O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou homenagem à Maria Bernadete Pacífico, de 72 anos, a Mãe Bernardete, durante discurso na Assembleia Nacional de Angola, em Luanda, nesta sexta-feira (25).
A líder quilombola foi assassinada com 22 tiros no dia 17 de agosto no Quilombo Pitanga dos Palmares, localizado no município baiano de Simões Filho, Bahia.
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Aproveito esta sessão solene, na Assembleia Nacional de Angola, para prestar minha homenagem à grande Bernadete Pacífico, líder quilombola que atuou corajosamente pela defesa de sua comunidade na Bahia. Bernadete foi vítima da intolerância dos que querem calar os mais vulneráveis
O presidente destacou ainda a luta contra a escravidão como um dos momentos cruciais na busca pela liberdade e pelos direitos humanos no Brasil. Ele enfatizou que essa dolorosa ferida em nossa história afetou milhões de africanos, deixando um legado de desigualdade social e preconceito no país. O combate a esse legado, afirmou Lula, representa um objetivo primordial de seu governo.
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Contraponto à fala do governador da Bahia
A fala de Lula contrasta com as recentes declarações do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), que em conversa com jornalistas na segunda-feira (21) comentou que a Polícia Civil baiana trabalha com três teses para o assassinato da ialorixá Bernadete Pacífico. Além das hipóteses de briga por território e intolerância religiosa, a mais destacada é a de disputa de facções criminosas.
Embora o governador não tenha deixado claro o possível motivo do envolvimento de facções criminosas no caso, já que Mãe Bernadete não tinha envolvimento com o tráfico de drogas, a fala dele causou reação negativa entre os defensores dos direitos humanos e também do advogado de defesa da líder quilombola.
O advogado Leandro Santos, que representa a família de Bernadete Pacífico, classificou como "canalha" a afirmação do governador da Bahia de a morte dela pode ter relação com a disputa de facções criminosas.
Relações Bilaterais
Durante sua participação na Assembleia Nacional de Angola, Lula também ressaltou as oportunidades na relação bilateral entre os dois países.
Muito já foi dito sobre os laços que unem o Brasil e Angola, seja na música, na dança, na capoeira, na gastronomia e no futebol. No entanto, temos o potencial para expandir além desse notável vínculo cultural. Buscamos um desenvolvimento genuíno, que demanda a erradicação da pobreza, a promoção da inclusão social, o oferecimento de educação de qualidade e a melhoria dos serviços de saúde para nossas populações. Além disso, almejamos fortalecer continuamente a democracia e os direitos humanos, tanto em nossos países quanto na governança global.
Também nesta sexta, Lula teve um encontro com o presidente de Angola, João Manuel Lourenço. Durante a reunião, ambos os países firmaram sete acordos de cooperação abrangendo diversas áreas, incluindo o desenvolvimento agrícola de Angola.
Desejamos inaugurar uma nova era de colaboração com Angola. No passado, contribuímos com o financiamento de projetos de infraestrutura rodoviária, saneamento, fornecimento de água e geração e distribuição de energia elétrica. O Brasil possui a capacidade de novamente se tornar um importante parceiro para Angola. Uma parceria que promova o desenvolvimento através do fortalecimento da agricultura e da indústria, avanços científicos e tecnológicos, transição energética, e a preservação do meio ambiente e da biodiversidade.
Lula também mencionou o incremento do fluxo comercial entre Brasil e Angola, que retomou seu crescimento após sete anos de estagnação. Apenas no primeiro semestre de 2023, o comércio registrou quase 65% de aumento em relação ao mesmo período de 2022. Lula ressaltou a importância de diversificar o comércio, que ainda permanece fortemente centrado em petróleo e matérias-primas, com a recém-criada Câmara de Comércio Brasil-Angola desempenhando um papel relevante nesse processo.
Angola é o único país do continente africano, além da África do Sul, com o qual o Brasil mantém uma parceria estratégica. O acordo foi estabelecido em 2010, durante o segundo mandato de Lula.
Agenda
Lula participa ainda do encerramento de um seminário com empresários dos dois países. O evento reúne uma delegação de aproximadamente 60 representantes de empresas brasileiras atuantes em setores como alimentos, produtos farmacêuticos, aviação e máquinas agrícolas, entre outros.
Lula chegou ao continente africano na última segunda-feira (21). Sua primeira parada foi na África do Sul, onde participou da 15ª Cúpula de Chefes de Estado do Brics, grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Nos dias de hoje e amanhã (26), ele está em Angola e, no domingo (27), está programado sua presença em São Tomé e Príncipe, onde participará da conferência de chefes de Estado da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).