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Na CPI, Heleno é indagado sobre neonazistas, omissão a Lula e áudios incitando golpe

Perícia revelada pela Fórum mostra que áudios que incitaram golpistas após a derrota de Bolsonaro nas eleições seriam do general que chefiou o Gabinete de Segurança Institucional

Augusto Heleno.Créditos: Cleia Viana/Câmara dos Deputados
Escrito en POLÍTICA el

Braço direito e um dos principais aduladores de Jair Bolsonaro (PL) na caserna, o general Augusto Heleno presta depoimento nesta terça-feira (26) à CPMI dos Atos Golpistas onde será indagado sobre a presença de neonazistas entre os apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) no 8 de janeiro, a omissão de relatórios ao governo Lula e os áudios revelados pela Fórum que, segundo peritos, mostram que o militar incitou os golpistas.

Reportagem de Henrique Rodrigues, publicada nesta quinta-feira (25) na Fórum, revelado um laudo técnico produzido por acadêmicos da Universidade Federal do ABC (UFABC) e da Universidade de São Paulo (USP) que diz que Heleno seria o autor de áudios incitando golpistas a se rebelarem contra a vitória de Lula nas urnas.

No primeiro áudio atribuído a Heleno, o general repete fake news conhecidas, como a do ministro Luís Roberto Barroso, do STF, que teria dito que “eleição não se ganha, se toma”, algo já amplamente desmentido, sendo fruto de uma descontextualização proposital de uma declaração do magistrado em que ele narrava algo dito em tom de piada numa conversa com um senador da República que falava sobre os problemas eleitorais históricos em seu estado natal. Na sequência, o militar aposentado segue com bravatas e ameaças explícitas, ataca Lula com ofensas e insiste que o petista não será empossado.

Já no segundo arquivo difundido nas redes bolsonaristas, Heleno é ainda mais enfático em sua retórica golpista e apela para mentiras como uma imaginária fraude eleitoral e uma surreal acusação contra Lula, que segundo ele “não poderia ser candidato” e não teria “apresentado certidão alguma” à Justiça Eleitoral, algo totalmente falso. As ameaças golpistas por meio das Forças Armadas são diretas e claras. Ele chega a dizer que “nem tudo está consumado”, mesmo passada a eleição, e que “as coisas não estão bem e não vão sair bem como aqueles que pensam que ganharam”.

OUÇA: Laudo de áudios mostra que general Heleno agiu por golpe de Estado

Lula sobe a rampa?

No dia 18 de dezembro, quando Bolsonaro teria se reunido para apresentar uma minuta golpista aos comandantes das Forças Armadas, Heleno esteve com o ex-presidente e foi indagado por bolsonaristas se "o bandido sobe a rampa".

"Não", respondeu Heleno após visita a Bolsonaro no Palácio da Alvorada.

A resposta de Heleno vai ao encontro do que foi repassado ao jornalista Henrique Rodrigues, da Fórum, pelo agente da Polícia Federal lotado na Presidência que, em condição de anonimato, relatou em detalhes uma reunião ocorrida no Anexo I do do Palácio do Planalto, de onde despacha o chefe de Estado, na manhã de quinta-feira (15).

"O falatório do pessoal, não dos militares, aqui na saída, é sobre uma suposta mensagem cifrada aí, de que vão impedir o Lula de tomar posse e essas coisas, porque dizem os servidores que estão também nos grupos do Ministério da Defesa que estão orquestrando um monte de coisas, mandando mensagens e pedidos pros generais, pra impedir a posse", narrou o servidor da PF em tempo real à Fórum - veja aqui.

Neonazistas

Heleno também deve ser indagado sobre relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que alertou sobre a presença de grupos neonazistas e supremacistas brancos entre apoiadores de Bolsonaro que promoveram atos pelo país pedindo um golpe de Estado após a vitória de Lula nas eleições de outubro de 2022.

"Alguns grupos neonazistas demonstram interesse em associar narrativas supremacistas a movimentos de contestação dos resultados eleitorais e adotam discursos que dialogam com pautas de outros movimentos para recrutar novos adeptos e promover ações violentas contra autoridades, instituições e agrupamentos antagônicos", diz um dos relatórios.

Os documentos foram elaborados em 25 de novembro e 1º de Dezembro de 2022 e foram encaminhados à Polícia Federal e à Polícia Civil do Rio Grande do Sul.

Ao menos um dos relatórios, que falava sobre "Perspectiva de ação violenta por atores extremistas no contexto da posse presidencial”, produzido em 27 de dezembro pela Abin, não foi enviado para conhecimento do governo de transição de Lula.

A Abin afirmava que os extremistas eram de "movimentos de deslegitimação do Estado e supremacistas brancos e neonazistas".

“Observam-se (…) iniciativas de espelhamento de movimentos originados no exterior e importação de agendas políticas e narrativas conspiratórias (…), o que eleva a preocupação em relação à ocorrência de incidentes como a invasão do Capitólio”, diz o texto, lembrando da invasão de apoiadores de Donald Trump ao legislativo nos EUA.

O relatório omitido do governo afirmava que poderia ocorrer:

  • atos de vandalismo e dano à propriedade pública e privada;
  • ação contra caravanas que chegam para a posse;
  • ataques contra opositores em diferentes pontos de Brasília;
  • conflitos pontuais entre grupos antagônicos, de forma não premeditada;
  • invasões ou bloqueios de prédios, espaços públicos e infraestruturas críticas;
  • invasão do espaço reservado para a cerimônia de posse e demais eventos; e
  • confronto contra forças de segurança.

Heleno e Bolsonaro também omitiram do governo de transição os informes “Indivíduos envolvidos em atos de violência em Brasília/DF” e “Ameaças contra aeroportos no contexto da sucessão presidencial”, ambos de 29 de dezembro, véspera da viagem do ex-presidente aos EUA.