OPINIÃO

General Heleno, o durão mansinho – Por Chico Alencar

Mesmo tentando se fingir de morto, ficou evidente que a articulação golpista tem suas digitais

Créditos: Geraldo Magela/Agência Senado
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O general Augusto Heleno, extremista linha dura, expoente militar do finado governo Bolsonaro, deu um show de mau comportamento na CPMI dos atos golpistas. Mentiu, saiu pela tangente, ficou caladinho quando o assunto era incômodo. Disse que não sabia de nada, não se reuniu com ninguém e não viu tentativa de golpe. “Só soube das coisas assistindo TV", disse, transbordando cinismo.

Nem mesmo assumiu seu apoio ao golpe empresarial-militar de 1964, que estabeleceu a censura, fechou o Congresso, instituiu a tortura e a morte de presos políticos. Foi preciso lembrar a ele de que foi, à época, ajudante de ordens do general linha-dura Silvio Frota, que tentou dar um golpe dentro do golpe – contra o presidente Geisel e seu projeto de abertura lenta e gradual.

Para defender o capitão, o general tentou desqualificar a delação do tenente coronel Mauro Cid. "Nem nas reuniões com os chefes militares ele ia", afirmou. Foi desmentido por uma foto onde Cid está bem atrás dele, em reunião palaciana com a cúpula militar. Para não admitir que mentiu, disse que o ex-ajudante de ordens "foi, mas não opinou, não votou, nada". Esqueceu que para denunciar trama golpista basta ouvir. Patético.

Mesmo tentando se fingir de morto, ficou evidente que a articulação golpista tem suas digitais também. Seu alegado desconhecimento sobre qualquer movimentação nos dias que antecederam o 8 de janeiro não bate com a realidade. O ex poderoso chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), após o fracasso da tentativa de golpe, agora só quer se livrar de qualquer acusação. Colocou o rabo entre as pernas.

Mas teve um momento em que o general perdeu a linha: questionado pela senadora Eliziane Gama, acabou se irritando e soltou palavrões, ofendendo a parlamentar, que é a relatora da CPMI.

Vale lembrar que quem propôs a CPMI foram os bolsonaristas do Congresso, na tentativa de emparedar o governo Lula com a tese esdrúxula de que foram militantes de esquerda infiltrados que promoveram o quebra-quebra. Mas, com os trabalhos da CPMI se encaminhado para o fim, quem se encontra agora acuados são os integrantes do governo passado e seus apoiadores.

Resumo da ópera: o depoimento do general, tão aguardado pelos congressistas bolsonaristas, que o têm em alta conta, mostrou novamente o que foi o governo Bolsonaro: machista, mentiroso, com desprezo às instituições e cheio de militares e civis que urdiram um golpe contra a democracia.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.