EX-COMANDANTES

Militares do Governo Bolsonaro teriam fraudado convites da iniciativa privada por salário, diz jornal

Oficiais tiveram benefício da “quarentena”, que serve para evitar tráfico de influência, aprovado na Comissão de Ética Pública da Presidência da República; Empresas negam propostas

Bolsonaro e Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército.Créditos: Estevam Costa/PR
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Ex-comandantes do Exército e da Marinha que exerceram cargos na cúpula do Governo Bolsonaro teriam fraudado convites da iniciativa privada para adquirir o benefício da “quarentena”, que prevê o recebimento de um salário extra por cerca de três meses. A informação foi publicada nesta terça-feira (16) pelo Estadão.

A quarentena para militares é um benefício que busca diminuir os riscos de que servidores de alta hierarquia utilizem de informações privilegiadas e do tráfico de influências para beneficiar empresas privadas após suas saídas das instâncias de governo e Estado. É por isso que ao apresentarem propostas de emprego da iniciativa privada à Comissão de Ética Pública (Cep) da Presidência da República os militares recebem o salário por seis meses e ficam impedidos de atuar na empresa que fez a proposta durante o período.

Entre os militares que fizeram o pedido à Cep estão o general Marco Antônio Freiro Gomes, comandante do Exército entre março e dezembro de 2012; e o almirante Almir Garnier Santos, comandante da Marinha entre abril de 2021 e dezembro de 2022. O problema é que as empresas simplesmente negam que tenham feito tais propostas aos militares.

Freire Gomes, que teria impedido o desmonte do acampamento golpista no QG de Brasília, recebeu convite para participar do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin), segundo a consulta feita à CEP em 20 de março do ano passado, três meses após deixar o comando do Exército.

Após a Cep determinar a continuidade da quarentena, Freire Gomes recebeu um pagamento de R$ 58.690,42 brutos como civil, além de R$ 37.792,02 que ele recebe como general da reserva. A Abrablin, no entanto, informou ao Estadão que “Marco Antônio Freire Gomes não faz parte do quadro da associação, bem como não houve qualquer tipo de convite ou sondagem para isso".

Já o almirante Almir Garnier, que teria colocado as tropas à disposição de Bolsonaro para um golpe, diz ter recebido proposta para trabalhar como consultor no Sindicato Nacional das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Simde). No suposto convite apresentado à Comissão, o Simde chega a elogiar o “notório conhecimento” de Garnier sobre assuntos afetos à defesa.

De março a junho de 2023, Garnier recebeu R$ 107.084,88 brutos, como civil, relativos ao período de quarentena. Como militar da reserva, ele recebe ainda R$ 35.967,57 mensais. O sindicato também teria feito o convite ao general Luiz Eduardo Ramos com o mesmo teor.