EXÉRCITO

8/1: General adiou prisões em acampamento para permitir fuga de kids pretos, diz Chico Teixeira

Professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército fala das ações das Forças Armadas na tentativa de golpe contra Lula

Kids pretos tiveram participação nos atos golpistas, mas não foram punidosCréditos: Fellipe Sampaio/SCO/STF
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Em entrevista ao programa Fórum Café desta sexta-feira (12), o historiador Chico Teixeira, professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, da UFRJ e da UFJF, falou sobre a participação das Forças Armadas no 8/1.

O especialista em ciências militares conversou com a Fórum um ano depois dos atos de 8 de janeiro e não hesita em dizer que houve participação militar na tentativa de golpe.

"Já falei em participação ativa e em partição por omissão", explicou o professor. "Mas existem mais. Em primeiro lugar, entre aquelas pessoas que estavam quebrando Brasilia, havia inúmeros elementos vindos das Forças Armadas, os chamados kids pretos, então teve uma ação direta", afirmou Chico.

Kids pretos é o nome que se dá ao grupo de forças especiais do Exército Brasileiro. O EB nega a participação deles nas ações do 8 de janeiro, mas a Polícia Federal afirma que eles estiveram envolvidos nos atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes.

O general da Reserva Ridauto Lúcio Fernandes, que participou dos atos golpistas e é investigado pela Operação Lesa Pátria, é identificado como um dos membros do grupo presentes no 8/1.

"Esses kids pretos correram para se refugiar na Praça dos Cristais, onde estava armado o acampamento dito patriótico. e quando o Ricardo Capelli [secretário executivo do MJ] deu ordem de prisão a esses elementos via PF, o então omandante do Exército General Arruda desdobrou blindados na rua e impediu a entrada da PF na Praça dos Cristais, inclusive fazendo ameaças de que iria correr sangue", relembra o professor.

"Isso gerou um enfrentamento entre o ministro Flávio Dino e o General Arruda aos berros, com o Arruda ameaçando o Dino, inclusive em algum momento o Dino teve temor de que seria preso ali", afirma. 

O Exército segurou as prisões para salvar seus amigos e familiares, com a anuência de José Múcio Monteiro e Gonçalves Dias.

"Assim mesmo, o Comandante do Exército ligou para o General Gonçalves Dias [então ministro do Gabinete de Segurança Institucional], que junto com o José Múcio Monteiro, falaram com o Lula para não fazer as prisões, esperar para o dia seguinte, para dar tempo para que esses kids pretos e as esposas de militares que estavam lá pudessem sair das praças", reitera o professor.

Os militares, então, segundo Chico, agiram diretamente através dos kids pretos e para protegê-los, fornecendo o tempo necessário para o escape das tropas.

"Há ainda algumas participações que não esclarecemos ainda. Essa do General Arruda, então Comandante do Exército... É claramente uma ilegalidade ele ter colocado blindados na rua para defender depredadores. Mas também o Comandante Militar do Planalto, Gal. Dutra, que tinha todos os meios para evitar o que aconteceu e nada fez. Pior de tudo, o Coronel Fernandes da Hora, o Comandante da Guarda Presidencial do Planalto, que tinha a dispor dele 900 homens que ficaram acantonados na garagem do prédio anexo e nada fizeram para conter a invasão. Esses militares não foram acusados de nada", afirma Chico.

Um ano depois, impunes, os militares seguem, inclusive, tendo poder dentro do governo e dentro do Congresso Nacional e poucos deles sequer foram investigados pelo 8 de janeiro.

Confira a entrevista de Chico Teixeira ao Fórum Café desta sexta-feira: