizeram o pedido à Cep estão o general Marco Antônio Freiro Gomes, comandante do Exército entre março e dezembro de 2012; e o almirante Almir Garnier Santos, comandante da Marinha entre abril de 2021 e dezembro de 2022. O problema é que as empresas simplesmente negam que tenham feito tais propostas aos militares.
Freire Gomes, que teria impedido o desmonte do acampamento golpista no QG de Brasília, recebeu convite para participar do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin), segundo a consulta feita à CEP em 20 de março do ano passado, três meses após deixar o comando do Exército.
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Após a Cep determinar a continuidade da quarentena, Freire Gomes recebeu um pagamento de R$ 58.690,42 brutos como civil, além de R$ 37.792,02 que ele recebe como general da reserva. A Abrablin, no entanto, informou ao Estadão que “Marco Antônio Freire Gomes não faz parte do quadro da associação, bem como não houve qualquer tipo de convite ou sondagem para isso".
Já o almirante Almir Garnier, que teria colocado as tropas à disposição de Bolsonaro para um golpe, diz ter recebido proposta para trabalhar como consultor no Sindicato Nacional das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Simde). No suposto convite apresentado à Comissão, o Simde chega a elogiar o “notório conhecimento” de Garnier sobre assuntos afetos à defesa.
De março a junho de 2023, Garnier recebeu R$ 107.084,88 brutos, como civil, relativos ao período de quarentena. Como militar da reserva, ele recebe ainda R$ 35.967,57 mensais. O sindicato também teria feito o convite ao general Luiz Eduardo Ramos com o mesmo teor.