LEVANTAMENTO

A gastança de Bolsonaro com passagens aéreas pagas com dinheiro público depois do mandato

Ex-presidentes no Brasil têm direito a bilhetes pagos pelo governo; ele comprou várias delas com o preço lá em cima; entenda

Jair Bolsonaro classificou todas as viagens como "urgentes" e abusou do dinheiro público.Créditos: Agência Brasil/Tânia Rego
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Jair Bolsonaro tem realizado caros custos aos cofres públicos desde que deixou a presidência da República. Uma análise realizada pela agência Intercept Brasil revela que todas as viagens realizadas pelo ex-presidente desde janeiro de 2023 foram classificadas como ‘urgentes’. Os dados foram obtidos pelo Portal da Transparência.

Esta classificação é aplicada quando a solicitação para emissão de passagens e diárias é feita com menos de 10 dias de antecedência à viagem. Logo, isso resultou em um aumento significativo no preço dos bilhetes pagos por Bolsonaro. Foi exatamente isso que aconteceu com ele nas últimas 12 vezes.

Uma decisão do Tribunal de Contas da União e uma instrução normativa do Ministério do Planejamento sugerem que a reserva de passagens deve ser informada com pelo menos 10 dias de antecedência da data do voo, com o objetivo de garantir que a administração pública gaste o menor valor possível com os deslocamentos.

Embora a regra seja desrespeitada com certa frequência, há situações em que o governo pode ser obrigado a realizar viagens urgentes. Isso pode ocorrer em resposta a eventos climáticos, desastres naturais ou atividades políticas que tenham caráter emergencial.

A classificação de ‘urgência’ para viagens é normalmente reservada para casos excepcionais e requer uma justificativa a ser enviada ao Sistema de Concessão Diárias e Passagens. Esta é uma estrutura do governo federal criada especificamente para emitir bilhetes e gerenciar viagens a serviço. Atualmente, está sob a supervisão do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, liderado por Esther Dweck.

Passagens muito caras

No caso de Bolsonaro, a justificativa para a classificação de urgência foi praticamente idêntica nas 12 viagens realizadas em 2023, com pequenas variações. ‘A autoridade assumiu um compromisso não previsto’, foi a justificativa para todas as razões.

No entanto, no caso de Bolsonaro, que já não está mais no governo, a evasão das diretrizes do TCU e do próprio Executivo tornou-se a norma. Isso resulta em um aumento nos custos das passagens, tornando os valores das rotas mais comuns particularmente notáveis. A rota frequente entre Brasília e São Paulo é o exemplo mais emblemático.

Os bilhetes de ida e volta podem ser adquiridos por menos de R$ 1 mil quando as passagens são compradas com antecedência. No entanto, a comitiva de Bolsonaro já chegou a pagar mais de R$ 5 mil pela soma de ida e volta na mesma rota. Em viagens para Belo Horizonte, o valor das passagens chegou a R$ 3,7 mil, enquanto para o Rio de Janeiro, o custo foi de R$ 3,2 mil para cada passagem.

As informações obtidas pela Intercept foram adquiridas através da consulta às viagens a serviço realizadas por um dos assessores diretos do ex-presidente, Marcelo Costa Câmara, visto que as viagens do ex-presidente não são prontamente disponibilizadas no Portal da Transparência.

Quantidade de passageiros aumenta o valor e foi mais de um…

O assessor esteve presente em todas as 12 viagens realizadas pelo ex-presidente este ano. Câmara também está sendo investigado em um escândalo de desvio de joias presidenciais. O custo adicional das passagens é amplificado pelo tamanho da comitiva que acompanha Bolsonaro. Assim como Câmara, os assessores Ricardo Dias dos Santos, Estácio Leite da Silva e Max Guilherme Machado Moura também foram junto de Bolsonaro parte das viagens.

Com base nos dados disponíveis, não é possível determinar o tamanho exato das comitivas que acompanharam o ex-presidente, nem o prejuízo total que o atraso na comunicação ao Executivo causa aos cofres públicos. A falta de transparência dificulta a avaliação completa do impacto financeiro dessas viagens aéreas.

Quais os direitos dos ex-presidenciáveis?

Os ex-presidentes da República têm acesso a uma série de privilégios garantidos por lei no país. Embora não seja amplamente conhecido, quando o líder do Executivo deixa o Palácio do Planalto pela última vez, ele não vai sozinho. 

Ele tem direito a quatro seguranças para sua proteção, dois veículos oficiais acompanhados de motoristas e até dois servidores ocupando cargos comissionados para auxiliá-lo em suas tarefas. Esses benefícios acompanham o ex-presidente após o término de seu mandato.

Conforme estabelecido pela legislação, os ex-presidentes também têm direito a passagens aéreas e diárias de hotel quando viajam. Além disso, as regalias incluem o pagamento das despesas de combustível dos veículos utilizados pelos ex-mandatários.

Com informações do Intercept Brasil