O procurador-geral da República, Paulo Gonet, demitiu Antônio Rio Palhares, funcionário da Procuradoria-Geral da República (PGR) que teria enviado mensagens de teor golpista contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e disseminado notícias falsas pelo WhatsApp. Palhares também foi automobilista nas décadas de 1980 e 1990.
Citado em um relatório da Polícia Federal, Palhares era um funcionário comissionado no Ministério Público e integrava a PGR desde 2020, sendo aliado do antecessor de Gonet, o bolsonarista Augusto Aras. Ele atuava na Secretaria de Segurança Institucional, cargo vinculado à chefia de gabinete da PGR, com remuneração mensal de R$ 5,2 mil.
Te podría interesar
A exoneração foi publicada no Diário Oficial da União no dia 2 de janeiro, assinada por Cleuber Delano José Lisboa Filho, secretário-executivo do Ministério Público da União (MPU).
As mensagens golpistas
Em agosto de 2022, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão contra oito empresários sob suspeita de compartilhamento de mensagens em defesa de intervenção no Estado Democrático de Direito. Autorizada pelo ministro do Supremo, Alexandre de Moraes, a ação trouxe à tona a íntima relação de Augusto Aras com o grupo investigado.
Te podría interesar
Moraes pediu pela quebra de sigilo telefônico e telemático dos participantes do grupo, além de verificar a participação deles no financiamento dos atos de 7 de setembro.
Ao analisar o celular de Meyer Nigri, fundador e dono da Tecnisa, as investigações encontraram trocas de mensagens com intenções golpistas entre o empresário e Palhares. Nigri era membro do grupo de WhatsApp "Empresários & Política", em que estavam presentes empresários que defendiam um golpe de Estado no país caso Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fosse eleito presidente.
A Polícia Federal encontrou mensagens em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ordenou a Migri que propagasse uma mensagem com ataques a Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo, e ao sistema eleitoral. "Repasse ao máximo", destaca Bolsonaro, em caixa alta. O perfil usado pelo ex-presidente foi identificado como PR8.
Luciano Hang (Havan), Afrânio Barreira Filho (Coco Bambu), Ivan Wrobel (W3 Engenharia) e Marco Aurélio Raymundo (Mormaii) eram alguns dos nomes no inquérito das milícias digitais que compunham o grupo.
Em setembro de 2022, a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araujo, pediu STF que anulasse as investigações contra os oito empresários bolsonaristas. Para Lindôra, faltaram requisitos legais para a autorização da operação, além de desproporcionalidade e ilicitude na cola de provas. Ela defendeu que houve um constrangimento ilegal dos empresários.
De acordo com relatórios da PF, Palhares também teria organizado e intermediado encontros entre Nigri com membros da PGR, além de ter oferecido um carro da procuradoria para conduzir o empresário em Brasília.
"A investigação também identificou a atuação direta de Meyer Nigri na divulgação de conteúdos demonstradamente falsos, os quais, conforme mensagens expostas ao longo do relatório, seriam sequencialmente difundidas por Niko Palhares, servidor comissionado da Procuradoria-Geral da República."
Em abril de 2022, a conversa entre Palhares e Meyer Nigri tratava de uma tentativa de encontro entre ministros do STF com o então presidente Jair Bolsonaro. Agendada para agosto de 2021, a reunião foi cancelada devido aos ataques de Bolsonaro ao Judiciário.
Palhares escreveu que somente as Forças Armadas poderiam conter a atuação do Supremo: "Quando mexeram com o Exército, e os generais responderam à altura, vejam o sabão que deram. Vão ver como a coisa vai mudar, só quem pode colocar o STF no seu [lugar] segundo a Constituição são as Forças Armadas".
O funcionário da PGR encaminhou um vídeo ao empresário, no qual o ministro Luiz Fux, da Corte, era entrevistado sobre a tentativa de diálogo com o ex-presidente em agosto de 2021. "Foi só os militares baterem os coturnos mais forte e o presidente do STF Luiz Fux foi pedir 'penico' a Bolsonaro", dizia a legenda final da mensagem.
Segundo investigação da PF, a mensagem escrita e o vídeo "passaram, de forma falsa, a mensagem de que as Forças Armadas teriam intimidado o STF".
Disseminação de fake news
Palhares também integrava um grupo de WhatsApp de apoiadores de Bolsonaro e pedia que Meyer Nigri encaminhasse as mensagens enviadas pelo então presidente para que repassasse aos seus contatos. O empresário consentiu, ao que o funcionário da PGR respondeu que disseminaria para seus contatos.
Em agosto de 2022, a menos de dois meses das eleições presidenciais, Palhares pediu por uma indicação para trabalhar na campanha eleitoral de Bolsonaro, que buscava a reeleição. Em áudio obtido pela PG, ele envia a Nigri: "Se quiser me dar alguma coisa, me dê, entendeu? Pronto, eu quero é trabalhar, trabalhar para a gente ganhar".
"Seu Meyer, o senhor é meu irmão de coração, cara. Gosta do senhor desde o dia que eu te conheci, certo? Eu me emociono. Mas eu preciso trabalhar para o presidente. Eu não quero ficar na PGR tomando conta de agente e resolver problema de Aras, entendeu? Não quero. Eu quero estar com o presidente, eu quero trabalhar e mostrar o meu trabalho e depois num futuro, é outro mundo. Se não quiser me dar nada, não quero. Se quiser me dar alguma coisa, me dê, entendeu? Pronto, eu quero é trabalhar, trabalhar para a gente ganhar."
O que dizem Palhares e Nigri
Procurado pela UOL, Nigri informou que não comentará sobre o assunto: "Melhor ficar calado, isso ocorre sempre que há mudanças".
Por sua vez, a defesa de Meyer Nigri afirmou que o empresário "explicou que não tinha nenhum relacionamento com tal pessoa". Segundo o advogado Alberto Toron, Nigri foi questionado pela PF acerca dos diálogos com Palhares e que recebia inúmeras mensagens, de modo que "não deu maior atenção" às do funcionário da PGR.
*Com informações da Uol.